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    As correntes de ar se contorciam como serpentes invisíveis quando Dante disparou para o céu, o corpo envolto pela rotação intensa da Energia Cósmica. Lá em cima, o Felroz aguardava com olhos incandescentes, os dois chifres negros já completamente formados, gotejando uma fumaça densa que mais parecia rasgar o próprio tecido do ar.

    Eles se chocaram.

    O impacto gerou uma explosão sônica que varreu nuvens inteiras, despedaçando as que ousavam permanecer por perto. Punho contra punho. Cotovelo contra costela. Perna contra pescoço. Era um balé infernal feito de pura força, precisão e ódio. Dante sentiu o calor vibrar contra a pele à medida que o monstro trocava as formas de ataque. Mas ele estava pronto. Já havia enfrentado aberrações demais para recuar agora.

    A cada giro no ar, Dante alternava estilos: o Jeet Kune Do para os ataques diretos, o Capoeira para manter a fluidez entre os movimentos, e até uma adaptação do Muay Thai para cortar as articulações com joelhadas certeiras. Golpeava em ângulos que poucos humanos entenderiam. O Felroz, no entanto, não era qualquer criatura.

    Quando Dante tentou acertar um chute circular, a criatura invocou uma rajada de vento opressora, arremessando-o para trás. Em seguida, fez um gesto largo com as garras, e fragmentos de gelo surgiram em volta, dançando como navalhas. Dante cruzou os braços e atravessou as estacas em um impulso, ignorando os cortes que abriram seu ombro e lateral do abdômen. Ele girou o corpo e acertou um direto no queixo do Felroz, mas o monstro apenas sorriu, abrindo a boca com dentes envoltos por eletricidade.

    Vick falou em sua mente, fria como sempre — mas com uma pitada de alarme:

    A conversão da Energia Cósmica está em 51%… e subindo.”

    Dante ofegou no meio do giro, desviando de uma labareda de fogo que saiu da garganta do Felroz. O calor era real. A pele começava a arder. Ele socou o estômago da criatura com toda força, e a pressão explodiu em uma onda que fez os dois recuarem com a colisão.

    — Ainda não é suficiente — grunhiu Dante. — Ele está misturando todos os elementos… Parece que ele evoluiu igual os que enfrentei em Kappz.

    Ele está acessando as camadas instintivas da energia elemental. Diferente de você, que precisa canalizar, ele nasceu disso. Sua melhor chance seria acertá-lo em rajadas..”

    Dante fechou os punhos. O céu ao redor deles estava distorcido. A luz solar se retorcia, afetada pelas forças absurdas entre os dois. O vento já não soprava naturalmente — estava sendo arrastado para todos os lados.

    Podia não perceber, mas Caçadores e guerreiros de Selenor observavam aquela disputa com seus medos e esperanças na garganta. Um monstro saindo do fundo do inferno de frente contra um humano…

    Era completamente lunático e impensável.

    — Ei — gritou Dante. — Cansou? Pode vir.

    O Felroz libertou um grito de batalha ecoando por toda a planície. Dante deixou o eco arrastar-se, para então conversar com Vick:

    — Continue me avisando sobre a porcentagem. Deixe Nick e Lilo prontos. — A aura verde continuou forçando as duas feridas que tinha recebido no abdômen. Não doía mais, porém, precisava ficar longe de ser acertado ali de novo. — Me ajude com os movimentos dele, Vick.

    Positivo. Analisando todas as rotas que ele utilizou. Será uma mistura de enfrentar os Felroz com Veronica e Bastardo. Está pronto para enfrentar uma criatura dessa magnitude?”

    — Mais animado do que isso? Impossível.

    As asas do Felroz se distenderam num golpe só, como se rasgassem o próprio céu. O monstro subiu com uma força tão violenta que o chão rachou onde ele pisava. Dante, no mesmo instante, se lançou também, rasgando o ar em um ângulo oposto. Os dois se encontraram no meio do céu com um impacto que soltou faíscas e vento em todas as direções. Punho contra punho. Crânio contra chifre. A batalha tomava forma.

    Dante atacava com tudo que aprendera: capoeira para quebrar a base, karatê para a precisão, muay thai nos cotovelos, jiu-jitsu nas torções, kung fu para fluidos giros no ar, e até o boxe direto no queixo da criatura. Seus movimentos eram como uma coreografia de guerra.

    Mas o Felroz respondia com uma fúria mais ancestral. A cada soco, sua pele ganhava tonalidades diferentes — um soco flamejante, outro envolto em geada que queimava, outro ainda trazia o cheiro metálico da eletricidade. Elementos estavam sendo manipulados de forma crua, bruta. Como se a própria natureza o tivesse forjado para o combate.

    Dante girou, desviando de uma lança de pedra formada no ar, e desferiu um chute no maxilar da criatura. O Felroz se virou e respondeu com um estalo de dedos, fazendo jorrar vento como navalhas que cortaram parte da roupa do humano, mas ele havia escapado.

    Alerta: Conversão Cinética atingindo 59%. Se continuar nessa frequência, vai romper o limite antes do pico de exaustão. Precisa decidir agora.”

    — Ainda não. Ainda não é suficiente. Ele tá se esforçando também… essa é a dança que eu queria, Vick.

    Os dois subiram mais, voando como projéteis em direções opostas, apenas para se colidirem no centro do céu de novo. A atmosfera ao redor rugia com eles. E era como Dante imaginava as guerras que seu pai contava quando mais novo.

    Cada soco que recebia, cada pressão esmagadora do fogo ou da água ao seu redor rompia seu limite, colocando outro no lugar. Eles desapareciam dos olhos comuns, se tornando uma fagulha de poder e luz.

    O choque deles primeiro brilhava no tom roxo e vermelho, depois o som chegava aos ouvintes. E aos poucos, cada vez que Dante sorria ao ver o Felroz se dedicando tanto para acertá-lo, seus olhos piscavam e a imagem de Render aparecia.

    Ele precisava apenas de uma pequena vara de madeira para acabar com seus movimentos. Precisava de um sermão, de uma única fagulha de seu olhar decepcionado para atormetá-lo e fazer chegar ainda mais longe.

    A vida de Dante dependia das lutas… porque ele gostava disso. Amava isso. Se colocar ali, no momento para lutar por tudo o que era importante. Vick soava em seu ouvido, mas ele não escutava mais.

    Era praticamente uma dança simplória que controlava suas emoções. Desde que tinha enfrentado o primeiro, ele nunca deixou essa chama apagar. Ele queria mais… Moonlich, Bastardo, os Felroz, aqueles demônios gigantes do Abismo.

    O mundo inteiro foi forjado para uma luta sem fim entre as duas partes.

    O punho dele se fechou e seu sorriso ensanguentado criou uma tensão no inimigo. O Felroz não esperava ver um humano tão disposto, tão justo e honesto quanto suas emoções. Precisou solidificar seu braço para segurar um chute de cima.

    As escamas de pedra, concreto e ferro se quebraram no impacto. E o humano, de cabeça pra baixo, com aquela expressão animada não lhe deu trégua. Uma palma aberta separou seu dois braços, o fazendo abrir a defesa e seu dedo acertou o meio do seu peito.

    O impacto foi fraco, mas ainda acertou.

    Um Humano… tinha conseguido se igualar a ele. E antes de conseguir voltar para a luta, algo dentro dele foi bombardeado. Uma explosão de ar o acertou com tanta força, com tanto impacto, que abriu uma rachadura no meio do seu peito.

    Ele berrou… percebendo que não era o rugido de batalha. Era… dor.

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