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    O Felroz cambaleou quando a rachadura em seu peito se abriu. Um filete de luz púrpura escorreu da fenda, como um plasma vivo, serpenteando o ar antes de evaporar. Dante viu. Viu tudo. Aquilo não era sangue. Era Energia Cósmica condensada, sendo liberada em estado bruto.

    — Vick… o que é isso? — perguntou, girando no ar enquanto pousava brevemente num pico de rocha suspensa.

    Estou analisando. Há uma casca energética dentro do Felroz… e ela está rachando. Algo está tentando sair de dentro dele. Mas preciso de mais dados. Continue lutando.”

    Dante não respondeu. Apenas flexionou os joelhos, e lançou-se novamente ao combate.

    Como uma bala viva, ele cortou os ventos e atingiu o Felroz com um gancho ascendente no queixo. O impacto estalou o ar ao redor como um trovão repentino. A criatura recuou, mas respondeu com as mãos envoltas em magma — uma torrente de fogo que explodiu para os lados, tentando engolir Dante. Ele girou no vazio, desviando por pouco, usando o movimento para aplicar um chute com a planta do pé direto no joelho esquerdo da criatura.

    A carne endurecida rangeu. Uma fenda se abriu.

    O Felroz gritou, e quando o fez, as nuvens acima se fecharam. Raios serpentearam o céu, como se respondessem à sua agonia. A criatura se encurvou, e em seguida, expandiu-se de novo. A rachadura no peito escancarou um brilho mais forte — uma cor que Dante não sabia nomear. Púrpura. Azul. Prateado? Era tudo ao mesmo tempo.

    Ele precisou continuar.

    Utilizando os estilos de combate que aprendera — o Shaolin rígido, o capoeirista maleável, os contragolpes do jiu-jitsu, os chutes circulares do taekwondo, e o controle do centro de gravidade do sambo russo — Dante se movia como um furacão técnico, cada golpe visando uma parte frágil do Felroz.

    Mas o inimigo respondeu com o mundo ao seu favor.

    Uma onda de gelo estalou sob seus pés. As presas de gelo irromperam das pedras, tentando prendê-lo. Dante se lançou para o alto, mas os ventos mudaram abruptamente, tentando derrubá-lo com lâminas invisíveis. O Felroz havia se fundido à natureza. Cada elemento que tomava forma era como uma extensão de seu corpo monstruoso.

    Dante girou no ar, rasgando o ar com os punhos. Desferiu uma sequência de cem socos em três segundos, golpeando o tórax, a mandíbula, a base dos chifres. Cada impacto vibrava a energia do monstro — mas não era o bastante. O peito ainda brilhava. A casca ainda estava lá.

    Dante,” disse Vick, “a Conversão Cinética está em 68%… e continua subindo. Isso está saindo do controle.”

    — Eu sei. Mas ainda não é hora deles.

    Ele se lançou mais uma vez, o cotovelo envolto em Energia Cósmica comprimida. Bateu no ombro da criatura, quebrando parte da couraça natural, fazendo faíscas de energia escaparem do Felroz como plasma solto.

    O monstro rugiu, mas foi diferente agora.

    Entre o som distorcido, grave e ancestral… veio algo mais. Algo que Dante não esperava.

    — Irmão…

    Ele parou. Por um segundo. Não pelas palavras, mas pela sensação. O ar congelou. As chamas se alastraram com formas animalescas. As gotas de chuva estavam tão densas que pareciam cair em blocos de gelo. E dos céus… raios desceram como lanças douradas.

    Vick rompeu o silêncio na mente dele.

    Houve uma casca de Energia Cósmica que se libertou. E tem algo… vivo tentando sair de dentro dele.”

    Dante travou por um segundo. Sua mente, mais uma vez, foi lançada para o Fim do Mundo. Numa lembrança estranha e deformada, mas que se mostrou evidente aos poucos. Uma voz, uma voz parecida com aquela, simplesmente dizendo:

    — Você vai ser testado mais uma vez.

    Era…

    “Centelha… de Energia Cósmica… se aproximando”.

    Dante sentiu o impacto vindo.

    — Ah, merda.

    A explosão de ar o lançou de volta pro chão. Ele desceu como uma bala, acertando a neve, afundando contra a pedra e sendo arrastado para longe. Soltou um berro de dor, não conseguindo levantar a mão.

    Se continuasse daquele jeito, o ar o esmagaria. E a Conversão continuava a crescer.

    Cinética em 71%. Dante, não existe mais como voltar atrás. Precisa liberar isso de uma só vez ou seu corpo vai se partir em pedaços.”

    — No momento… eu não consigo.

    Se conseguisse forçar um pouco a mão pra frente. O ar estava travando seu corpo, e o Felroz estava preparando algo ainda pior. As nuvens no céu começaram a se misturar, girar fortemente ao redor dele.

    Relâmpagos seriam suficiente para queimá-lo até o fim.

    — Capitão!

    Uma voz veio de longe. Mas ele não a seguiu. Estava imerso no próprio limite. O aperto agora chegava até os ossos. Seus músculos pareciam estar sendo espremidos por dentro. E mesmo assim… ele forçou.

    Dois dedos. Nada mais.

    A ponta da mão se ergueu, tremendo. E, então, como se reunisse tudo que restava nele, Dante liberou uma única rajada. Um peteleco. Um estalo de ar comprimido que rompeu a barreira invisível ao redor de seu corpo.

    A pressão cedeu por alguns segundos.

    O solo se forjou contra sua vontade, a água e a neve se levantaram juntos. A areia rapidamente se mostrou como uma barreira, protegendo e expelindo ao redor contra o golpe. Atrás dele, outra camada de gelo e neve, forçando a defesa e dando espaço para Dante.

    Recuou rolando, conseguindo se manter de pé, mas vendo que seu peito havia sido descoberto. Ele quebrou, praticamente, uma das suas costelas. A regeneração ocorria, mas Dante caiu em um joelho, cheio de dor.

    A Conversão Cinética tinha chegado em um beiral que ele não poderia simplesmente fazer qualquer coisa. Seus dedos tremiam, sua cabeça latejava. Ele tinha alcançado os 80% cerca de muitos anos atrás, e tinha destroçado praticamente metade de sua casa e o campo de bambus.

    Por isso, se fizesse qualquer movimento em falso contra algo frágil demais.

    — Capitão, você está bem? — Trahaus gritou quase dez metros dele, e se aproximavas com Gregoriano ao lado. — O que é aquele desgraçado lá? Ele é diferente do que vimos antes.

    — Não tenho como explicar agora, mas não se aproximem muito. — Dante forçou a perna e ficou de pé. Segurava a costela doída, mas não deixava de sorrir. — Parece que esse Felroz é irmão daquele desgraçado que derrotei no Mundo Espelhado.

    Os dois pararam de correr. E voltaram sua atenção pra criatura no ar.

    A Energia Cósmica realmente o rodopiava, mas era por conta de uma fissura no seu peito. O ataque de Dante tinha aberto a consciência daquele fragmento, mas não estava liberto. O Felroz o trancafiou com sua força.

    — Ele precisa de um corpo pra se manter, mas escolheu um que não podia controlar. — Dante deu um passo e algo dentro dele estremeceu completamente. Sua boca travou e seus dentes rangeram juntos. — Merda. Vick.

    Energia Cinética subindo rapidamente por conta da Regeneração. Calculando… 82%. Dante, você é, oficialmente, uma bomba-relógio.”

    — Obrigado?

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