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    — Meninos, a Energia Cósmica se intensifica a medida que suas habilidades se desenvolvem. É uma das grandes marcas que todos os seres humanos possuem. Seu corpo, sua alma e sua mente se conectam a ela desde que nasceram, por isso, quando falamos sobre a evolução, também falamos sobre como nos comportamos e como ela se comporta.

    O interior Academia de Yieno era recheada de pilastras bege, ligando o chão ao teto largo e distante. Um lugar imenso que colocava praticamente todos os membros das famílias nobres sentadas e confortáveis.

    Acostumados a terem aulas em suas moradias, os alunos ficaram animados quando uma figura completamente fora de igual foi anunciado semanas atrás. E por mais que gostasse de figuras públicas sendo apresentadas, se lembrava bem como era entendiante ouvi-los naqueles tempos.

    Pior ainda era ter que ouvir aquilo sendo a filha dos Yieno. Kefiane detestava usar os vestidos vermelhos, mas aquele que foi preparado por seus pais lhe dava um aspecto mais madura.

    — Faz quarenta anos que você se foi, filha — sua mãe dizia quando entregou o presente. — Não é mais uma menininha.

    Dessa vez, ela não poderia fazer caretas e nem debochar dos convidados honrados que seu pai trazia. Ou os comerciantes gordos, ou os rapazes que queriam sua mão em casamento. Ela tinha fugido por um motivo, e esse motivo foi o suficiente.

    Nunca teve a conversa com seus pais sobre sua ida. Era vergonhoso pra ela. Algo que não queria simplesmente mencionar para se desculpar.

    — Quando o corpo se adapta a Energia Cósmica, ela se figura para nos mostrar sua verdadeira face. Por isso, muitos dos estudiosos no Continente Central articulam projetos e estudos sobre ela. — O homem tinha uma imensa barba em tranças, que se não fosse por isso, tocaria o chão. — Como de costume, eu gosto de demonstrar as limitações da Energia Cósmica para os meus alunos.

    Ele ergueu a mão. Nada aconteceu de imediato. Kefiane esperou mais um pouco com a sobrancelha erguida. Logo, ao vê-lo abaixar o braço, o ar distorceu de uma só vez, formando um retângulo do tamanho da porta. Não… era uma porta.

    O homem deu uma risada e caminhou até ela. Entrou em seguida, e a porta se fechou.

    Os alunos começaram a comentar rapidamente, sua voz se elevando, suas preocupações e curiosidade se tornando vozes. Antes de se levantarem, Kefiane ergueu os olhos para longe, na direção da porta.

    Houve uma ondulação, algo no ar. Ela sentiu. Então, uma outra porta se abriu naquela posição. E o velho homem saiu caminhando. O sorriso e postura contaminaram aqueles mais novos membros de Yieno.

    Kefiane também ficou impressionada.

    — Na minha vida, eu me dediquei a aprender o caminho da Energia Cósmica. Por isso, minha habilidade é chamada de ‘Porta’. — Começou a caminhar entre os jovens ainda sentados, fazendo um caminho bem longo com curvas. — Ir para lugares que muitos homens esqueceram, coletar recursos para meus amigos, preservar a vida de outros continentes.

    — O senhor já foi para outros continentes?

    O velho sorriu com a pergunta de um dos jovens.

    — Claro que sim. Yieno é o mais deles, mas tem outros cinco gigantes. Lá, outras pessoas vivem de uma maneira bem diferentes de vocês. Eles tem medo de outras coisas, gostam de outras coisas, vivem por outras coisas.

    O homem chegou até a borda onde estava anteriormente, parando e erguendo os braços.

    — A Energia Cósmica foi o que nos abençoou. No entanto, muitas criaturas não tiveram a mesma sorte. Por isso, os Felroz se originaram pelo tempo. E é a nossa maior luta entender verdadeiramente o que houve para que eles sucumbissem ao desejo de nos matar com tanto afinco.

    Kefiane suspirou colocando a mão no rosto, um pouco entediada, mas sua mãe a cutucou de lado.

    — Postura, filha.

    Se ajeitou em seguida. Esse velho tinha um ar de sabedoria bem diferente do que tinha visto naquele outro. Ele exalava uma aura de que suas perguntas seriam respondidas a qualquer momento, mas Dante respirava as batalhas.

    Dante, da Capital.

    Ah, esse nome.

    — Senhor. — Kefiane levantou a mão rapidamente. — O senhor disse que viajou por muitos lugares. Eu tenho uma pergunta, se me permitir.

    Seus pais a encararam de lado, os olhos a fuzilando. Não era costume interromper um sábio ou figura pública dessa forma. Kefiana não ligava, ela queria respostas.

    — Kefiane Yieno. — O homem se curvou. Atrás dele, todos imitaram o movimento. — Será uma honra tirar uma dúvida da Filha do Mar.

    Odeio esse apelido. Ganhou dos veteranos de sua casa ao retornar. Foi a única com esse feito, mas era ridículo. Comparado a ele, suas ações não valeriam nada.

    — Eu tive um colega que estava no Oceânico Polar. Ele dizia morar em um lugar distante, talvez, mais longe do que um dia qualquer um aqui poderia chegar, claro, sem a sua ajuda. — Kefiane ficou animada sozinha. — Pela história dele, o lugar que morava foi atacado e ao usar um pergaminho que imitava uma portal, ele simplesmente caiu em outro lugar, longe em dezenas de anos de distância.

    O rosto do homem se contraiu aos poucos.

    — E ele sobreviveu a isso? — A pergunta dele pegou até mesmos os pais de Kefiane de surpresa.

    — Por que não sobreviveria?

    — Um sistema de portas encomendado, como eu chamo, não é uma arte que normalmente se faz sem uma predição exata. Se houve algum tipo de corte no meio do caminho e as duas partes se desconectaram, ele poderia ser lançado até mesmo para o fundo do oceano. — O homem se aproximou jogando suas duas mãos para trás das costas. — Diga-me, Filha do Mar, esse homem ainda está vivo?

    — Primeiro, senhor, existe uma cidade chamada Capital… — e novamente, o rosto dele se contorceu um pouco. — Poderia me dizer quantos anos estamos dela no momento?

    Não houve uma resposta imediata. O homem abaixou os olhos e depois os levantou, um pouco atordoado.

    — Faz anos desde que eu faço contas dessa maneira, mas para responder de maneira precisa, creio que levaria cerca de 53 anos de maneira convencional até chegar a esse local.

    Kefiane sorriu de lado. Ele realmente falou a verdade para todos nós.

    — Senhora Kefiane. — O homem chegou ainda mais perto. — Esse seu colega, ele ainda está vivo para contar essa grandiosa façanha?

    — Sendo bem sincero, senhor Merlin, creio que aquele homem não morreria por nada comum nesse mundo. Alias, foi ele quem me salvou do Mundo Espelhado. — Novamente, os olhos daquele senhor brilharam. — E venceu a Fagulha da Energia Cósmica.

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