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    ­— Claro que eu gostaria de acreditar nisso. — Merlin sentou-se no escritório de Bello Yieno. Junto deles, Kefiane. Ela preparou uma pequena xícara de chá e sentou-se. — Mas, eu não posso. Sabe o que realmente se trata uma Fagulha da Energia Cósmica?

    — Me explique, por favor — disse Bello acenando levemente. — Minha filha me disse que é a algo poderoso, mas não posso dimensionar as palavras dela por achismo pessoal.

    Merlin recebeu uma xícara também de uma das empregadas, e assoprou o vapor.

    — Digamos que no mundo inteiro, desde que começamos a ter o envolvimento da Energia Cósmica, nós tivemos cerca de um aparecimento da Fagulha. Ela é chamado de Rastro também, por outros. Ela é praticamente uma mistura da Energia Cósmica sem um corpo, sem um hospedeiro. Ela se funde, mais e mais, até tomar um formato e assume uma personalidade baseada em onde se encontra.

    Era a primeira vez deles ouvindo sobre.

    — E quando foi a primeira vez que apareceu?

    — Faz oitenta anos, acredito. — Merlin afundou-se num silêncio, retornando com uma beliscada no chá. — No continente Whalien. Existia uma civilização lá que pertencia a um grupo de guerreiros. Eles conseguiram ordenar completamente todos os Lagmoratos e limparam o terreno inteiro. No entanto, eram guerreiros. O sentimento que tinham foi aumentando, a ansiedade, a adrenalina. Aos poucos, uma Fagulha apareceu se alimentando dessa sensação.

    — E o que houve?

    — Uma destruição em larga escala. Mortes, uma chacina que nunca tinha sido vista antes. Os Felroz são fortes, mas uma Fagulha é praticamente imortal. — Ele levou sua atenção para Kefiane que nem tinha se preocupado com aquele comentário. — Por isso, não consigo acreditar que um homem sozinho derrotou um deles.

    Bello Yieno fitou sua filha, mas depois voltou para Merlin.

    — E sobre a Capital, você acredita? — perguntou Kefiane.

    — É menos impossível de acontecer do que o primeiro, admito. — Merlin soltou uma risada fraca, deixando o lugar menos tenso. — Eu já visitei a Capital. Um lugar bonito, sem muitos perigos aparentes. Eles estudam formas de aprimorar as tecnologias antigas, mas estão fadados ao fracasso. Se seu colega veio de lá, então, a sorte dele foi grande o suficiente para não jogado em qualquer outro lugar que não fosse o Oceânico Polar.

    — Ah, não. Ele não caiu lá direto. — Kefiane abaixou a xícara. — Foi em Kappz, se não me lembro.

    Merlin assentiu.

    — Berço da Criação. — O sorriso se transformou em dor. — Um lugar imenso, cheio de cidade, mas destruída por ganância e preconceito. Lá, eu estudei por alguns poucos meses, com um homem muito bom. Mas, depois que ele partiu, eu voltei para o Continente Fluvial.

    Bello Yieno levantou a mão, pedindo que eles parassem.

    — Kefiane, filha, sei das suas intenções de querer mais respostas, mas você tem certeza que esse seu colega era realmente de lá?

    — Tenho, pai. Humber era um Comandante da Capital, que caiu no Mundo Espelhado. Todos os seis Capitães que ficaram presos lá foram salvos por Dante. A habilidade da Fagulha era mexer com nossos desejos.

    Uma lembrança que não doía por estar em casa. Dante tinha realizado o que ela mais queria: reencontrar seus pais. Voltar para casa. Era sua responsabilidade agora conseguir fazer com que ele também tivesse seu sonho realizado.

    — Desejo, hein? Já ouvi sobre Felroz Mutantes que utilizam habilidades mentais, mas se fosse uma Fagulha ou um Rastro, seu colega não conseguiria lutar contra. — Merlin abaixou a cabeça. — Acredite em mim, ele claramente enganou…

    — Não.

    Kefiane esticou a mão, rispidamente.

    — Não termine essa frase, Merlin. Eu estava lá, eu vi o que ele fez, as batalhas dele, eu vi completamente o que ele passou. Não só isso, vi quem ele era e o motivo de fazer o que fazia. A Fagulha disse pra ele que havia outros como ele, como se fosse irmãos. E que Dante podia vencer.

    — Ela disse isso? — Merlin negou com a cabeça. — Possivelmente era uma falácia, Filha do Mar. As Fagulhas normalmente falam qualquer coisa para seus inimigos para confundi-los. Não quero ser desrespeitoso, sei que você tem um apreço muito grande pelo seu colega, mas se uma Fagulha aparecesse agora, teríamos que mover meio mundo para conseguir derrotá-la.

    A porta se abriu rapidamente e com força. Um dos subordinados de Merlin entrou sem ao menos pedir licença. Sua face era uma assustada, completamente destroçada.

    — Senhor, olhe. — Ele passou um pequeno objeto quadricular para Merlin. — Os picos de Energia Cósmica na fronteira com Selenor estão em um estágio que não vemos faz anos.

    Merlin não se alterou, e apenas passou o dedo, observando.

    — Possivelmente é um Felroz Mutante que apareceu no Lagmorato. Caçadores estão tentando tomar aquele lugar.

    — Eu também achei que poderia ser isso, mas olhe, senhor. — O jovem apertou em outro lugar e mudou a tela. Kefiane ergueu um pouco a cabeça para observar também. — A pureza da Energia Cósmica está beirando os 90%.

    Kefiane viu Merlin levantar a cabeça pra ela. E se não houvesse qualquer pessoa ali dentro, tinha quase certeza de que ele falaria algo. Ao invés disso, respirou fundo e devolveu o objeto para o rapaz.

    — Senhor Yieno, creio que minha vinda até aqui se tornou ainda mais complexa. — Eles ficaram de pé. — Alguns destinos, como meu pai dizia, estão obrigatoriamente interligados. Assim como ele ajudou na Fagulha de oitenta anos atrás, eu terei que fazer o mesmo hoje. Uma pena que nossos caminhos tenham que se despedir dessa maneira.

    — Claro que não, senhor Merlin.

    Os dois apertaram a mão. Um símbolo de companheirismo que fazia Kefiane lembrar dos dias que esteve no navio. Não seria diferente agora.

    — Senhor. — Ela deu alguns passos a frente. — Não quero ser descortes, mas gostaria de ajudar no que for necessário.

    — Ah, Filha do Mar, eu aprecio sua bondade, mas eu me preparei para esse momento minha vida inteira. — A Energia Cósmica se libertou de sua mão como uma luva, apenas alguns centímetros cobrindo sua pele. — Se for realmente a Fagulha da Energia Cósmica, usarei minha habilidade para trancafiá-la num lugar onde ela não poderá sair.

    — Seu pai faleceu por conta disso, não foi? — Bello agiu mais rápido, erguendo a mão. — Se o senhor partir agora, ficaremos sem sua ajuda nas construções das futuras gerações, senhor. Não posso deixar que parta assim.

    Merlin deu uma risada abafada, e negou no mesmo instante.

    — Infelizmente, essa decisão não é sua, meu amigo.

    Com um gesto leve de seus dedos, uma porta se abriu rapidamente. O espaço do outro lado foi reconstruído, sem uma extensão ou corredor. Kefiane realmente entendia a importância de Merlin. Essa habilidade era pertubadora.

    Ele poderia ir de um lugar ao outro em questões de segundos.

    Dante queria exatamente isso. Merlin… poderia levá-lo para casa.

    No entanto, o homem não entrou na mesma hora. Ele ficou parado observando a porta aberta na sua frente. E antes de conseguir dar um passo adiante, uma imensa lufada de ar o fez arrastar seus pés para trás, recuando praticamente um metro.

    — Mas… que merda é essa?

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