Capítulo 453: Derrota (V)
O dedo do Atirador pressionou o gatilho.
O disparo rompeu o silêncio com um estrondo seco, cortando o ar como um trovão comprimido em um único clarão. A bala, envolta em Energia Cósmica pura, atravessou a distância em menos de um sopro. O impacto contra o Rastro foi brutal — a carne deformada do ombro explodiu em estilhaços negros e azulados, espalhando-se pelo chão como fragmentos de vidro queimado. A criatura foi empurrada para trás, seu corpo vibrando com a força, e a lâmina que formava seu braço se despedaçou antes de atingir Dante.
O choque fez o monstro urrar, um grito grave e distorcido, reverberando nos prédios próximos e fazendo os escombros tremerem. Sua perna recém-regenerada falhou, dobrando-se, e ele se apoiou contra os restos de um muro. O sangue escuro pingava em gotas grossas, cada uma queimando o concreto como ácido.
Juno aproveitou a brecha. Suas pernas se moveram sozinhas, velozes, o coração batendo em sincronia com o disparo. Ela viu Dante ainda vivo, ainda de pé, e aquilo foi o suficiente para reacender sua fúria.
O Rastro, no entanto, não estava derrotado.
Seus olhos, duas fendas luminosas e instáveis, se ergueram na direção de onde o disparo viera. A princípio parecia confuso, mas logo o riso baixo escapou de sua boca cheia de dentes podres.
— Então, mais deles vieram.
O Rastro girou o rosto rapidamente, tentando antecipar o movimento da garota. Mas Juno se movia com a precisão de alguém que conhecia cada nuance do combate, cada impulso do inimigo. Antes que pudesse esquivar, algo perfurou suas costas com uma força que parecia rasgar não apenas a carne, mas a própria estrutura de sua energia.
A lâmina ou corrente atravessou seu torso, saindo pela barriga, e um clarão azul-prateado subiu em direção ao céu, iluminando os prédios quebrados ao redor como se fosse um relâmpago.
O grito da criatura ecoou como trovão, vibrando pelos escombros e fazendo janelas estilhaçarem-se à distância. Seu corpo inteiro convulsionou, a raiva materializando-se em ondas de energia que faiscavam pelo ar.
O chão tremeu sob seu peso enquanto ele girava violentamente, tentando acertar o braço de Juno, mas ela abaixou-se com uma velocidade quase impossível de seguir, os cabelos esvoaçando em plumas carregadas de eletricidade.
Ela saltou, e ao girar, pequenas fagulhas azuis saíram de suas mãos e pés, cada uma perfurando a carne deformada do Rastro, entrando e saindo em pequenos arcos de luz. O impacto de cada centelha criava explosões minúsculas, queimando a superfície da carne e espalhando vapor que cheirava a ozônio e ferro.
Juno criou uma tempestade viva materializada, transformando cada movimento em um corte letal.
O Rastro urrava, tentando se recompor, mas cada tentativa era interrompida pelas pequenas explosões de energia. Juno, respirando pausadamente, manteve os olhos fixos, cada passo calculado, cada salto milimétrico. Então, com um gesto final, abriu a mão, liberando uma onda concentrada de Energia Cósmica. O som que se seguiu parecia o chiado de mil pássaros em choque, penetrando diretamente no rosto da criatura.
O Rastro recuou apenas por um instante, a pele chamuscada e a carne rasgada tremendo sob o impacto. Mas a fúria ainda brilhava em seus olhos luminescentes — ele sabia que havia subestimado a garota humana.
— Vai pagar por colocar a mão no meu mestre! — a voz de Juno cortou o ar em uma face determinada. E um segundo rosto se rompeu do dela, fazendo a mecha branca em seu cabelo ganhar ainda mais cor. Uma voz robotizada veio em seguida: — Não se exponha, entendeu? Vou ajudar Vick a recompor o velhote. Precisa manter ele ocupado.
O corpo estático de Veronica se deformou com movimentos inaturais, desprendendo-se da carne de Juno como uma sombra que se materializava. Seus braços metálicos e pernas formadas de ferro giraram com precisão mecânica, criando um contraste perturbador entre sua forma etérea e os traços humanos que permaneciam. Ela se lançou na direção oposta, caminhando apressada para Dante.
No comunicador, a voz firme e decidida de Heian cortou o silêncio:
— Juno, estou contigo.
O Felroz, sentindo a presença de uma segunda energia aproximando-se, girou violentamente. O corpo que Dante havia visto quase destruído agora parecia se reconstituir diante de seus olhos. O braço que havia sido explodido se regenerou rapidamente, a carne e músculos fundindo-se em camadas sobrepostas, formando uma superfície vermelha que pulsava como lava viva. Ele esticou o braço para frente, a palma aberta, exalando uma aura de pura destruição, vermelha e quente, iluminando os destroços ao redor com flashes que lembravam brasas.
— Morram, seus vermes. Me deixem terminar o que comecei. — A voz era um rugido profundo e carregado de ódio, reverberando pelas ruas destruídas de Kappz, fazendo janelas vibrarem e pequenas pedras saltarem do chão.
O ar ao redor tremeu com a força do poder liberado pelo Felroz, formando pequenas ondulações que distorciam a visão. Juno sentiu o frio subir pela espinha, mas seu corpo respondeu instintivamente, os músculos tensos e prontos para reagir. Ela sabia que cada movimento precisava ser perfeito; qualquer hesitação significaria a morte de todos à sua volta.
— Não se comparem a esse humano — rugiu o Rastro. — Nunca chegarão aos pés dele. Nem pensem em…
O ar ao redor do Rastro de repente se deformou. Um vórtice invisível parecia sugar o espaço, pressionando os ombros e a cabeça de todos próximos, obrigando até mesmo a criatura a abaixar os membros para não perder o equilíbrio. Não era nada comparado ao golpe que Dante já havia recebido antes, mas a irritação que emanava daqueles pequenos humanos era intragável, quase ridículo. Cada movimento deles, cada tentativa de resistência, parecia corroer sua paciência.
Quando o Rastro finalmente olhou para Juno, percebeu algo que o tirou do eixo: Dante, seu verdadeiro alvo, já não estava sozinho. Um homem firme segurava o corpo dele, pronto para protegê-lo.
A criatura sentiu um frio na espinha. Não podia permitir que ele escapasse.
— Soltem ele! — gritou o Rastro, o rugido atravessando os escombros e ecoando pelas ruas devastadas.
O berro foi acompanhado de um estalido cortante, como se o ar tivesse sido rasgado. A pressão invisível ao redor se dissipou instantaneamente, mas deixou um rastro de instabilidade. Tudo vibrava levemente, pequenas pedras saltavam do chão e o som metálico dos destroços caindo ressoava ao redor.
Longe dali, escondidos atrás de escombros, Jix e Duna observavam a cena com olhos arregalados. O pequeno velhote tossiu fortemente, levando a mão à boca e vendo o sangue escapar.
— Cacete — murmurou, atônito, os cabelos brancos grudados na testa pelo suor.
Duna passou a mão pelos cabelos brancos, assustado, mas tentando manter a compostura.
— Esse bicho é forte demais… O que fazemos? — perguntou, a voz cheia de tensão. A destruição que se espalhava à sua frente parecia impossível de conter, e cada segundo contava.
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