Capítulo 454: Derrota (VI)
Não houve tempo para pensar. Heian disparou em direção à criatura, sentindo a raiva pulsar em cada músculo. O braço do Rastro começou a subir, e ele percebeu que não eram movimentos comuns: chamas azuladas surgiam, ondulando no ar, prontas para incinerar qualquer coisa que ousasse atravessar seu caminho. Cada faísca que saltava iluminava os escombros ao redor, refletindo nas paredes quebradas da cidade, tornando a cena quase surreal.
— Leo, Gerhman, agora! — gritou pelo comunicador, a voz carregada de urgência.
Os dois se moveram como sombras rápidas, correndo pelas laterais, saltando sobre escombros e destroços e não deixando a criatura perceber que estavam selando qualquer um dos seus movimentos.
Cada passo, cada impulso era calculado para não dar vantagem à criatura. Leo mantinha os olhos fixos no Rastro, analisando cada movimento, enquanto Gerhman se preparava.
— Gerhman, use o Decreto. Não quero que ele se mova para longe desse espaço. Leo, coordene com Juno e Dinamite. Secure, leve todas as pessoas que foram atingidas para longe. Marcus…
— Eu sei — Marcus nem parecia respirar. — Não vou deixar ele escapar.
As chamas desceram na direção de Heian. Mas, de chamas já estava acostumado fazia tempos. Ao levantar a sua mão, o fogo se originou também, consumindo do seu corpo e explodindo as chamas do Rastro.
Se misturando, Heian entendeu o poder descomunal que Dante tinha enfrentado sozinho. Era uma quantidade tão absurda de Energia sendo enviado, tanta força e poder, a raiva ganhando vida enquanto seus rugidos se tornavam ainda mais estridentes.
— Soltem o humano — ouviu o Rastro gritar. — Eu preciso matá-lo.
— Nem todo mundo tem o que quer. — Heian ergueu a outra mão, sentindo o peso do corpo inteiro naquele movimento. — Hidro.
Um jato d’água explodiu da palma dele, não como uma simples corrente, mas como uma muralha líquida que colidiu com as chamas do Felroz. O impacto foi tão intenso que o ar estremeceu, fazendo faíscas de vapor surgirem ao redor, enquanto o calor e a umidade se misturavam em uma névoa espessa e acinzentada. O Felroz recuou, desviando, mas o vapor que se espalhava em todas as direções escondia completamente os humanos. Cada detalhe da arquitetura suja e deformada ao redor parecia se dissolver nesse véu de fumaça e calor.
O Rastro moveu o braço com velocidade e precisão sobrenaturais, cortando o ar. Mas mesmo assim, a névoa persistia, enrolando-se como serpentes ao redor de cada coluna e parede, escondendo Heian e os aliados.
— Acham que podem se esconder de mim? — A voz do Felroz reverberou. O braço atingido se regenerava lentamente, cada fibra de carne e escama se reorganizando. Suas asas tremiam, ansiosas, projetando destruir tudo ao redor. — Humanos são fracos em qualquer lugar. Aqui ou em Selenor, nada muda. Se escondem de quem tem poder.
O ar ao redor ondulava, sufocante. O Felroz esticou um novo braço para fora, mais rápido do que qualquer movimento humano poderia acompanhar, e o ergueu com força monumental. Gargalhou, e o som ecoou pelo espaço, misturando-se ao chiado do vapor, uma promessa de carnificina.
— Sacrificar um pouco do que eu tenho para matá-los será inestimável. Farei isso na frente daquele humano.
— Na verdade, Dante não vai ver você sendo derrotado.
Do meio do vapor, um humano saiu caminhando com sua espada embainhada. Ele parou cerca de cinco metros, ainda com tudo ao seu redor oculto pelo vapor. E ergueu a arma ligeiramente para a direita.
— Eu queria que o mestre visse o quanto melhorei. — Juro apareceu pela direita, parando também cerca de alguns metros. — Posso mostrar depois que terminarmos aqui.
— Calma ai, galera. — Dinamite apareceu pela esquerda, coçando o pescoço e estalando os braços. — A gente não pode só falar que o velhote não vai ver. Isso é muito inadequado. Parece que estamos farmando aura, temos que mostrar que somos bons.
O Felroz viu três deles somente, mas outro passo chegou pelas suas costas. Um velho tão pequeno, andando com uma bengala, estava chegando também. Ele parou, quase tremendo. Mas, ao levantar os outros, o Rastro sentiu a tensão.
— Dante vai ficar um pouco decepcionado se não deceparmos a cabeça dele. Heian, me ajude.
De trás do velho, o humano que havia conjurado as chamas e a água. Ele o pegou com um pouco de cautela e colocou atrás de sua costas, apenas para que o homem ficasse diante do perigo. Mesmo vendo eles reunidos, o Rastro soltou uma risada.
— Isso é divertido demais. Muito divertido. Acham que vão mais longe do que aquele humano? — Girou para todos eles. — Acham que vencem quando o homem mais forte que já enfrentei perdeu? Devem ser muito confiantes. Humanos confiantes, cheio de soberba. Eu adoro isso.
— Não é soberba, monstro — disse Leonardo. — Nem confiança. Você não entenderia. Mas, pelo que parece, o destino quis que fosse dessa forma. Não hesite.
O Rastro soltou uma risada.
— Hesitar? Por que eu faria algo assim?
— E quem disse que eu estava falando com você?
Um estalo seco no ar. O Rastro levantou a cabeça rapidamente, reconhecendo o som. Lento demais. Lento para entender que ele era o alvo… a ovelha entre lobos famintos.
— Ah, velhote. — Secure segurou a cabeça de Dante e repousou em cima de alguns casacos dados pelos outros civis. Eles já estavam bem distantes e, ainda assim, o estrondo ecoou até eles, chacolhando a terra. — Por que sempre se enfia em merdas assim?
O braço dele estava sendo corrompido. Parecia machucado apenas, mas Secure ao tocar sentiu a estática. Era Energia Cósmica concentrada, a mesma que sentia quando Dinamite juntava muito para atacar de uma só vez.
E quando acontecia, Kalish precisava chamar vários doutores. Mas, não tinha como fazer isso agora. Ele estava na Zona Cega…
Secure tirou uma pequena seringa de dentro do casaco, e desceu contra o pulso dele, puxando e retirando um líquido esverdeado e roxo.
— Isso não é bom. — Ele abaixou e colocou a orelha no peito de Dante. — Fraco. Merda. Preciso…
— Saía dai.
Secure recuou o rosto ao ver o corpo estático e transparente de Veronica. Ela, quem tinha muito tempo que não conversava, aparentemente não havia morrido, como muitos diziam. Secure recuou o desejo de perguntar sobre ela, encarando Dante.
Não tinha como esconder o medo que sentia ao vê-lo desacordado.
— O que podemos fazer?
— Conversão Cinética, não é, Vick?
Uma outra forma, algo ainda mais estático e cheio de falhas apareceu ao lado de Veronica. Era quase um rosto, mas sem olhos, e sem boca. Apenas a feição do que deveria ser… humano.
— Sim. Dante utilizou cerca de todo o corpo para acertar um golpe que pudesse destruir a criatura, no entanto, ele alterou o rumo do golpe ao ver os civis que estavam por aqui. Seu sistema não está suportando a dor. Precisa de algo para catalisar a Energia Cósmica.
— Mesmo que fosse possível…
— A habilidade recente de recriar células o ajudará a se recuperar. — Vick girou o rosto mais para baixo. — Nick e Lilo ajudarão no que for preciso.
Secure viu as duas criaturas aparecerem correndo entre as roupas, e se jogando no peito de Dante. Eram dois Felroz, mas Secure reconheceu o inofensivo que representavam.
— Essa criatura ainda está com vocês? — Veronica ironizou colocando a mão no peito de Dante. — Bom saber que ele voltou pra casa. Agora, preciso que estabilizem a concentração de Cinética nos músculos. Nós vamos precisar de um milagre pra ele não morrer aqui.
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