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    — A senhora não pode se arriscar em um lugar como esse — disse Vinigo para Clara. Os dois se estreitavam dentro de um prédio tombado, no terceiro andar. Dali, eles enxergavam praticamente tudo o que ocorria.

    E seus olhos não enganavam seus sentidos, e sua audição não podia enganar sua mente.

    — Meliah, preciso que você fique com Duna. — Ele sequer lançou um olhar. Ainda fixava a mente adiante. — Não podemos simplesmente ignorar o que acontece na nossa frente. Degol, leve aquelas pessoas para um lugar seguro, peça para Secure ir com você.

    Os dois concordaram em silêncio, mas se entreolharam. Estava claro para os dois o que Clara queria fazer, mas não podia. Não ali.

    — Ele vai ficar bem, Clara.

    Ao passar ao seu lado, Meliah lançou um olhar gentil. Depois Degol, saltando para o segundo andar. Vinigo foi o único quem ficou ao lado de Clara, mas sem entender o que acontecia. Na sua frente, uma criatura estava lidando com os melhores lutadores de Kappz.

    E se não fosse pior, eles estavam sendo praticamente suprimidos pela capacidade física e mental do monstro. Se fosse para contar a vantagem númerica, ela não apareceria. Era inexistente. Juno, Heian e Leonardo sequer tocavam com seus golpes, e Dinamite era ricocheteado para longe a cada instante por conta da explosão.

    Uma luta impossível de ser vencida.

    — Quando ele caiu aqui, foi dessa maneira também — disse Clara. — Ele simplesmente apareceu trazendo algo que não tínhamos fazia anos. E nós crescemos por causa disso, ficamos melhores e a Cuba foi praticamente um presente. Se eu não me arriscar pelo homem que arriscou tudo por mim, então eu nunca mais poderia olhar em seus olhos.

    Então… Vinigo encarou para o ponto onde Secure e as outras pessoas estavam agrupadas. Aquele era o homem que eles diziam ser…

    — Dante.

    Ela tocou o broche no peito.

    — Secure, estou aqui.

    O homem do outro lado reagiu imediatamente colocando a mão em uma das pedras ao seu lado. E em um estalar de dedos, a troca foi feita. Clara surgiu ao seu lado, já ajoelhando e percebendo o rosto cortado, queimado e com sangue seco.

    Mesmo que seus cabelos não fossem mais brancos como sempre, com uma tonalidade mais escura, e seus olhos ficassem fechados, ele ainda era o mesmo homem que tinha se apaixonado. Era o mesmo rosto, a mesma boca…

    As lágrimas quase romperam de seus olhos, mas ela segurou. As mãos tremiam quando se esticaram até ele, os dedos roçando nos fios de cabelo endurecidos pelo sangue.

    — Ele precisa de um catalisador — disse Veronica, a voz precisa, sem hesitar. — Se não conseguirmos um agora, ele vai morrer sem que possamos fazer nada. O corpo dele não vai aguentar a Energia Cósmica.

    Clara sorriu, mas o sorriso era uma ferida aberta. O coração afundava em dor e desespero. Ele tinha dado tudo de novo. Se sacrificando mais uma vez, como sempre fazia, carregando pesos que não eram só dele.

    — Dante… — a voz dela falhou.

    Veronica aproximou-se mais, monitorando cada detalhe, quando de repente a mão de Dante se moveu. Um gesto instintivo, quase imperceptível, mas real. Ele segurou o pulso dela, sem força, sem aperto, mas o suficiente para parar tudo.

    A IA ergueu os olhos para Clara, surpresa.

    — Ele consegue te escutar.

    Os olhos permaneciam fechados, mas os lábios de Dante se moveram. Mesmo sem fazer nenhum movimento brusco, o corpo dele liberou uma quantidade imensa de Energia Cósmica ao redor. Tanta que o ar distorceu ao redor deles, balançando os cabelos e roupas.

    — O Rastro nunca deixaria esse cara vivo — disse Veronica. — Eu também não queria deixar, mas Juno é tão irritante quando fala de você que eu até comecei a pensar que se você voltasse, eu poderia te surrar. Uma vingança.

    Clara segurou novamente o rosto de Dante.

    — Dante, está me ouvindo? Sou eu. Seu corpo… está… tão machucado. Você estava lutando, não é? Sempre faz isso para proteger os outros. Você voltou… pra casa.

    A Energia Cósmica foi expulsa novamente, e Nick e Lilo foram praticamente expulsos pelo vento e impulso. Secure rapidamente esticou os braços, pegando os dois e colocando perto do peito. Era tanta coisa saindo que era difícil até mesmo ficar ali.

    Nunca tinha visto uma pessoas nesse estado. A morte… parecia menos pior.

    — Estou aqui, Dante — continuou Clara se aproximando mais do seu rosto. — Você não precisa mais lutar. Nos deixe ajudar, está bem? Me deixe te ajudar como fez comigo naquele dia.

    Os olhos dele… Clara teve certeza que se abriram. Ele puxou o rosto dele gentilmente para o lado, e os dois olhos desfocados ganharam uma cor escura. Quando avistaram Clara, a Energia Cósmica cedeu gradualmente.

    O ar parou de rotacionar ou expulsar os outros.

    — Clara… — era quase impossível de ouvi-lo. — Cor…a…ção…

    — O que? Coração? — Ela se aproximou mais, sorrindo deixando as lágrimas caírem nele. — Para com isso. Sabemos que vai ficar tudo bem. Você voltou pra casa, voltou pra gente. — Ela o abraçou, soluçando. — Não faça isso comigo. Não vá embora. Eu…

    Vick ainda tentava analisar todas as formas de conseguir manter o corpo funcional. No entanto, as estátisticas não eram nada além de negativações e erros. Mesmo se realocasse os órgãos, ou até mesmo usando um catalisador, ele nunca seria o mesmo.

    A sobrevivência de Dante até aquele momento foi pelo fato dela ter usado algo que não deveria, quando enfrentou Moonlich. Duas Maldições coexistindo no mesmo corpo fizeram Dante perder completamente sua funcionalidade na Conversão da Habilidade.

    E agora, tendo usado tudo o que ele pôde, a Maldição infringida por Render foi praticamente fortificada. O corpo usaria toda a Energia Cósmica disponível para manter sua vitalidade enquanto a Maldição que Vick lhe atribuiu iria consumir essa vitalidade.

    Era um limite que Dante não deveria ter ultrapassado.

    O limite do que ele tinha de verdade… do que ele era.

    — Não aceito. — Clara forçou ainda mais seu rosto no dele. — Não aceito isso. Você não pode morrer. Não pode ir embora assim. Eu me recuso… a deixar você ir. Por favor, fica. Todo mundo quer saber onde… porque… então, por favor… Dante.

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