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    O vapor ainda recobria parte do cenário quando o primeiro passo foi dado. O ar estava denso, carregado da energia do choque entre fogo e água, e o calor sufocava tanto quanto a tensão. Heian, apoiado de leve no cajado, ergueu o olhar para os outros. Aquele era o momento. Um aceno quase imperceptível foi suficiente para dar início ao ataque.

    O Rastro avançou primeiro. Suas asas, mesmo parcialmente regeneradas, abriram-se como muralhas vivas, cortando a névoa e deslocando o ar com violência. Seus olhos faiscavam ódio e prazer. O som de sua risada se espalhou, ecoando pelas paredes quebradas da cidade em ruínas.

    Juno foi a primeira a se mover. De dentro da cortina cinzenta, ela deslizou pelo flanco direito, os pés leves e rápidos sobre os destroços. Suas lâminas curtas refletiam a luz do vapor, mas nunca em linha reta, sempre em ângulos que confundiam a visão. Com um salto, cravou uma lâmina na asa do Rastro. O som foi metálico, como se estivesse cortando uma muralha de ferro vivo. A criatura rugiu e girou, tentando esmagá-la contra o chão, mas Juno já havia saltado para trás, deixando um rastro de sangue negro e fumaça saindo da ferida.

    Antes que o Felroz pudesse reagir, Leonardo avançou pela esquerda. Sua lança brilhava com o reflexo do vapor, coberta de runas que pulsavam uma luz tênue. Com passos calculados, ele girou a arma em círculos largos, aumentando a força do impacto. Então, com precisão de anos de treino, lançou a ponta direto contra o abdômen do Rastro. O impacto reverberou pelo corpo do monstro, forçando-o a recuar dois passos, algo que parecia impossível para quem até agora se mantinha inabalável.

    — Agora! — gritou Leonardo, sem perder o ritmo.

    Dinamite entrou em cena com brutalidade. Ele não era refinado como os outros. Não era sutil, nem meticuloso. Era força bruta, pura explosão. Com as mãos cobertas por energia condensada, ele bateu os punhos no chão. Uma onda sísmica percorreu o terreno, rachando concreto, levantando destroços e lançando uma nuvem de poeira contra o corpo do Rastro. O impacto forçou o monstro a se inclinar, desequilibrando-se por um instante.

    Heian aproveitou. Suas mãos se ergueram, e os elementos obedeceram. Água condensada do vapor começou a se juntar em esferas flutuantes, girando em círculos ao redor de sua figura. Ele murmurava palavras antigas, cada sílaba vibrando no ar, até que as esferas dispararam como projéteis contra o Rastro. Ao contato, explodiam em choques de pressão, tentando esmagar o corpo colossal.

    O Rastro rugiu, furioso. Seu braço colossal varreu o espaço, criando uma onda de ar tão poderosa que lançou Juno contra uma parede e obrigou Leonardo a cravar a lança no chão para não ser arrastado. Dinamite deslizou alguns metros, mas se firmou, cuspindo sangue pela boca e sorrindo como se aquilo fosse um desafio pessoal.

    — É só isso que você tem, desgraçado? — gritou ele, batendo os punhos um contra o outro, gerando faíscas.

    O Rastro abriu um sorriso distorcido. Seus olhos queimavam, não de raiva, mas de diversão. Como se estivesse se aquecendo, como se aquela luta fosse apenas um prelúdio.

    Juno reapareceu, saltando entre destroços. Ela mirava sempre nas articulações, nas dobras das asas e nos pontos onde as escamas se entrelaçavam. Seus cortes eram rápidos, curtos, precisos, desenhando linhas vermelhas e negras no corpo do monstro. Cada vez que acertava, recuava antes do contra-ataque. Era como uma dança mortal.

    Leonardo avançou para apoiar. A ponta da lança girava em círculos largos, criando uma barreira que desviava os golpes massivos do Rastro. Quando encontrou uma abertura, cravou a lança novamente, desta vez no joelho esquerdo. O monstro vacilou, ajoelhando-se por um instante. O chão tremeu com o impacto.

    Heian aproveitou o momento e ergueu as duas mãos. O vapor inteiro ao redor se condensou de uma vez, formando uma muralha líquida que se ergueu como um tsunami em miniatura. Com um gesto, ele lançou a onda contra o Rastro. O impacto foi devastador, jogando a criatura contra os escombros e cobrindo metade do cenário em um mar improvisado.

    Dinamite não esperou o resultado. Pulou por cima da onda e mergulhou no ponto de impacto. Seus punhos se iluminaram com energia bruta, e cada golpe que desferia era como o disparo de um canhão. O Rastro recebia socos no rosto, no peito, nos ombros, cada um deles acompanhado de explosões que sacudiam o ar e arrancavam pedaços de escama.

    Mas a criatura não caía. Em vez disso, ria.

    Aos poucos, seus braços regeneravam, suas asas se reconstituíam, e a cada golpe sofrido, parecia crescer em fúria e vitalidade. De repente, ele se ergueu com força absurda, lançando Dinamite pelos ares como se fosse um boneco de pano.

    — Humanos… — disse, a voz reverberando como um trovão. — Vocês dançam bem. Mas ainda são apenas presas.

    Com um movimento, abriu as asas e bateu contra o ar. O impacto criou um vendaval devastador que dispersou a água de Heian, derrubou Leonardo e lançou Juno contra o chão. O cenário parecia se partir.

    Mesmo assim, eles se levantaram. Heian sangrava pela boca, mas ainda erguia as mãos, olhos fixos. Juno apoiava-se em uma lâmina cravada no chão, o corpo coberto de cortes. Leonardo respirava com dificuldade, mas sua lança ainda brilhava. Dinamite, mesmo cambaleando, sorria, pronto para mais.

    Eles se entreolharam rapidamente, sem precisar de palavras. Um último ataque coordenado.

    Juno avançou primeiro, atraindo os olhos do Rastro com cortes rápidos e imprevisíveis. Leonardo veio logo atrás, a lança apontada para o coração do monstro. Dinamite, com a última reserva de energia, correu pelo flanco, punhos tremendo de poder. E Heian, com a voz falhando mas firme, convocou água e fogo ao mesmo tempo, moldando-os em um único projétil de pura destruição.

    Todos atacaram juntos.

    O impacto foi colossal. Lâminas, lanças, punhos e magia se chocaram contra o corpo do Rastro em um turbilhão de luz, fogo, água e energia. O chão se abriu em rachaduras, os prédios ao redor desmoronaram com a onda de choque, e o próprio ar pareceu gritar com a força do embate.

    Quando a poeira baixou, os quatro estavam de pé, arfando, feridos, quase sem forças.

    O Rastro ainda estava lá. Ferido, sangrando, mas de pé. Seu peito subia e descia em gargalhadas roucas. Ele abriu os braços, como se abraçasse a destruição ao redor.

    — É… isso. É isso que eu queria. Mais! Mostrem-me mais!

    Nunca tinha experimentado nada parecido. Leonardo tinha certeza de que essa criatura era o ápice do que um Felroz deveria chegar, e nem mesmo isso ele era. A Energia Cósmica funcionava como uma verdadeira barreira contra o dano.

    Cada vez que conseguiam chegar perto, de causar certo ferimento, a Energia Cósmica impulsionava o golpe para longe.

    Sua habilidade enxergava quantos golpes precisava acertar até seu inimigo cair. A ‘Visão da Morte’ que Gerhman tinha descrito, era como ver o limite do seu inimigo e causar seu fim da maneira mais rápida possível.

    E ali, depois de ter acertado ele, não tinha dúvidas.

    — Precisamos de um milagre.

    A criatura o escutou, e gargalhou apontando a mão.

    — Nem mesmo isso vai fazer com que…

    Uma explosão surtou na perna do Rastro. Um segundo depois, o som de um disparo distante. Mais uma vez, ele caiu ajoelhado sem ao menos ter noção de onde ou quem havia acertado ele. E era exatamente por isso que Marcus era essencial.

    Os demais puderam respirar.

    — Dez segundos — informou Marcus. — É o que consigo até a próxima bala.

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