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    Manu andava atrás de Leonardo Vulkaris com uma prancheta na mão, no meio do pátio. O espadachim apontava para os lados, indicando ordens para os outros rapazes. E Manu anotava cada um dos seus passos, cada um dos seus movimentos, cada fala.

    Para ela, para os seus experimentos, tudo o que precisava era do homem mais forte da Cuba para fortificar seus dados. Só assim conseguiria montar o verdadeiro guardião. Quando ela abaixou a cabeça para uma mais anotação, ela não notou que ele tinha parado.

    E bateu com a cabeça nele.

    — Droga. — Ela soube que tinha feito besteira. E ao levantar a cabeça, Leonardo e os outros a encaravam. — Desculpa. Desculpa. Não vai acontecer de novo.

    Leonardo suspirou.

    — Manuella, sabe que eu não me importo de ser uma cobaia para seus experimentos, mas sempre acaba fazendo alguma coisa que deixa todo mundo distraído. — Ele olhou ao redor, todos tinham perdido realmente o foco das ordens. — Pode ficar um pouco mais afastada?]

    — Mas… eu não vou conseguir captar toda a sensação, senhor. — Manu puxou a prancheta com as folhas para perto do peito. — Essa é uma pesquisa importante. Por favor.

    — Desculpe. — Leonardo virou. — Preciso que todos eles entendam que se distrair pode causar um problema sério. Qualquer erro pode custar uma vida. Tem outras pessoas que podem ser fontes das suas pesquisas. Aposto que elas gostariam de…

    — Não. — Manu nem percebeu que tinha respondido. E ao arregalar os olhos, afastou um passo para longe. — Perdão. Não quis te desrespeitar, senhor. Eu vou voltar para minha sala.

    Sem dar tempo para qualquer um deles falar, Manu virou e saiu caminhando em passos apressados. No meio do caminho, abraçou a prancheta continuando em linha reta e de cabeça baixa. Quando levantava, quando estava sempre atrás de alguém, ouvia sempre as mesmas coisas.

    — Você não tem outra coisa pra fazer? — Heian questionou ao perceber que ela tinha o seguido por horas. — Aqui não é lugar para criança.

    Pior ainda foi o Atirador Marcus, que só de ver ela se aproximando, levou a mão no coldre. Ele realmente viu um perigo se aproximando. Uma jovem aspirante a cientista que queria fazer o melhor para a Cuba, e simplesmente descartada.

    Degol e Meliah não gostavam de pessoas despreparadas na ronda. Arsena e Magrot sempre estavam em expedições fora da Cuba a pedido de Clara. E Duna era um velho caduco que roubava seus projetos para ganhar créditos com os outros.

    Ela quis entrevistar Juno uma vez, mas quando viu que ela era uma mulher que tinha tudo, menos vontade de responder perguntas… diretas e objetivas, sua vontade caiu. Agora, o que ela tinha era somente uma pequena sombra sobre seus dados acumulados daqueles meses inteiros.

    — Está na hora de comer.

    Alguém passou por ela com uma voz divertida. Manu reconheceu, mas não sabia de onde. Ela levantou os olhos mais uma vez. As costas do homem eram largas, seus cabelos brancos e pretos, um pouco iguais aos seus, levando o fato de que os dela eram rosas.

    E a risada dele quando encontrou com os outros era…

    Que sensação seria essa?

    — Essa é a melhor carne da região. — Uma voz descontraída, firme e gentil. — Quem estiver falando contra isso, vai se ver comigo.

    Os outros riram dele e se juntaram na mesa para almoçar. Era começo da tarde, então, ninguém se importava de sentar mais um pouco nos bancos de madeira e dividirem um pouco de história. E ele escutava com afinco, perguntava, se interessava.

    Aquele era o homem que o ajudou contra Duna… O nome dele era…

    — Ei, Dante… — Lado oposto da mesa, vindo em sua direção, o Juiz. Era assim que chamavam ele depois de ter derrotado um dos Felroz Mutantes com Leonardo. Gerhman, o Juiz. — Achei que estivesse de ronda no lado Sul hoje, o que houve?

    E quando ele perguntava algo, todos os outros se encolhiam. Não porque queriam, mas a presença dele era estranha. Assistir suas palavras se tornarem praticamente uma sentença era ter medo de qualquer coisa.

    — É meu horário de almoço — respondeu Dante apontando para o prato. Um ato óbvio. — Assim que eu terminar, vou voltar.

    — Entendi. Mas, Degol pediu pra avisar que um dos garotos que estava do lado leste teve um acidente agora pouco. Preciso que esteja lá agora.

    A pressão de German era uma tomada por palavras, mas Manu não tinha sentido a estranheza de uma resposta acirrada contra ele. Figuras conhecidas dentro de Cuba não eram respondidas, nem mesmo argumentadas.

    — Como eu disse, assim que eu terminar aqui… — Dante pegou a colher. — Eu vou.

    — Dante, ele disse…

    Num suspiro lento e pesado. Foi somente isso e Gerhman parou de falar na mesma hora. Ele levantou os dois braços, com os olhos baixos.

    — Entendi, entendi. Depois do almoço.

    O velho sentado apontou o garfo para ele, assentindo. O Juiz não deu nenhum pior além. Simplesmente saiu andando falando no comunicador. Dante ainda manteve-se sentado, ouvindo as histórias.

    Manu ficou estranhamente admirada. Ele podia falar daquela forma com Gerhman e os outros?

    Então, ele era… mais poderoso?

    Ela não podia perder essa chance. Se levantou, puxou a prancheta e foi até o banco, sentando um pouco mais afastadas, mas recebendo um olhar do próprio Dante. Por um segundo, quando ele abriu a boca, achou que as palavras que sairiam dali teriam o impacto… vaza daqui criança.

    No entanto, o que ouviu foi:

    — Manu. — E um abrir de braços convidativo. — Conversei com Duna, está bem? Ele disse que vai parar mesmo de roubar seus projetos. É um cara difícil, mas consigo convencer ele fácil, fácil.

    — Ah… — Não era medo, não era temor, nem receio que saiu dela. — Obrigada, senhor.

    — Por nada. — Ele tinha apontado para a mesa, a frente dela. — Já comeu? Pega alguma coisa.

    Sem perceber, sem se dar conta de que estava infiltrada em uma estranha conectividade com a presença daquele homem, sua prancheta não foi mais tocada pelo restante do dia. Havia alguns pequenos estalos, onde ela sentia que suas pesquisas não precisavam de dados anotados.

    Se seus olhos captassem a verdadeira natureza do que era o objeto ou alguém, ela conseguiria entender. E foi isso que aconteceu. Captar a presença de Dante, seus feitos, sua risada e sua forma de questionar, comentar. Além de ser receptivo, o que era muito estranho. Homens fortes não eram assim.

    Suas análises mentais questionavam uma a outra. Quanto mais observava sua cobaia, mais questionamentos se formavam. E mais respostas precisavam de perguntas. Essa era sua habilidade…

    Projetar.

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