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    — Gostaria de ir, mas não quero ser um peso morto para vocês – disse Dante a Heian. – Prefiro cuidar das pessoas aqui caso for necessário. Mas, duvido que vamos precisar.

    A maca da ala hospitalar por Heian ‘Cerberus’, que o encarava com um olhar indiferente, mas com aquela sensação de que as palavras dele não bastavam. Dante tinha surrado ele bem o suficiente para entender seus sentimentos pelos olhos.

    — Clara sempre diz que você é modesto demais – respondeu com um suspiro. – E isso me deixa irritado na mesma proporção que me intriga. Nós estamos com esse plano faz mais de dois meses. Desde que você chegou aqui, mesmo que tenha sido metade de um ano, você já deixou claro que pode lutar contra qualquer um.

    — Mas não vou ser um peso morto.

    Simone tinha terminado de costurar uma pequena parte do dedo mindinho de Heian. Dante não entendia porque ele precisava ir ao centro médico de Cuba sendo que poderia se regenerar com sua habilidade, mas se ele gostava disso, então…

    Tinha muitas coisas que mudaram. Marcus, Leonardo e até mesmo Heian pareciam mais propensos a querer demonstrar para as pessoas que moravam na Cuba de que realmente existia humanidade neles.

    Dante tinha uma crença de que por serem fortes, poderiam demonstrar essa humildade de maneira diferente do que se enfiar em uma ala para serem ajudados quando não precisassem. Mas, Clara tinha deixado muito bem explicado que eles eram um espelho do que todos deveriam fazer em momentos de crise.

    — Eles se machucam nas tarefas do dia a dia. Se não sentirem confiança de irem até lá, nunca saberemos se estão realmente machucados ou não.

    Dante deu de ombros. Ele sempre ia até Simone quando terminava de treinar, tanto que os olhos dela mapearam suas palmas quando estava conversando com Heian ali. E sabia que ela comentaria algo que o deixaria constrangido, como sempre.

    — Peso morto seria se você não soubesse fazer nada – disse Heian. – Já te vi enfrentar todos aqui dentro nos treinos, e ninguém nunca ganha direito de você. Sempre aprendem. Comigo foi a mesma coisa.

    — Mas é diferente contra um Felroz. Eles estão lá fora esperando para te matar, não aprender. – Dante deu um sorriso de lado. – Sei que gosta de mim por perto para limpar suas cagadas, mas eu não posso fazer isso pra sempre.

    O bufar em resposta foi sarcástica.

    — Eu limpo a cagada dos outros, não o contrário. Preciso te lembrar que sou praticamente o único que faz a parte de suporte nessa expedição?

    — Expedição? Estão chamando o Lagmorato assim agora? – Dante não sabia se dava uma risada ou ficava sério. – Heian, coloque na cabeça dessas pessoas que eles estão indo enfrentar uma criatura que pode realmente matar eles.

    Simone cortou o ponto, levando o rosto.

    — Eles sabem qual a sensação de serem quase mortos quase todo dia. – Ela tirou a luva da mão e jogou fora. – Seus treinos são normais para você, Dante. Sempre fez isso a vida toda. Mas, para quem está de fora, é como uma sentença.

    Heian concordou com a cabeça algumas vezes.

    — É bem doloroso perder para alguém que não tem habilidade.

    — Tem isso também. – Simone girou na cadeira, colocando a mão entre as pernas. Os olhos antigos e experientes dela não deixavam escapar nada. – Imagina lutar por meses contra alguém que não tem habilidade e perder todas as vezes? Que frustrante deve ser.

    Novamente, Heian balançou a cabeça concordando.

    — Mas eu não estou fazendo nada demais – corrigiu Dante na mesma hora. – Ora essa, agora eu sou o culpado disso? Eles me pedem para treinar, e eu ensino.

    — Ah, garoto. Você realmente tem a habilidade de não entender seu lugar nesse mundo, não é? Bom, eu já acabei. – Ela ficou de pé. – Seu dedo foi colocado no lugar, não que precisasse disso, Heian. Mas, se cuide lá fora. Não quero ter que sair correndo daqui porque vocês pegaram leve nessa tal expedição.

    — Pode deixar comigo, senhora.

    Heian ficou de pé, Dante também. Assim que iam sair, Simone o chamou mais distante, virado para um quadro, anotando algo na parede:

    — Dante, você fica. Ainda não te examinei.

    — Boa sorte no sermão que vai receber. – Heian e ele cruzaram os punhos, batendo levemente. – Até.

    Dante ficou parado. Simone rabiscou mais alguma coisa no quadro, e virou para sua mesa, pegando um papel e prensando ele também com um pequeno alfinete. Assim que virou, esticou a mão levemente para a maca, solicitando que sentasse.

    Obedecendo, ele sentou ali acomodado com o ambiente silencioso e com um pequeno murmurar da doutora, que parecia cantar algo antigo. Ela voltou para sentar na suas cadeira e esticou a sua mão.

    — Deixe-me ver o que tem ai.

    A palma de Dante foi segurada com sutileza, e ela puxou a manga do casaco para cima. Os calos e cicatrizes que se estendiam pelo seu braço não tinham um fim indefinido, se unindo em linhas mais profundas e também em alguns roxos causados por impacto.

    E ela levantou os olhos por um segundo, analisando seu rosto, voltando em seguida para as feridas.

    — Essas são recentes. Quando veio aqui no mês passado, você também tinha recentes. Seus treinos com esses meninos são praticamente inofensivos para você. Eu assisto, você sempre vence. Então, esses aqui são de algo ou alguém que te acertou. Faz algum tempo que vi isso. E esses calos nos dedos, você tem praticado com alguma coisa, não é?

    — Não dá mesmo pra esconder nada de você, hein?

    — Não. Não consigo ignorar quando alguém está fazendo besteira e não quer contar. – Ela recuou seus braços, colocando entre as pernas mais uma vez. – Pode falar, o que houve?

    — Não é nada demais, senhora. Estou apenas treinando uma pessoa nova. E ele aprende bem rápido, por isso, me acerta de vez em quando. Eu também estou impressionado com isso, porque é muito difícil acontecer, mas todo mundo é superado algum dia, não acha?

    As sobrancelhas dela se cruzaram em questionamento.

    — Não fale besteiras. Essas pessoas olham para você com admiração por nunca ser derrotado ou superado, e acredito nessa sensação toda vez que te vejo. Mas, seus ferimentos estão se recuperando gradualmente, o que é bom. Você deveria tomar cuidado com seus pensamentos tanto quanto com esses no seu corpo.

    Dante concordou. Ele não iria contar a verdade para ela, mas tinha que concordar com o comentário.

    — Farei isso, senhora.

    — Ótimo. Pode ir agora.

    Dante se foi atravessando com uma única coisa em sua mente: Como eu poderia contar que estou caçando os Felroz com Holanda nas rondas?

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