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    A mochila foi solta no chão. Holanda olhou para Dante ao seu lado. Os movimentos do humano foram simples em abrir a mochila e segurar duas pistolas, colocando-as no coldre da cintura. Seu casaco tapava bastante o que ele possuía ali debaixo, mas naqueles meses todos, Holanda não foi o único que tinha aprendido algo novo todos os dias.

    Por mais que sua mente processasse os dados para compor uma nova melhoria no que deveria ou não fazer, ainda era sempre interessante observar o que Dante tinha preparado. Ele não parecia diferente dele, no final das contas.

    Aprender era essencial para sobreviver, e para sobreviver, a única necessária era se adaptar ao perigo.

    — O que foi? — perguntou Dante colocando uma pequena e afiada adaga em um coldre na perna. — Fiz algo errado?

    — Não, senhor. Estou apenas esperando.

    — Certo. Vick vai nos mostrar um caminho seguro. Nós estamos praticamente na boca do ninho de Felroz, mas não vamos atacar de uma só vez. Usaremos a frequência baixa amplificada em uma área para fazê-los fugir.

    — E se eles não fugirem?

    — Então vamos precisar atacar. — Dante mexeu os ombros, ajustando o novo peso e depois passou a mão em Nick e Lilo. — Nós também temos alguns amigos espalhados pela cidade. Se precisar de qualquer ajuda e eu não estiver por perto, chame por ‘Rakun’.

    Holanda concordou. Era um pouco estranho ver uma criatura, uma versão alinhada aos Felroz, sentada e confortável nos ombros dele. Não julgava os movimentos de seu mestre. Os pequenos Sugadores o ensinaram alguns movimentos diferentes também, por isso os respeitava.

    Só não entendia como Dante conseguia identificar quem era ou não aliado.

    — Aqui. — Três pequenos cubos de transmissão foram entregues para Holanda. — Coloque nas marcações que Vick passar. Depois só voltar para cá, estarei te esperando.

    — Sim, mestre.

    Holanda partiu correndo, meio desengonçado, mas quando atingiu certa velocidade, seus passos se tornaram saltos. Ele cortava o ambiente destroçado por veículos e destruição da cidade, com os prédios e casas jogadas para baixo em um piscar de olhos.

    Assim que recebeu um pequeno impulso elétrico em sua mente, uma marcação amarelada surgiu para entre alguns escombros. Ele foi até lá, abaixando lentamente e colocando o cubo. Assim que se levantou, suas costas ficaram rígidas.

    Uma pressão estranha se formou atrás dele e um pequeno bafo quente passou pelas suas entranhas metálicas. Holanda não se mexeu — os dois olhos azuis se transformaram em vermelho rapidamente.

    — Identificando — sua voz cortando o transmissor com Dante. — Felroz localizado em minha posição.

    Acabe com ele.

    A voz de Dante se encerrou pelo comunicador, e Holanda girou velozmente. A criatura era grande, duas vezes maior, mas não esperava pelo seu movimento. O punho se formou rapidamente e um soco o pegou na costela.

    O rugido da criatura se alastrou. O braço de Holanda se esticou e girou como um chicote por trás do pescoço dele, o enrolando e trazendo para perto. A pressão na garganta da criatura enquanto ela berrava, Holanda não sentia piedade por ela.

    Senhorita Manu tinha seus sonhos tomados por elas… então eu tomarei suas vidas até que ela possa dormir sem gritar.

    A outra mão se esticou e seus dedos se formaram em uma lâmina. E num único avanço, penetrou os olhos e o focinho. O sangue fugiu pelo outro lado, pelo rombo deixado. Quando Holanda o largou, abriu os dedos, limpando-os do líquido.

    — Criatura eliminada, mestre. — Seus olhos vermelhos voltaram a tonalidade azul. — Indo para o segundo ponto agora mesmo. Já já estarei de volta.

    — Vá em segurança. Estou esperando você.

    Dante ficou parado do outro lado, com os braços cruzados e olhando adiante. Não demorou para que Holanda marcasse os pontos e começasse a fazer o retorno. Ele era um robô programado para lutar, como Manu queria, mas nunca esperou que sua evolução fosse tão rápida e tão precisa.

    Ele já era um espelho de tudo o que era hábil nos outros, mas Manu tinha feito algo na última semana que Dante não sabia de verdade o que era.

    — Apenas atualizações — disse a garota ao sorrir de orelha a orelha. — Holanda agora é bem mais forte. Ele precisa ser assim, para que o senhor não fique preocupado com ele.

    Mas essa atualização, Dante não fazia ideia do que poderia ser. Vick também não tinha uma noção exata já que por ser um espelho, ela temia que o robô pudesse reconfigurar algo ao ler o que ela sabia.

    Quando Holanda apareceu correndo por dentro de um prédio, Dante reconheceu um vulto atrás dele, praticamente algumas dezenas de metros, voando na sua direção. O robô não parecia saber, nem precisa.

    A aura emanando daquele monstro não precisava ser analisada, era só o reconhecimento do que o Rastro tinha deixado na mente de Dante. Ele rapidamente levou a mão a cintura, puxando uma das pistolas e apontou.

    — Se abaixe — ordenou sem alarde.

    Num salto de peito, Holanda se jogou para o chão. E o gatilho foi puxado. Sem som, sem pressão nos dedos ou chacolhar. A arma nem parecia ter disparado, mas o som seguinte era um berro de dor com resmungo.

    Deveria ser um incômodo enorme receber um tiro bem no meio da testa. A criatura se materializou, caindo contra uma das pilastras e vigas, se debatendo de um lado para o outro. Tinha um rosto redondo, corpo cumprido e sem braços, apenas duas asas bem estreitas que a fazia flutuar um pouco acima do chão.

    — Belo disparo, senhor. — Holanda já estava de pé. — Posso…?

    — Sim, por favor.

    A arma foi devolvida ao coldre. Não gostava muito de utilizar delas por conta da falta de familiaridade, mas era necessário. Seu trabalho não envolvia mais lutar de frente, agora Holanda podia fazer seu trabalho.

    Num só golpe, o robô acertou o peito, perfurando o coração e puxando para fora. Levantou, acenando com o órgão na mão. Quando chegou perto, Dante esticou a mão, virando o rosto.

    — Não é apropriado. — O cheiro daquilo era um podre misturado com fezes e qualquer coisa que pudesse destruir um homem rapidamente. — Pode ficar com você.

    — Os Sugadores se alimentam de órgãos, senhor. — Ele esticou na direção de Dante que recuou um passo. — Lilo e Nick gostam disso.

    Os dois Sugadores pularam dos ombros de Dante na mesma hora, atacando a carne como se não tivessem comido por décadas. Dante mantinha a mão no nariz, mas concordou.

    — Deixe eles comerem então. Depois nós continuamos.

    Holanda partiu com os dois para perto do cadáver. O buraco deixado por Holanda foi a porta de entrada. Os dois se enfiaram lá dentro, mastigando e devorando. Dante não sabia que eles comiam dessa maneira, mas lembrava que Nick tinha uma fome por Energia Cósmica esmagadora.

    — Nick era alimentado pela sua Energia Cósmica — disse Vick. — Sem você, ele tende a retornar aos hábitos de comer seus algozes como fonte de alimento e evolução. Ambos precisam ser nutridos, Dante.

    — Bom, ninguém quer comer isso mesmo. — Era até divertido ver Holanda abaixado perto do corpo, olhando para o buraco que tinha sangue escapando. — Deixa eles se divertirem.

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