Capítulo 488: Alimentos
— Eles gostam bastante de comer Felroz, senhor. — De volta, Holanda esticou a mão, deixando Lilo e Nick voltarem para os ombros de Dante. — Deveríamos alimentar ainda mais nossos pequenos colegas.
Dante apenas concordou com a cabeça, ainda focado nas últimas mensagens que o outro esquadrão havia trocado no Hospital. Leonardo tinha sido o único que dava ordens, e por mais que eles estivessem praticamente em conjunto, o Hospital tinha muitas áreas largas.
A ideia era limpar todas ao mesmo tempo, sem dar vazão para que todos os Felroz se reunissem em um lugar só. A tática era limpa demais para ter erros, e todos habilidosos para proteger uns aos outros.
— Está preocupado com todos eles? — Holanda virou um pouco a cabeça, curioso. — A empatia humana é realmente fascinante. Sempre vejo sua preocupação com os outros, mas nunca consigo mesmo. É alguma forma de reviver algumas falhas?
— Nossa. Pra que essa pergunta agora? — Dante deu uma risada. — Eu sei que sou falho, mas precisa ficar jogando essas bombas assim do nada?
— Apenas curioso — os ombros do robô subiram e desceram. — Muitas das sensações humanas ainda estão longe do meu entendimento contínuo. Normalmente não se faz essas perguntas por vergonha ou receio da resposta, mas eu não possuo isso, senhor. Precisamente, fui criado para ser objetivo e técnico.
— E faz isso bem demais. — A garganta de Dante parecia ter sido amarrada pelas palavras dele. — Mas, você não está errado. Humanos sentem a necessidade de serem bons uns com os outros por conta da nossa própria natureza e ambiente. Se você lembrar bem, a Cuba é um lugar que foi construído com algumas funcionalidades, então, se alguém estiver em perigo, nós somos obrigados a ajudar.
— O senhor gosta de ajudar os outros dessa maneira?
— Gosto de ajudar com o que for preciso.
Holanda não respondeu de imediato, apenas fitando-o. Dante não podia entender completamente o que se passava em seus processamentos, mas a máquina era mais inteligente do que imaginava. Tinha quase certeza que se continuasse assim, estaria no mesmo patamar que Vick e Veronica.
— O senhor gosta de lutar — afirmou Holanda. — Nas nossas lutas, sempre fui derrotado pelo senhor. Mas, o que não consigo compreender é por que ainda machucado o senhor segura tanto de si. Existe algo que você teme de verdade?
Dante o fitou com cautela. Essa resposta era perigosa de ser dita por ele mesmo ou até mesmo pelos outros. Um medo que segura sua alma, que danifica seus músculos e atrofia sua mente. Aos poucos, um medo incessante que vai tomando conta da sua própria vida.
— Tenho medo de não ser mais útil — revelou com rispidez. — As pessoas estão lutando pelas suas vidas lá fora, e as vezes lembro que eu podia fazer isso, mas acabei perdendo para uma criatura e… bom, aqui estamos.
— O senhor se culpa pela derrota que teve?
— Eu ganhei a guerra. — O rastro não tinha vencido. — Somente a batalha que eu perdi.
Holanda não ficou convencido:
— Está tentando acobertar sua derrota com uma vitória dos outros humanos, senhor? Isso é um ato um pouco covarde.
A boca de Dante foi se abrindo aos poucos até que ele deu uma risada longa e pesada.
— Isso é bem verdade. Droga. Fui descoberto. — Dante respirou fundo, terminando de rir. — Eu queria poder dizer que ganhei aquela luta, mas eu perdi mesmo. B om que você está aqui pra me lembrar, Holanda.
— Um agradecimento não parece ser a maneira correta de… agradecer por uma frase mal-intencionada, senhor.
Dante não se importava mesmo com aquilo.
— Tudo bem. Você é curioso por natureza, como sua criadora. Por isso, estamos aqui.
No meio da cidade, um pequeno grito, agudo e fino, repercutiu até eles. Holanda se virou rapidamente, mas a mão de Dante repousou em seu ombro. O berro era a indicação de um predador com fome.
E a vontade do robô era unicamente para derrotá-lo.
— Ainda não está na hora — disse Dante atrás dele. — Deixe os Cubos fazerem o trabalho.
O mais preciso entre uma adaga e uma espada, quanto de ângulo era necessário para acertar um golpe que poderia matar? Arsena tinha a mesma pergunta todos os dias, vendo que talvez, se não fizesse direito, seria superada mais rápida do que tinha pensado.
Porque Juno era praticamente uma criatura que se movia sem parecer temer nada e ninguém.
Arsena deslizou por debaixo do imenso braço do Felroz com rosto de porco, e fez três lanças se firmarem diretamente nas costas dele. A criatura soltou um berro, caindo em cima de uma das macas.
O sangue jorrou, um líquido escuro e viscoso. A cabeça, era somente a cabeça que deveria ser decepada. Ela puxou o braço para a lateral, a espada se formou. Cristalina como gelo, o cabo sendo firmado no vermelho das chamas.
E num movimento, acertou precisamente o meio do rosto dele.
— Coisa horrorosa. — Ao puxar a espada, o corpo dele caiu para o lado.
Atrás de si, Magrot segurou o pescoço de outra criatura, puxando para perto e rindo. As chamas expeliram por debaixo de sua manga, fervelhando a carne e pele até que não sobrasse nada além de uma estrutura carbonizada.
Soltou ele, olhando para sua colega.
— Precisamos avançar mais.
— A desgraçada da Juno já está na frente com o Atirador. — Arsena passou por cima de três Felroz, mas o chão era repleto dos que tinham derrotado. Praticamente trinta deles. — Se a gente quer ganhar aquela cama nova do Duna, vamos precisar de mais do que só bater em alguns Felroz.
— Sei disso. Minhas costas estão doendo bastante com a madeira grossa que a gente arrumou. Podemos tentar pegar um ou dois colchões pra forrar. — Magrot levou a mão até a lateral esquerda das costas, estalando um pouco e rangendo o metal que carregava metade do seu corpo. — Eu queria poder só não sentir tanta dor de vez em quando.
— Se conseguirmos tirar esse lugar da lama, então vamos conseguir alguns remédios pra você. — Ela fechou a mão, escondendo atrás das costas. E pra mim também. — Vamos encontrar aquela garota. Só de pensar que ela está sozinha já me irrita.
Magrot e ela passaram o outro cômodo, dando de cara com o que parecia ser um pequeno e curto corredor para uma área aberta. Ao chegarem no meio dele, ouviram o estrondo ressoar e uma voz soar no comunicador rigidamente.
— Detesto ser a primeira a falar isso — era Juno, a voz dela bem áspera. — Mas, encontrei o primeiro Felroz Mutante com a Pedra Lunar.
— E ele não parece contente da gente estar aqui na casa dele — a resposta veio de Marcus. — Temos que conter os berros para que outros Felroz não venham. Magrot, Arsena, onde vocês estão?
Os dois passaram pela porta. Era um jardim, imenso, com praticamente dezenas de metros. E árvores cresceram no meio das estruturas metálicas e dos andares superiores. A copa dela era tão larga que cobria o teto, impedindo boa parte da luz do sol entrar.
Os vidros dos quartos e alas foram destroçadas pelos galhos. E as raízes se enfincavam no concreto, grossas e largas como se fosse um carro. Em cima, nos galhos mais afastados, a luz azulada brandia de um lado para o outro, se balançando e alcançando as alturas.
— Estamos aqui embaixo — respondeu Magrot. — Cacete, isso que é uma árvore.
— Sem brincadeiras — respondeu Leonardo do outro lado do Hospital, pelo comunicador. — Não deixem que essa criatura se junte. Os Felroz Mutantes sabem quando outros estão em perigo e vão querer se mover quando sentirem que seus colegas estejam próximos de morrer. Lembre-se, eles comem qualquer coisa que podem ter uma Energia Cósmica alta ou densa.
Houve um estalo de língua no comunicador.
— Adoro ser tachado de alimento por eles. — Era Marcus, novamente. — Juno, Magrot e Arsena. Vamos finalizar isso, agora.
— Certo — responderam juntos.
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