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    — Eu… vejo humanos… — a voz chegou a Marcus de repente. Juno e ele se atentaram na mesma hora, olhando para os lados. A voz se perdeu no meio do caminho, parecendo vir de todos os lugares ao mesmo tempo.

    Juno não se moveu desde que soube que o raio de ataque eram vinte metros. Não precisava se arriscar agora, só não poderia deixar que essa criatura interferisse na situação de Leonardo, que também não era das melhores.

    Pela última chamada, Heian e ele encontraram dois Felroz estranhos que tinham uma bolha no peito, e já era difícil lidar com dois deles, imagine com um que não dava para ver onde estava. Precisava pensar mais, agir mais, ser mais rápida do que o inimigo…

    — Sua mente está perturbada pelo que viu — disse Veronica rispidamente. — Se recomponha. Já enfrentamos inimigos piores.

    — Não precisa falar, eu sei disso. Mas você ouviu essa voz de agora?

    — Nada de novo. Felroz que consomem Energia Cósmica começam a falar besteira. A mente deles já foi corrompida uma vez, nada mudou. — Metade do rosto de Juno se deformou, puxando a aparência de Veronica, com os olhos estáticos e esbranquiçados. — Não se sujeite a pensar demais nos movimentos do inimigo. Identifique qual a posição dele, crie uma maneira de se aproximar e exponha para os demais.

    — Eu sei.

    As ordens de Veronica eram idênticas todas as vezes. Apenas vença. Pra ela era fácil, assistia os seus movimentos, mas não replicava eles nas lutas. Era Juno quem precisava ver através de tudo para chegar até o outro lado.

    Como não poderia sentir receio se nem mesmo enxergava o inimigo?

    — Eu… vejo os piores seres… respirando.

    A voz novamente chegou até eles, ecoando entre os galhos e copas. Juno não gostava do tom agudo e medroso do outro lado. Quanto mais medroso, mais pensante eram os inimigos. Dante tinha deixado isso claro uma vez.

    Se ele está ali com medo, pode apostar que burro ele não é.

    — Marcus, estou pronta. Se ele tem zonas onde pode atacar, então também vai ter onde eu posso ir.

    — No que está pensando? — o atirador perguntou. — Arsena e Magrot podem ajudar.

    — Ainda não. Se essa monstro está só guardando sua casa, ele não vai atacar a menos que parecemos realmente inimigos. Eles disse que somos os piores seres, então ele sabe o que nós somos. — Juno agachou um pouco e colocou a mão no galho grosso. — Vou aumentar minha velocidade… agora.

    Um pequeno trovão ressoou quando ele se libertou. Um rastro azul foi deixado pelo caminho, ela saltou mais uma vez. Os espinhos e agulhas vieram, mas não chegaram nem perto de acertá-la. Juno se concentrou na sua frente, pulando mais uma vez. Jogou as correntes, aumentando sua intensidade e enviando a si mesma para o alto.

    Lá em cima, poderia ser um alvo fácil, mas a copa da árvore balançaria com clareza. Ela fez uma das correntes se libertar pelo seu tornozelo, cravando abaixo. Mas ela permaneceu no ar. Seus olhos foram de um ponto ao outro, onde estavam se mexendo.

    O inimigo teria que atacar com a chance que foi mostrada. Isso se ele souber que não é uma armadilha.

    — Agulhas…

    Cerca de cinco sombras apareceram para Juno. Era a habilidade de Veronica impregnada em seu corpo. Identificava praticamente de onde poderia vir os movimentos. Mas, apenas quatro deles se mexeram.

    Logo, Juno encarou o quinto, um lugar mais isolado, bem mais à direita. O brilho foi fraco, mas ela viu. As correntes de sua perna a puxaram para baixo, direto para um galho que estava conectado diretamente ao tronco.

    — Eu achei, Marcus. — Ela saiu em disparada para onde o inimigo se escondia. — Ele está escondido. Consegue mexer a copa, mas está atacando de um lugar onde não mexe.

    — Inteligente.

    Essa palavra deixou Juno ainda mais desconfiada. Se o Felroz estava pensando dessa maneira, tinha compreensão de estratégias. E se podia pensar, logo era imprevisível. Finalizar ele agora era a prioridade máxima.

    Rompeu contra alguns galhos retorcidos, se enfiando mais a fundo pelo tronco. As copas começaram a balançar ao seu redor, e os raios falharam de novo.

    — Seu… poder… se foi.

    A voz dele sequer tinha morrido quando os filamentos elétricos se desfizeram em segundos. Novamente, Juno se sentiu sozinha no meio de uma floresta, sendo observada por alguma coisa que não a queria ali.

    Era a mesma sensação… daquela vez.

    — E seu corpo… voa.

    Os pés de Juno simplesmente se deslocaram para cima. Num segundo apenas, antes mesmo dela conseguir entender o que tinha acontecido, uma lufada de ar violenta a acertou no peito. Uma corrente de ar tão forte que a enviou de volta para fora.

    Ela se chocou contra os galhos, quebrando e partindo todos eles, caindo no outro lado do tronco. A dor que sentiu no ombro pelo choque a fez gemer um pouco, mas levantou rápido. Correu para longe, vendo as agulhas procurando por ela.

    — Esse desgraçado… — Juno saltou de uma das partes e pulou para um galho abaixo, escapando do ataque. — Não faço ideia de como ele faz isso.

    — O que descobriu? — perguntou Marcus.

    — Nada. Ele simplesmente me tirou de lá apenas falando que meu corpo voava. — Juno olhou pra cima. A copa ainda balançava, agora em outros pontos, diferentes de quando viu a primeira vez. — Ele é bem mais inteligente do que a gente pensa, Marcus. Bem mais.

    — Ele pode ser inteligente, mas nós estamos em maior número. Se ele precisa de um incentivo para mostrar sua cara, então, vamos fazer isso. Arsena, está com o dispositivo que o Duna tinha entregue?

    — Não precisa nem pedir, chefe.

    Lá de cima, Juno avistou Arsena saltando para cima de uma das raízes e rapidamente subindo usando os buracos e galhos retorcidos, se jogando de maneira absurda para cada canto. Já admirava a agilidade dela, mas depois que teve uma seção de treinos com Dante, o padrão de movimentação dela se tornou desigual.

    Num movimento curto, ela puxou uma adaga no vazio. Era a habilidade dela, conjurar qualquer tipo de arma que pudesse empunhar, e usou como um estilete para subir alguns poucos metros e se jogar para cima.

    Arsena enfiou a mão dentro de um buraco, sorrindo com a mesma psicopatia de sempre. Nunca entendi o porque ela gosta de estar com a gente, pensou Juno. Ela e Magrot sempre ficavam afastados, nunca se envolvendo em nada socialmente.

    Mas no meio do caos, eles se destacavam por méritos próprios.

    — Aqui está ótimo. — Arsena se jogou para trás, abrindo os braços em queda livre, mas antes de chegar ao chão, a adaga se transformou em um chicote, e ela o arremessou prendendo em uma raiz e descendo até embaixo.

    — Prontinho. Nem suei. — Nas mãos dela tinha um objeto pequeno, com um pequeno botão azulado. — Está na hora dos gritos, chefe. Se prepara, Juno.

    Ela apertou o botão com força soltando uma risada.

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