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    — Está tudo bem? — Dante perguntou puxando a adaga e cortando os fios que envolveram Holanda. Eram viscosos e grossos, bem parecido com cordas usadas em obras. — Ele te pegou de jeito. Como isso aconteceu?

    Solto, o robô tocou o solo e seus dois braços rotacionaram para frente, voltando ao normal. Apenas aquele movimento fez Dante entender que Holanda tratou o inimigo com menos do que deveria. Uma contração de membros, como ele fazia quando estava treinando. Mas, deixou que ele respondesse.

    — Apenas fiz o que achei ser necessário. Minhas análises sempre foram baseadas no que eles podem fazer, por isso, acreditei que por chegar perto demais, ele queria um combate corpo a corpo. Não tive tempo para me acostumar nem me adaptar.

    Seus dois olhos amarelados continuavam piscando. Ele está revendo sua própria derrota, pensou antes de bater a mão no ombro dele algumas vezes, tentando reconfortá-lo.

    — Não fique assim por uma derrota. Já passei por isso mais vezes do que gostaria e todas tem o mesmo gosto amargo. Perder faz parte, mas não pode morrer. A morte é a última derrota, entende isso?

    — Morte. — Ele demorou para concordar com a cabeça. Refletia ainda. — Eu entendo um pouco mais, mestre. Me diga, como derrotou tanto deles?

    — Pelo que entendi, aquela névoa era uma forma de sentir a Energia Cósmica. Quem estava fazendo ela conseguiu ver nossa presença. — Dante encarou a própria mão aberta. — Pelo menos, ele sentiu você.

    — Sua Energia Cósmica…

    — Como Vick uma vez te disse, eu não tenho. — Dante e ele caminharam para mais perto da beirada do prédio. Lá de cima, eles conseguiam ver a névoa ainda ativa, mas sendo carregada para outro caminho. — Eles acharam que tinham a vantagem numérica e acabaram dessa maneira. Como sempre, subestimando os outros.

    — Não fui diferente deles — disse Holanda. — Parece que ainda tenho muito a aprender. Uma pena que não podemos mais avançar contra eles.

    — Na verdade, nós temos que saber quem eles são. — Dante continuou observando a névoa seguir adiante. — Eles sangram como eu, pensam como eu, mas usam essa marca nos Felroz. Isso já é motivo para ir até lá, mas não podemos ir juntos porque precisamos segurar qualquer perigo contra a Cuba daqui.

    — Posso ir, senhor.

    — Não. Nossa comunicação depende de você. — Dante olhou pra ele, rindo. — Hoje, seu valor é maior do que o meu, Holanda. A senhorita Manu colocou um comunicador em você que retransmite para a Cuba em praticamente tempo real. Por isso, você fica e eu vou.

    Holanda reagiu mais rápido do que ele esperava:

    — Senhor, sem Energia Cósmica você não vai ter chances contra tantos deles. Se te levarem para a casa deles, serão centenas…

    — Sei disso, mas como eu disse, você é mais valioso do que eu hoje. — Dante mostrou um sorriso de canto, mesmo que suas palavras doessem mais nele do que nos outros. Sete meses aprendendo que nada poderia ser igual antes, pior ainda era saber se nunca chegaria no seu auge novamente. — Vou usar a roupa deles e montar na Lilo para chegar mais perto. Assim que eu tiver uma certeza do que está lá, vou voltar. Sua missão vai ser ficar e assegurar toda a área de qualquer um, mesmo que seja outro deles.

    — Mestre, eu perdi contra eles. Se eles avançarem, posso perder de novo. Minha forma de analisar não me deu nenhum indício de vencer sem precisar usar táticas que não são usuais. Contra humanos, sempre assegurar que não sejam mortos pela quantidade que ainda sobrou.

    Possivelmente, Manu deve ter dito algo para ele não machucar os seres vivos.

    — A única pessoa que você deve pensar em não machucar são aquelas que te ajudaram. Manu, Clara, as pessoas de Cuba. Qualquer outro que tem indícios de fazer mal, você pode tratar como se fosse um Felroz.

    Foi uma das coisas que disse a si mesmo quando viu que o mundo era diferente do que sua mente tinha imaginado. Agora, transmitir essa mesma sensação era sua missão. Muitas coisas que ele desvendou no tempo que estava fora da Capital, fora de casa, pelo mar, pelo mundo, tudo era uma questão de perspectiva.

    Se Holanda não soubesse diferenciar o bem e o mal nos seres humanos, poderia ser tratado como um bobo da corte. Seria apenas marionete de quem sabe da sua deficiência moral como um ser não vivo.

    Como ele não respondeu de imediato, Dante reforçou:

    — Você entendeu o que eu disse?

    — Sim, mestre. Eu entendi. Farei o necessário para auxiliar meus criadores e amigos. — Ele bateu a mão metálica na testa, como se fosse uma continência. Dante riu. — Farei de tudo para cumprir a missão, senhor.

    — Ótimo, ótimo. Eu vou descer, volte por agora. Qualquer coisa, eu aviso.

    Dante foi até o buraco e se jogou. Sem olhar para trás ou para cima, ele aterrissou batendo contra o solo gosmento de sangue. O corpo dos Selvagens ainda estavam ali, mortos, mas as criaturas tinham ficado intactas, presas por conta de Vick.

    Dante se aproximou de uma delas que se acuou, abaixando a cabeça até o chão. O medo, a angustia, não era somente porque se aproximou. Os Felroz também não fitava somente ele, era Lilo e Nick.

    — Felroz também seguem padrões — disse Vick. — Verifiquei que a Marca do Caçador em seus pescoços faz com que eles sintam quem é o verdadeiro líder do bando. Não foi difícil subjugar a marca deles pela sua, Dante.

    — Sou tão forte assim? — Era engraçado ouvir isso de si depois de tudo.

    Vick ficou em silêncio por alguns segundos.

    — A análise que fiz indica que eles foram feitos de montaria por algum tipo de habilidade propriamente estabelecida. Isso indica que existe um portador de marcas, um doutrinador de criaturas.

    — Vamos fazer uma visita a ele, então. — Dante esticou a mão na direção do Felroz. — Sua sorte está aqui. Você tem a escolha de morrer agora ou continuar servindo. Não a mim, porque não serei seu dono, mas a esses dois.

    Lilo e Nick mostraram os dentes, mesmo pequenos e em cima do ombro, rangendo para o Felroz.

    — Então, você vai me levar até o lugar onde aqueles Selvagens e com sorte, eu te mato de maneira bem rápida depois. Agora, levante a cabeça.

    Lentamente, a cabeça dele foi se erguendo. Os olhos do Felroz se tornaram solenes, e Dante esticou o dedo. Ela se posicionou melhor, mantendo as patas acuadas. Então, ele passou o pé e subiu. Com um tapinha no pescoço, ele levantou as pernas e virou a cabeça, esperando.

    — O que foi? Precisa que eu mande de novo? — Dante deu uma risada. — Deve ser estranho pra você ouvir isso, mas vamos caçar aqueles desgraçados que te fizeram de montaria.

    O Felroz soltou um rugido brando e empinou os dois ombros para frente. Dante segurou as rédeas, animado. Isso vai ser divertido, não é?

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