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    Fronteira virou seu rosto para o vazio, um pouco assustado, recuando apenas alguns passos. Havia algo que ele não queria que aparacesse, e pelo que seu corpo tremendo informava, essa coisa chegou e com bastante força.

    — Não — disse Fronteira. — Você… não.

    — Uma falha é uma falha onde quer que esteja, por isso, eles são tão imprevisíveis. — A voz recuou um pouco. Dante girou para a esquerda, e outro corpo flutuante tinha se estabilizado ali. Usava uma armadura vermelha, tão carmesim quanto chamas, e tão violenta quanto sangue. — No meio do inferno, uma falha custa muito. É por isso que ele está tão desesperado, Dante.

    — Outro corpo maluco que aparece do nada querendo falar comigo? — Já estava ficando de saco cheio dessas coisas. — Por que nunca é algo normal? Só me deixa cair no chão, acordar depois de três horas e voltar a ativa pro que eu estava fazendo.

    A nova figura soltou uma risada. Sua presença era quente, bem mais quente do que Fronteira. E sua postura era tão firme e forte que Dante não tinha certeza se conseguiria vencer em um mano a mano. Eu poderia tentar.

    — Poderia, mas falharia, Dante — o homem respondeu. — Me chamo Appos, conhecido como um dos poucos Regicidas do Mundo Eterno, guiado da luz e também das sombras. Um espírito que batalha por incontáveis milênios em busca de uma maneira de sustentar o meu peso. E quem você vê a sua frente é o Fronteira, como se chama, um espírito que busca trazer o desequilíbrio.

    — Appos, maldito desgraçado. O que veio fazer aqui? Você não deveria…

    — Ah, claro. — Appos respirou fundo. — Minha vinda custou certas funcionalidades e lugares que eu posso ir, mas não faz mal. Pela primeira vez, eu encontrei uma falha eu mesmo. Dante, eu poderia falar com você depois, mas isso me custaria mais do que posso um dia recuperar vividamente, por isso, falarei de uma forma que possa entender, certo?

    Dante esticou a mão, sem entender nada.

    — Pode falar, já estou preso aqui mesmo.

    — O lugar que você está agora é chamado de Fronteira da Vida, e essa criatura guia os seres que buscam de alguma forma trocar a própria vitalidade por algo que nunca poderão obter. O Rastro, o Mundo Espelhado, criaturas e lugares que você passou são parte disso, eles são o delimitador do que pode ou não acontecer, são feitos para pessoas sejam analisadas por seres como nós.

    — E o que vocês são?

    — A nomenclatura correta nos seus termos seria Espírito. Eu vago por incontáveis lugares, dimensões, vendo e analisando seres que podem ser úteis no combate contra a própria Energia Cósmica que destrói incontáveis mundos. Eu, Appos, sou um espírito de luta.

    — E esse merdinha ai é da morte?

    — Quase isso. — Appos voltou seu olhar triste para Fronteira. — Ele cria sua realidade para que as pessoas que estejam dentro dela sejam corrompidas por desejos que nunca irão alcançar. Formam vínculos falsos e cheios de ilusões capazes de tirar os seres vivos de suas verdadeiras lutas. Por isso, quando pisou aqui, sem Energia Cósmica, ele leu todos os seus pensamentos, toda a sua história, viu que sua ligação com Jix era forte, e tentou criar a própria destruição em sua mente. Sendo sincero, um homem normal faria o acordo com ele.

    — E o que eu ganharia em troca? — Dante fitou Fronteira ainda assustado, longe de Appos, com um rosto desesperado. — Olhe como ele está apenas observando você.

    — Ele não daria nada do que você já tem, por isso as pessoas que vivem a mercê dessa mentira. Fronteira é como um sangue suga de vitalidade, apenas drenando o que pode para se manter vivo. No entanto — Appos virou para Dante, sorrindo —, você demonstrou uma determinação que eu estava duelando contra faz anos. Sua batalha no Mundo Espelhado contra o Rastro das Memórias, você conseguiu vencer deixando para trás o que nunca foi verdadeiramente seu. Lutou como um guerreiro destinado a morrer, como aprendeu. Fez isso com Moonlich, mostrou que a falta de sua habilidade não seria suficiente para ele matá-lo. Preferiu morrer junto dele do que deixá-lo vivo. E o Bastardo, sua habilidade e sua capacidade de entender tudo ao seu redor. Nada daquilo poderia ser feito sem uma mente poderosa, um físico preparado e o espírito… é exatamente por isso que estou aqui.

    Dante estava cansado, de verdade. Fronteira era parecido com os Rastros, e esse novo homem, não fazia ideia de onde ele estava. Não tinha vontade de perguntar, mas sua boca se moveu, as palavras escapando procurando por um caminho:

    — Suas palavras são mais bonitas do que a dele, mas não faço ideia do que está falando. O que quer de mim? Seja apenas honesto. Não tenho tempo para perder com nada disso. Fronteira ou você, Appos, nada disso me interessa agora.

    — Eu sei disso. Está focado nos Selvagens que atuam ao sul de sua casa, porque eles tem uma fonte de poder debaixo da terra que pode vir a ser um perigo a todos. Seus colegas estão a nordeste, dentro de um Lagmorato, buscando reivindicar um lugar adequado para curar as futuras e atuais doenças. Seu amor está em Cuba, vendo a performance enquanto espera com aqueles que nunca poderiam lutar adequadamente. Ao mesmo tempo, seus pais estão se preparando para mudar para a Capital depois de um estranho surto de Felroz mutantes ao redor do vilarejo, cerca de quinze anos depois do último. Sua irmã está preparando o primeiro portal entre áreas, para ajudar no que for necessário e reconquistar as terras perdidas que são frutíferas. Seus colegas do mar buscam dois dos seus, tentando lutar contra um sistema opressivo que nunca vai cair sem a força necessária. E um dos homens que você mais procurava está tentando achar uma maneira de reencontrar porque ele sabe uma pequena gota do que seria o meu oceano, Dante. Nada do que eu falar sobre o meu mundo vai te interessar, então receba o seu mundo.

    Dante engoliu em seco. Como ele sabia disso tudo? Seus pais, sua irmã… Todos eles corriam perigo?

    — Sim, todos eles. Esse mundo foi feito para se destruir de um jeito ou de outro, e espíritos como eu buscam formas de não deixar isso acontecer. Eu vejo sua mente desde que você se tornou um verdadeiro lutador. E sei seu principal pensamento: “Não existe nada maior do que isso?”

    A voz de Dante ficou trêmula.

    — Como?

    — Outros espíritos também procuram por seus próprios… discípulos, por assim dizer. Eles querem um mundo onde não precisam mais se preocupar. Você encontrou vários, na verdade, mas eu não tenho permissão para dizer quem são. Esses buscam o que seus espíritos querem. Alguns destruir, outros apenas vencer, outros querem a morte do mundo inteiro, outros querem reconstruir. Alguns deles vivem escondidos, com medo da própria responsabilidade, outros apenas usam o poder dado a eles para fins individuais. Outros… — Appos esticou a mão para Fronteira — são apenas catalogados para uma função egoísta.

    Appos recuou as duas mãos para trás das costas.

    — Todos eles sentem medo do desconhecido, por isso são previsíveis. Sabemos calcular seus destinos, sua dor. Mas, desde que você pisou a primeira vez no meu mundo… não pude sentir isso.

    Os olhos de Appos viam um único homem, uma criatura de pé esperando uma resposta. Ao piscar, o pequeno humano foi substituído por uma breu sem fim, onde tentáculos enormes brandiam naquele mar preto, com olhos de todos os lados o observando, espadas nasciam do chão e o céu brandia em um azul claro e evidente.

    Appos não poderia simplesmente caminhar na direção daquela criatura estranha, mas poderia sentir que sua força ainda estava guardada para si. Não era outra coisa a não ser o próprio Dante, o espírito de combate dele, esperando.

    — Dante, sua existência… é uma falha.

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