Capítulo 500: Sinto o Vento
Dante abriu a boca e libertou todo o ar do pulmão de uma vez. Os olhos arregalados e levantando o braço na mesma hora. Sentiu algo esticar dentro dele, pelas veias e músculos, como uma corrente expressiva de energia, mas parou no pulso, se dissipando rapidamente.
Assustado, levou a mão ao peito enquanto se sentou em uma estranha mesa de madeira. Ao lado deles, olhos curiosos e estranhos, de figuras usando máscaras de ossos, roupas feitas de pele de animais, e cabanas esticadas por todos os cantos.
Lembrava daquele desgraçado do Fronteira e Appos, mas o tempo parecia ter se esticado mais do que deveria. Ele piscou algumas vezes, sentindo novamente o peito bater, sentindo seu corpo se aquecer mesmo que o paredão de barro ao seu lado fosse úmido.
— Eu… morri? — perguntou baixinho. Merda, não podia falar abertamente porque estava no covil do seu inimigo. Se eles soubessem, seria uma caçada. — Isso foi mais estranho do que aquele dia.
— Naturalmente, sua morte foi alinhada por mais de dez minutos. Seu coração ficou parado por esse tempo inteiro. Nunca esperei que você tivesse um choque energético. — Ela não parecia preocupada, mas Dante tinha suas próprias conclusões sobre o que Vick sentia de verdade. — Nick e Lilo tiveram que te jogar morro abaixo depois daqueles dois humanos te largarem no meio do chão. Deveria ser grato, mesmo que um pouco, a eles.
— Eu sou — respondeu baixinho tocando o peito. Não sentia a presença deles. — Onde estão?
— Boa pergunta. Depois que você foi pego, eles tiveram que se esconder junto do outro Felroz para não atrair nenhum problema futuro. Mas… o que me intriga é o que ocorreu com seu corpo quando estava caído?
— Olha, foi um sonho bem estranho.
Uma voz respondeu, mas não sendo de Vick:
— Eu tenho tempo… irmão. — Era uma mulher, claramente pelo tom. Ela parou onde ficava o portal de onde Dante foi colocado. — Me diga o que ocorreu para que seu corpo tenha se recuperado com tanta velocidade e quem te deixou naquele estado.
Dante não fazia ideia de quem fosse. A postura era de uma líder, dava pra perceber pela ofensiva e também pelas armas. E seu olhar, por trás da máscara, o mesmo tipo de olhar quando se estava enfrentando um inimigo.
— Vamos, pode começar a falar. Estou ouvindo.
— Eu… — Dante segurou o próprio peito novamente, sentindo uma estranha dor ocupar o mesmo lugar que seu coração. — Estava enfrentando os humanos. Era um humano e uma… máquina. Ele me acertou pelas costas e na cabeça. Eu achei que tinha morrido, senhora. Minha montaria me trouxe até aqui, e eu vi dois irmãos, mas eles…
Dante fechou a mão, fingindo a raiva.
— Eles disseram que eu não valia a pena salvar. Estavam na ponte.
— Sim, eles me falaram que você apareceu do nada. — Os braços cruzados despencaram para, então, seu dedo apontar para ele. — Seus ferimentos se curaram em uma velocidade que eu mesma fiquei um pouco surpresa. Deve ter sido isso quem te salvou.
Me salvou…? A habilidade do Bastardo era cura, mas Dante não tinha sentido nada do seu corpo melhorar desde o Rastro. Além da sua, essa também que o ajudava com ferimentos já tinha lhe deixado.
O que isso significava?
— Analisando estrutura corporal imediatamente. — Vick sumiu por alguns segundos, mas Dante ficou de pé, olhando para sua própria mão. As marcas, feridas e calos daqueles meses inteiros ainda estavam ali, mas ele não sentia mais a dor da fatiga. Nem dos músculos ardendo por conta daquele lapso de energia fria. — Dante, seu corpo… sofreu algum tipo de alteração. Existia cerca de duas maldições quando você caiu. Seu corpo despencou, eu vi sua consciência indo embora, mas isso…
Me diga o que é.
— As duas maldições que haviam se instalado diminuíram seu tamanho. Existe um fio avermelhado que parece ligar a elas, mas há uma terceira. Essa, eu não faço ideia de como apareceu ou como está absorvendo-as.
Então, tinha sido isso que Appos tinha feito em seu corpo. Não era um acordo, era apenas amenizar as dores e deixar que ele pudesse se movimentar direito. Depois de tanto tempo, não sentir dor já era uma vitória.
Agora, de pé, ele olhou para sua mão e respirou fundo.
— Me diga, irmão — a mulher se aproximou, fechando as duas mãos. — O que houve lá fora e o que aconteceu com você, de verdade?
— Dante — Vick rapidamente o chamou, o fazendo prestar atenção. — Ela está pronta para atacar.
Sua cabeça virou na mesma velocidade que o braço da mulher Selvagem se esticou. A pele dela endureceu como ferro, seus dedos se transformaram em lâmina. Toda sua pele se condensou em puro e bruto ferro.
E a mão de Dante respondeu no mesmo tom. Sua mão agarrou o pulso dela firme, não a deixando escapar. Não lembrava a última vez, não lembrava quando sentiu aquela sensação, nem mesmo quando teve um embate onde não teve medo de sair ferido fatalmente.
A única coisa que Dante conseguia passar para ela, com os olhos amarelados, um amarelo-escuro e profundo, era que ela não conseguiria matá-lo. Porque agora, mesmo sem saber o que Appos tinha lhe dado, ele podia sentir o vento, os movimentos, o olhar, a intenção.
— O que está tentando fazer, irmã? — perguntou Dante apertando ainda mais o pulso dela, a fazendo dobrar o braço e recuar um passo. — Atacando um dos seus irmãos, indefeso e machucado. O que está pensando?
O braço dela foi entortado para baixo, forçando também o corpo dela a recuar mais alguns passos.
— Não… — Ela ficou de joelhos, sempre pressionada. Seu corpo inteiro reagiu, se transformando em ferro puro. A roupa não fariam mais diferença agora que o ferro a domou, mas o olhar dela… eram medrosos. — Quem é você de verdade?
— Por que a pergunta estranha? — Dante sorriu.
Para a mulher, aquele foi um sorriso sombrio e obscuro. Os dois olhos amarelados, o sorriso cruel, a força e estranho poder que aquele homem tinha sobre ela. Mesmo que fosse um dos Irmãos Saul, ou os Crânios Sangrentos, nenhum deles tinha como quebrar sua armadura ou conseguir subjugá-la.
Então… quem era ele?
— Parece que terei começar por você, hein. — Dante forçou o braço dela para trás. — Será que vou alertar o Fronteira dessa maneira?

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