Capítulo 503: Os Demônios (II)
Quando Isha foi saudada pelo Anão e levada para mais perto, Dante se viu perdido entre os Selvagens. O aviso de Vick ainda soava em sua cabeça. Nick e Lilo estavam longe, mais distante do que ela poderia ver, e isso estava começando a ficar cada vez mais complicado.
Depois de alguns minutos, Dante deu um passo e recuou para fora da cabana. O cheiro, a forma e a textura do lugar lembrava do Nokia e seus dias no mar. Do lado de fora, no entanto, sua batalha ficava cada vez mais evidente.
Ele tinha ficado tanto tempo em Kappz e mesmo assim não tinha descoberto esse lugar rodeado de gente. A luta deles não era ao norte, onde a Cuba se encontrava. E lutavam praticamente para ganhar contra o Sul.
— O medo deles é compreensível – disse Vick enquanto Dante se afastava dali seguindo para o Sul. – Todas as expressões indicam o receio e o medo. Admirável seriam se conseguissem lidar com outra coisa a não ser a própria miséria.
Aquelas pessoas sem braços, aqueles homens e mulheres de cabeças baixas e olhos caídos, nada daquilo parecia fazer sentido.
— Por que eles se submeteram a isso? – A pergunta não saía de sua cabeça. – Por que eles não procuraram ajuda quando precisaram? Por que lutar contra tudo sem ao menos ter chance pra isso?
Não houve uma resposta da Vick. Dante piscou algumas vezes. As perguntas poderiam ser muitos, no entanto, ele precisava arrumar as coisas na sua cabeça. Desde que acordou, ele tinha sentido algo dentro dele se mexendo, alimentando sua força novamente, mas era diferente da última vez. Mesmo na melhor hipótese, sua habilidade não se recuperaria completamente. Era o que seu instinto dizia.
Dando passos para longe da cabana, chegando ainda mais ao Sul, ele atraiu alguns olhares curiosos e medrosos. As crianças que corriam pela trincheira observaram sua ida, e voltavam apenas comentando sobre as aberrações mais ao sul.
— É por isso que os Felroz foram reduzidos perto da Cuba? – Seus olhos repousaram nas criaturas amarradas pelos pescoços. Algumas com longas correntes em suas gargantas, a puxando para baixo. Outras caídas tinham línguas e braços para fora, parecendo mortas. – Eles estão usando elas como montarias sem terem dificuldade. Vick, como foi o processo contra aquele Felroz mesmo?
— A marca do Caçador foi retirada. Eu vinculei o rastro da sua Energia Cósmica nele para que fosse possível criar uma montaria sem a necessidade de um código de restrição.
— E onde ele foi se meter?
— Não sei informar também. Quando seu corpo veio ao chão, os três saíram apressados na direção da Trincheira. Eu tentei expandir meu sensor para aquela zona, porém, estou limitada em alguns metros.
Dante não parou, passando por algumas pessoas que vinham com alguns coelhos negros e um pequeno guaxinim. O rosto deles ao vê-lo passar foram de surpresa. Eles não eram acostumados a ver pessoas indo naquela direção.
Esse era o caminho para onde o Fronteira estava, aquele desgraçado. Não era necessário saber que encontraria um jeito, Dante sentia que naquela direção era o seu objetivo. Os Selvagens eram um produto do que aquela terra doente era, por isso, não podia culpa-los pelos seus atos.
Atacar para sobreviver era o que os humanos faziam. Viu isso incontáveis vezes quando procuravam poder ou uma maneira de sobreviver. Quanto mais longe um homem acha que pode ir, mais longe seu limite se encontra.
E agora, ele tinha entendido bem esse ponto. Não eram só os homens, e isso deixava irritado. Essas criaturas que viviam escondido na Energia Cósmica eram tão absurdamente covardes quanto aqueles que envenenavam a água para que não houvesse uma luta justa.
A terra inteira debaixo dos seus pés tinha escurecido. Quando a estranha energia fria tentou adentrar novamente em sua pele, encontrou a Energia Cósmica que Dante tinha esquecido por sete meses de usar.
E essa barreira lhe deixava ansioso, animado. Meses praticamente achando que seria um homem num corpo envelhecido sem nada a tratar, apenas ensinando. Sua vida era desenhada para lutas, então, ele queria isso mais do que tudo.
Agora, mais do que qualquer coisa, ele precisava eliminar alguns inimigos.
— Vamos começar por aqueles ali.
Haviam dois homens se aproximando. Seus passos não eram pesados, o centro de gravidade bem definidos, e suas posturas eram de combatentes ajustados. No entanto, Dante nunca tinha visto aqueles capacetes. Eram escuros, feitos de ferro, descendo pelo restante do corpo.
Uma armadura que parecia feita brutalmente para batalhas, e suas espadas alinhadas em seus braços também demonstravam que qualquer movimento errado eles seriam capazes de atacar em uma distância curta.
Eles pararam primeiro, sem ao menos conversar sobre, e Dante fez o mesmo. Estava longe da trincheira, mas não virou o rosto. Por alguma razão, sua mente dizia que ele precisava fazer aquilo.
— Quer se testar? – Vick perguntou rapidamente. – Dois oponentes diferentes, por assim dizer. Farei análise, se permitir.
— Faça – disse para Vick, mas serviu para os dois.
O da direita usava uma armadura Azul mais fina, com joelheiras, botas fechadas e não tirava sua intenção para cima dele. Dante sentiu novamente aquela aura, a sensação de estar sendo visado como um alvo perigoso.
A sensação de estar novamente lutando, de estar vivendo apenas aquilo que lhe serviu. Esse era o seu maior objetivo? Lutar? Dante concordou sozinho.
— Um Selvagem bem longe de casa – disse o homem da esquerda. Esse usava uma armadura vermelha, com um pequeno corte na lateral esquerda e uma capa. Sua mão foi a cintura, envolvendo os dedos no cabo da espada. – Veio atrás dos seus bichinhos?
— Bichinhos? – Dante o encarava por dentro da máscara de ossos. No momento que viu o Armadura Azul tirar três criaturas de uma sacola de cintura, seu sangue ferveu. – Nick e Lilo?
Vick rapidamente expandiu o seu sensor, e concluiu de maneira desgostosa:
— Não precisamos ir longe para achá-los, pelo visto. São eles.
Os dois balançavam de um lado para o outro como um chaveiro, e os dedos do homem apertaram ainda mais seus corpos desacordados. Dante fechou a mão e respirou fundo.
— Eles estão mortos?
— Claro que não. Sugadores são melhores vivos porque servem de cobaia. – Calmo, o homem devolveu os dois para a sacola. – Eu só queria mostrar que vocês perdem a noção quando estão desesperados. Vir para nossa terra, enviando esses… monstros nojentos…
Dante soltou o ar do seu pulmão dando uma leve risada.
— Eu tava querendo mesmo agredir qualquer coisa. – Ao levantar as duas mãos, ele chocou o punho de uma na palma da outra. – E se Deus existe mesmo, ele atendeu minhas preces.
Armadura Vermelha virou para seu colega, se divertindo:
— Esse ai parece que está meio perdido mesmo…
O Armadura Azul rapidamente reagiu, gritando:
— Cuidado!

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