Capítulo 504: Resgate
Isha tinha seu joelho curvado e sua cabeça baixa diante de seu irmão mais velhos. Mesmo que fosse um encontro antigo, ainda estava desconfiada de que não conseguiria enfrentar seus inimigos, e agora, a única coisa que restava era sua vontade.
— Sabe por que estamos lutando tanto contra o povo do Sul? — O Irmão Kenno segurava a taça feita de ossos na mão direita. — Lembra do motivo de sua mãe ter sido enviada para fazer um acordo?
— Claro que lembro, irmão.
— Então por que está me pedindo algo tão absurdo quanto perdoar aqueles que uma vez fizeram da nossa casa um cemitério? — Kenno não demonstrava emoção nenhuma a não ser desgostos ao proferir as palavras. — Os Cavaleiros e Caçadores vem do Sul, numa terra verde e sem monstros. O Doutrinador nos disse que eles são muito mais fortes do que nós, por isso precisamos nos guiar ao Norte, para a cidade de pedra.
Isha levantou a cabeça, apreensiva.
— Mas os humanos brancos nos matarão assim que pisarmos lá. Por isso os batedores sempre estão observando seus movimentos. Nós fomos derrotados por dois deles, apenas dois, irmão. O perigo está em toda parte, e nós somos fracos, estamos indefesos.
— Sim, eu sei disso. — Seu rosto suavizou um pouco lembrando de um passado não tão distante. Relembrar a morte de muitos dos seus era o que movia seu coração, ainda mais na direção que achava ser a correta. — Mas, os Cavaleiros são muito mais fortes do que os humanos brancos. Eles possuem armaduras firmes, espadas forjadas no inferno, são como guerreiros criados pelo Deus da Guerra. Nem mesmo a energia da Fronteira consegue acertar eles.
Isha não negava suas força, mas nunca admitiu ser derrotada apenas por isso. Ela queria um lugar para que seus irmãos pudessem se manter vivos, sem ao menos se preocuparem com a fome e miséria, mas os Caçadores sempre chegavam para cobrar o preço.
Era assim que eles mantinham o medo sempre vivo em seus corações.
— Pelo menos uma vez no mês eles chegam até nós — disse Kenno, respirando profundamente, pensando. — Precisamos subir até os humanos brancos, fazê-los entender o que eles irão enfrentar quando nós formos…
Isha não queria ouvir aquela palavra, então, abaixou a cabeça se enfiando na sua própria ideia de manter seu povo vivo. Kenno era um líder forjado das inúmeras batalhas que aconteceram nos últimos anos, mas nunca foi bom em escutar os demais ao seu lado.
Por isso convencê-lo era quase impossível quando a ideia de migrar ao Norte estava injetada em sua mente.
— Hoje é o dia que eles virão — continuou o Anão. Ele trocou o olhar para Isha, transparente e límpido. — E teremos que jogar os humanos brancos para eles. Dessa forma, podemos nos manter vivos por mais um ano, pelo menos.
Mais um ano… A sobrevivência de seu povo, feridos e caídos por doenças, não seria curada em um ano. Isha sabia disso melhor do que qualquer um. Sua mãe adoeceu por mais tempo, e nunca voltou a ser quem era.
Ela faleceu sem ter alguém que cuidasse dela. Morreu sozinha gemendo de dor sem ter alguém que pudesse retirar aquela dor de seu corpo.
— Enfrentar os Cavaleiros não está nos nossos planos — finalizou. — Por isso, assim que eles chegarem, nós iremos mostrar o que os humanos brancos possuem. Dessa maneira, eles serão o verdadeiro alvo até serem dominados.
Isha compreendeu em silêncio e concordou.
— Cuidado — Takka gritou para seu primo Jinbo. Levou a mão a espada rapidamente, tentando puxá-la, mas o Selvagem se aproximou muito mais rápido do que sua mente projetou. O pé do Selvagem esticou na direção, acertando o pomo da sua espada, forçando a arma para dentro de volta, e o braço dele foi na direção das costas de Jimbo.
Numa sequência de uma única respiração, o inimigo encurtou a distância, golpeou com a mão aberta as costas do Cavaleiro e prendeu a arma do outro. Takka ficou impressionado quando recuou arrastado no chão de terra.
Esse mesmo Selvagem segurou Jimbo pelo braço, o fez girar e os dois entraram em um combate curto e bem agressivo. Os dois tentavam acertar um ao outro, chegando a desviar por um fio de cabelo.
Quando a mão de Jimbo ficou livre, ele tentou puxar sua arma. O Selvagem reagiu na mesma hora. A palma dele acertou o antebraço, enviando o membro inteiro para trás com pressão e força. Numa careta, o Cavaleiro Jimbo arqueou a sobrancelha ao sentir a força, mas usou a outra mão para pegar a arma com a lâmina invertida.
O Selvagem novamente antecipou seu movimento. Seus dedos se abriram e ele acertou o capacete de ferro e completou o movimento com um chute na lateral, expelindo o outro braço. Com ambos os braços abertos, Jimbo tinha seu peito exposto e seu rosto escureceu na mesma hora.
Takka sentiu a premonição de seu amigo. Os dois pensaram a mesma coisa:
“Ele vai acertar”.
Com o peito exposto, Jimbo prendeu a respiração. E então houve um estalar de dedos. Jimbo desapareceu, sendo enviado para a posição de seu colega. Quando seus olhos voltaram a funcionar, ele via Takka com sua postura curvada, os joelhos tensionados e sua arma pronta para ser sacada.
— Esse é o seu fim, Selvagem.
A espada foi sacada velozmente. Um brilho repercutiu da bainha quando era sacada, e o som de um trovão parecia ter ressoado ao redor. A lâmina rasgou o ar liberando uma pressão absurda, quebrando as pedras e levantando a terra.
Momento depois, Takka sentiu algo estranho. Seus dedos, a mão, o pulso e antebraço, todo o lado direito de seu corpo tremia. A lâmina tremia violentamente contra uma barreira. E a frente dos dois, ambos Cavaleiros observavam o Selvagem com a palma erguida enquanto o ar entre a lâmina e sua carne se condensava.
Não, ele está gerando ondas, Takka sentia infinitas pressões menores entrarem em sua carne ao mesmo tempo que os dedos do Selvagem se moviam de maneira bem rápida.
— Quem é você? — a pergunta escapou da boca dele sem querer. Ele tinha bloqueado seu Flash, um dos golpes mais velozes entre os Cavaleiros como se não fosse nada. — Sabe o que está fazendo?
— Estou pegando o que é meu de volta, seu desgraçado.
O que é dele? Era a terra? Era vingança? Takka ficou perdido.
— Deixa eu assumir — gritou Jimbo.
Mas as palavras do seu amigo simplesmente atrasaram ainda mais sua mente. O Selvagem girou ainda mais rápido. Takka teve o pulso puxado, jogado para o lado, mudando sua posição. Tentou cortar para baixo, mas um bloco de ar se moveu depois do Selvagem ter o largado.
Seu corpo ficou exposto também, como Jimbo tinha ficado. O Selvagem chutou sua canela, fazendo as duas pernas serem separadas e esticou a mão. Takka sentiu ele agarrar algo em sua cintura, e assim, estalou os dedos de novo.
Jimbo tinha trocado de lugar com ele mais uma vez. A espada já estava erguida, era a chance de cortar o desgraçado de uma vez por todas. Ele jogou a Energia Cósmica para fora, fazendo seus braços se mexerem ainda mais rápido, ganhando força no caminho, juntando o movimento e a troca com a habilidade de movimento. Jimbo fez a sua própria habilidade ser ativada, vendo o caminho mais certo a ser feito, cortando através da ilusão, apenas mirando em um único ponto.
Quando sua espada desceu ficando avermelhada, um estrondo culminou para frente. Takka viu seu primo ser arremessado na sua direção em um piscar de olhos por uma força invisível e em seguida ele também foi arrastado para trás.
O vento simplesmente se convertia mesmo que o homem não se mexesse.
— Pronto. — O Selvagem levantou se colocando em postura relaxada. Em sua mão havia a pequena sacola. Retirou as duas criaturas de dentro. Assim que eles repousaram em sua mão, abriram os olhos lentamente. — Estão bem, pequenos? Desculpe a demora.

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