Capítulo 508: Viagem Estranha
— De Kappz? — Takka pareceu um pouco perdido. — Aquele lugar não é habitável.
— Agora é. Mas, eu não deveria falar pra vocês porque vai que voltam para suas casas e acham que podem vir até nossa casa pegar o que temos. — Dante fez uma cara meio preocupada, mas eram fingimento, os dois percebiam isso.
Estava na cara de que ele não era o único forte lá.
— Hein nunca atacaria um lugar pra começo de conversa — disse Jimbo, irritado pela indicação. — Somos um povo que tenta sobreviver mostrando o coletivo. Temos nossos inimigos, mas nunca faríamos outro dessa maneira apenas por prazer.
— Isso é verdade. — Takka não queria imaginar uma guerra com pessoas que eram meramente parecidas com esse velho na sua frente. — Tentamos negócio a partir do que os dois lados têm a oferecer. Como fizemos com Fronteira, como temos com os Vilarejos e outras cidades que são mais distantes do que Kappz, até outros Impérios que cruzam o mar. Temos maneiras de manter a amizade antes de queremos sangue. Esse caso de hoje foi completamente fora do padrão.
— Hum, sei — Dante mostrou desconfiança. — Como eu disse, deram sorte. Agora que sabem que eles são meus e eu sou de Kappz, o que vão fazer?
A mão de Jimbo foi até seu braço perfurado, e ele tentou se mexer, mas era ruim por conta da batalha de antes. Os dois eram formidáveis fisicamente, mas tinham se esgotado por completo mesmo numa luta curta como aquela.
Isso só indicava a ambos que Dante, na frente deles, era superior a qualquer inimigo que tinham enfrentado juntos.
— Eu posso ajudar a levá-los, se quiserem — disse Dante num sorriso malicioso — Mas não vai ser algo agradável de fazer.
Takka e Jimbo olharam um para o outro. Não seria ruim conhecer um pouco mais daquele cara, ainda mais ter uma aliança temporária. Hein também se beneficiaria com Kappz por conta dos materiais que poderiam ser comprados por eles, mas duvidava que o lugar tinha sido limpo para que sobrevivessem em perfeitas condições.
As histórias antigas contavam sobre os monstros e seus mistérios, sobre o subterrâneo que criava demônios, sobre a cidade que abrigava um Farol cheio de abissais, além de um Aquário que criava escravos para morrerem do lado de fora com a oferenda de que se fizessem algo valioso, seriam lavados e então entravam. Tudo isso para nunca acontecer.
Era um lugar brutal que o Imperador ou qualquer nobre faria acordo ou seria ousado para explorar a cidade.
Como eles poderiam imaginar que cada uma das histórias contadas quando eram apenas soldados teria o próprio Dante para destruí-las? Era impossível saber.
Com isso, os dois aceitaram a caronha de Dante. O pequeno Felroz em formato de cobra pulou do ombro dele, aumentando seu tamanho rapidamente. Ela tomou quase cinco metros inteiros, flutuando acima do chão e com uma boca cheia de dentes que mataria um homem numa dentada. Era esverdeada, com escamas duras.
— Esse bicho fica desse tamanho? — Jimbo segurava o braço, impressionado ao vê-lo. — E flutua?
— Como eu disse… — Dante subiu em cima de Lilo. Ele tirou a roupa dos Selvagens e jogou para o lado, deixando a vista seu uniforme normal avermelhado e a capa. — Eles evoluem também. Agora, sobem logo, vou levá-los até o Vilarejo, lá vocês podem achar o caminho pra casa.
O primeiro foi Takka, sentando lentamente. Quando se ajeitou, sentiu o corpo perder o peso inteiramente. Era como estar sentado em uma almofada muito macia e seu corpo relaxar. Jimbo subiu e teve a mesma reação.
Os dois se entreolharam com estranheza.
— Impressionante.
— Fechem a boca — falou Dante na frente. — E se tentarem qualquer coisa, eu mato os dois antes de conseguirem, entenderam?
Takka bufou.
— Depois de tudo, acha que a gente iria tentar alguma coisa? — Sua mente não permitiria. Mesmo de costas, o homem a sua frente não tirava sua atenção. Os sentidos dele eram tão afiados que Takka sentia estar sendo observado por dezenas de olhos ao seu redor.
Na verdade, numa das trocas durante a batalha sentiu exatamente isso. Olhos ao redor, observando cada movimento dele, esperando pacientemente enquanto algo enroscava em suas pernas, braços, ombros e pescoço.
Um monstro pior do que qualquer coisa que já vimos, foi sua última percepção de Dante.
Com um carinho na parte de cima da cabeça de Lilo, Dante a pediu para seguir ao Sul. Ela nem precisou arrancar, o ar se moveu através deles, os levantando. Lilo conduzia as camadas de ar ao seu redor, flutuando e criando um espaço para frente.
Não era diferente de uma montaria, mas Dante não o usava dessa maneira. Ele gostava de tê-la por perto por conta da sua facilidade de adaptação em situações. Nick e ela eram fortes e gostavam de estar perto dele, já era suficiente também.
— A habilidade de Lilo melhorou desde a última vez — analisou Vick. — Deveria utilizar mais dela para locomoções distantes.
— Anotado.
A terra foi deixada para trás, e eles foram arremessados na direção do sul bem mais alto do que deveriam. Takka e Jimbo seguravam em Lilo vendo a altura, mais de duzentos metros acima da terra, mesmo pra eles seria uma morte em queda.
Eram fortes, mas a gravidade atuava contra todos, sem exceção.
Dante dava uma risada e fazia as curvas no ar apontando para frente e falando algo que os dois não ouviam. Ele perguntava e respondia na mesma medida, mas os dois não entendiam para quem era ou com quem era.
A viagem que demoraria cerca de três dias foi encurtada em apenas algumas horas de viagem. A grama seca, os arbustos, os terrenos pedregosos e casas antigas remodeladas para os novos moradores. Tudo estava na visão deles.
Um dos vilarejos era pequeno, mas sua estrada pavimentada era a direita. Dante apontou para ela, mas Jimbo negou com a cabeça.
— Aquela é uma coletora — explicou gritando. O ar fazia suas palavras saírem baixa. — Nós organizamos a colheita do mês e repassamos para os mais necessitados. É um sistema de proteção.
— E vivem também soldados para proteger — continuou Takka. — É uma das mais importantes.
— Se é tão importante por que está tão longe do Império?
A pergunta fez os dois se questionarem. Dante achou estranho. A comida vinha dali, com possivelmente fazendas, pomares e grandes quantidade de alimentos, e estava longe demais para ser colocada em segurança caso algo aconteça.
— Eu destruía tudo em um dia — ouvir isso de Dante os deixou mais apreensivos.
Eles lidavam contra monstros e criaturas que não pensavam, mas e se fosse um humano? Takka entendeu a lógica na hora. Acostumados a um tipo de inimigo, ignoravam o outro como se fosse óbvio. Um ataque cronometrado, orquestrado por uma mente humana nunca iria direto para o centro do Império Hein.
Eles cortariam a comida primeira, criando caos. Tiraram a mobilidade e explorariam a desvantagem do terreno. Simplesmente fariam o Império decretar a bandeira branca para rendição.
Takka não conseguia ver os Selvagens fazendo isso, nem mesmo as cidades que tinham acordos com o Império por conta da vantagem das negociações, mas e se fosse um lugar que não tinha nada a perder?
Olhando para as costas de Dante, Takka entendeu que a experiência daquele homem era infinitamente maior que a sua. Perguntas que deveriam ser triviais para Dante eram gigantes em seu coração.
Para Dante, no entanto, ele só bocejava. Aquela era uma viagem mais estranha do que imaginava.

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