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    Era mais estranho a cada segundo que passava. Dante parou afastado do vilarejo, e deixou os dois descerem. Lilo se desdobrou do tamanho, voltando para o original, e ele o deixou sentado em seu ombro. Takka tinha uma estranha sensação de que esse homem, independente de onde estivesse ou com quem estivesse, era da mesma maneira.

    — A grama daqui é bem mais verde — disse Dante olhando ao redor com a mão na cintura. — O ar também é bem mais limpo.

    Ele consegue ser tão distraído mesmo em campo inimigo.

    Pra Dante, aquela era uma viagem tão natural quanto as que fez fora de Kappz. E sempre ficava impressionado que mesmo tendo ficado tanto tempo em Kappz, aparecia algo novo ao redor sempre tentando ameaçar ou com algum problema.

    Era normal terem problema, mas por que ninguém conseguia mais se ajudar direito?

    Ele estava observando um vilarejo enquanto se aproximava, com uma rua pavimentada. Tinha algumas carroças com comidas, outras com peças feitas a mão e ferramentas. O que deixou Dante estático foi as jaulas espalhadas ao redor das barracas que eram lojas. Dentro delas tinha criaturas amarradas pelo pescoço, alguns com pernas e braços decepados, outros haviam sido queimados.

    O cheiro de pele queimada chegou ao seu nariz na mesma hora que foi adiante. Ele chegou perto, com Takka e Jimbo atrás de si. Não ligava para o estado dos dois, já tinha deixado avisado que seriam massacrados se fizessem qualquer coisa.

    Quando ele avistou a quantidade de gente indo de barraca em barraca, comprando pedaços fatiados de animais e Felroz, entendeu o que significava.

    — Aqui tudo tem um preço — disse Takka ficando ao lado dele.

    Alguns dos que passavam lhe deram um olhar, saudando levemente com a cabeça, e saindo de perto. Outros se portavam mais rigidamente. Dante percebeu. A presença dos dois era mais do que estranha, era um evento significativo.

    E isso causava nos lojistas uma euforia enorme.

    — É uma peça de praticamente dez a vinte anos. — Um deles esticava o braço na frente da própria barraca, esticando-o para trás tentando chamar atenção. — É um espécime rara que eu tive o prazer de negociar diretamente com o Império Hein. É uma montaria.

    Dante cerrou os olhos e foi adiante.

    — Deixe que eu resolvo isso — disse Takka passando por Dante. — Não precisa ficar irritado. Eu converso com ele e resolvo esse mal-entendido.

    Jimbo passou por Dante também, segurando o braço, fazendo uma expressão difícil.

    — Takka conhece todos os mercadores. Nós fazíamos compras para o Capitão.

    O céu estava começando a ficar mais escuro. As nuvens vindo do norte, de onde Kappz estava, mas não trazia chuva. Dante escolheu um pequeno banco de madeira e sentou-se. Ali não era tão ruim vendo bem. As casas pareciam mais distantes, diferenciando o lugar das lojas e moradas, mas era perto o suficiente para que pudessem caminhar tranquilamente.

    E ao redor, Dante não tinha percebido nenhum soldado ou guarda para os proteger. Um ataque de qualquer criatura seria aberto e direto. Todos ali seriam mortos em poucas horas, então por que aquela confiança inteira?

    — Será que eles conseguiram criar uma zona segura igual Kapps?

    — É possível — respondeu Vick. — Durante a viagem para cá, verifiquei como o terreno se comportava. A Fronteira e Hein tem uma distância considerável, praticamente dias, como mencionado. No entanto, nenhum tipo de Felroz foi sentido. A área inteira está limpa.

    Dante ficou um pouco contente com a informação. Um lugar onde não precisavam se preocupar com inimigos.

    — O que os dois Cavaleiros disseram também é compreensível. Hein não é um Império forjado a toa, no entanto, eles não deveriam ser chamados dessa maneira. Não existe autonomia entre suas partes, como foi apresentado. A falta de material é uma questão em aberto que também não consigo compreender.

    — Pelo menos na Cuba temos esse conhecimento. — Dante tinha deixado as plantas de vários projetos para Duna. O cientista era fascinado por melhorias, e já tinha começado um plano para estabilizar a água do Reservatório sem precisar ir diretamente até lá, e alguns dias antes, Manu havia entregue algumas pequenas remessas de pastilhas que pareciam limpar parcialmente água contaminada. — Mesmo que não sejamos tão bons em construir, estamos melhorando bem mais rápido do que antes.

    — A grande capacidade de Veronica também permitiu que acessamos uma gama de diretrizes antigas que nos beneficiarão quando completadas. Cuba tem o potencial para se tornar novamente uma cidade grande e bem estabelecida.

    Dante não podia discordar. Seria uma vitória se pudessem utilizar a locomotiva como tinha visto em Selenor. Reparar alguns dos automóveis para buscar suprimentos. Um sonho que não era difícil de imaginar agora.

    — Ei, você.

    Dante girou a cabeça despreocupado para frente. Uma criança, dez anos, talvez, com uma cara estranha, fechada com os olhos fixos nele. Bom, não em Dante, mas ao redor dele. O dedo da criança levantou na mesma hora, apontando para Lilo e depois para Nick.

    — Eu quero.

    Dante bocejou novamente e virou o rosto para o outro lado. Ignorar era a melhor opção. Se xingasse uma criança, ele seria repreendido pela sua mãe quando contasse ao voltar para casa. Não precisava fazer isso.

    Um grande berro e um choro, a criança começou a gritar várias e várias vezes para Dante.

    — É meu. É meu. — Ela abaixou a cabeça e levantou soltando um grito. — Eu quero. Eu quero o bichinho.

    Dante não se alterou, respirando fundo. Esperava que Takka ou Jimbo voltassem, mas os dois pareciam conversar mais e apontar para uma das jaulas. Os outros ao redor, uma multidão ficou assustada por conta da criança.

    E em poucos segundos um homem se apresentou rapidamente ao lado dela. Dante ficou impressionado. A forma como ele andava, seus olhos e sua postura. Deixava o peso do corpo em cima de uma perna somente e seu outro braço não ficava a vista.

    Ele era um guerreiro, dava pra sentir.

    — Mestre Akin — disse o espadachim ao abaixar ao lado do garoto. — O que deseja?

    — Eu quero aquele bicho no ombro dele, tio.

    O homem se levantou ficando de frente para Dante ainda sentado. Ele ajustou a mão em cima do pomo da espada, e ficou numa distância razoável. A armadura dele era leve, mas completa. Não era nenhum parente daquela criança, Dante sabia. Era um guarda costa.

    — Eu vou comprar esses dois… — a outra mão caiu em seu bolso, puxando um saco de moedas gordo.

    Dante encarou a saca na mão dele e depois voltou para seu rosto.

    — Comprar? — Dante não esboçou sorriso. — Eles são meus. Não tem preço nem pra você nem pra essa criança birrenta.

    As pessoas ao redor ficaram chocadas, algumas começaram a conversar rapidamente, outras se afastaram. Eles ficaram com medo das suas palavras, não pelo que elas eram, mas porque o homem na sua frente mexeu lentamente o ombro.

    — Eu estava sendo razoável porque meu mestre está presente. — Ele levou a mão a cintura. — Mas não vou deixar que nos desrespeite.

    — Saque sua espada e isso vai ser a última coisa que ele vai ver. — Dante ainda tinha um dos braços esticados em cima do banco de madeira, relaxado. — Não sou bondoso quem ameaça os dois pequeninos, então vou te dar uma chance para sair.

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