Capítulo 51: Vão ser Surrados
Clara pisou no terraço e ouviu de Simone que haviam pessoas espalhadas dando uma boa olhada onde eles estavam vivendo. E essa gente não tinha boas intenções. Ela pediu que todo mundo se acalmasse e que ficassem onde estavam.
Ela foi até onde normalmente ficava, e ao ultrapassar a ponte de madeira, viu Dante sentado na beirada do prédio olhando lá pra baixo.
— Ah, voltaram. — Dante não se virou. — Como foi no Reservatório?
— Nada bem. Os Jones vieram. Você disse que eles não iriam vir.
Dante deu uma risada.
— Não disse que eles viriam, disse que eles tinham medo, e eu estava certo. Se não tivessem, teriam vindo até aqui em cima e pegado tudo enquanto estávamos fora.
Marcus foi até a bancada e pegou seu óculos termal. Colocou a manta verde-escuro em cima do seu rosto, e pôs o equipamento. Ajeitou as placas de couro nos braços e voltou com a carabina ISE pendurada.
— Qual o plano, dona? — perguntou o atirador. — O que fazemos com esses caras todos?
— Eu não sei. — Clara olhava para a rua. A via era extensa, mas dava para ver os dois irmãos vindo caminhando bem longe. — Clerk conseguiu instalar as luzes nos postes, mas não é tanto. Mesmo que deixemos tudo iluminado, não vai assustar eles. Só os Felroz.
— Eles precisam sentir que não fizemos aquilo por sorte.
Marcus e Clara encararam Dante bem relaxado. Na verdade, ele nem mesmo parecia irritado ou intrigado. Ele puxou o charuto e colocou na boca, acendendo com um estalo.
— Podemos fazer eles entenderem que a cidade é sua, Clara. — Dante a fitou, sorrindo. — Se eles não ouvirem, vamos fazer com que ouçam. Mas, primeiro fazemos um acordo. Aprendi com meu pai que se tiver a vantagem, você negocia aquilo que os seus inimigos mais temem perder, e eles vão fazer o mesmo. Sabendo o que querem e o porquê, nós podemos acabar com o orgulho. E olhem como eles estão vindo.
Mais perto, os dois empurravam os carros para o lado, forçando a rua a se submeter contra eles.
— Estão nos subestimando. Se Marcus atirasse daqui de cima, um deles cairia antes mesmo de saber o que acertou. — Dante riu. — Mas, eles precisam saber que vamos jogar limpo. Assim, quando você quiser o que pediu, eles terão que doar. O que acha?
— Os irmãos Jones são famosos por terem habilidades estranhas, Dante. Não pense que será algo fácil.
Marcus destravou a arma.
— Eu quero fazer eles entenderem que aqui não é a casa deles, senhora.
Clara bufou, sem alternativas.
— Se querem ir, então vão. Vou ligar as luzes. Tomem cuidado com os Felroz.
Ela se pôs de pé e foi procurar Simone. Marcus não se sentou ao lado de Dante, ainda via os dois irmãos no meio da estrada empurrando os carros. Conhecia um pouco da história de como eles tomaram controle da zona de coleta sem esforço, mandando o antigo líder ficar de joelhos e perder um dos braços.
Isaac Bonder, um homem que tinha um imenso futuro pela frente.
— É, Marcus. — Dante se levantou e coçou o queixo. — Parece que está na hora de dar um alô para nossos vizinhos. Consegue me dar suporte nisso?
— Eles vão entender que Clara é quem manda aqui. — Ele segurou a carabina ISE com as duas mãos. — Não estou de bom humor para jogar conversa fora. Eles já me fizeram de idiota antes, não vão fazer o mesmo agora.
O charuto queimava a ponta, sempre. Dante o tirou da boca e soltou a fumaça.
— Então vem. Vamos mostrar para eles quem ganhou o Reservatório.
Os dois pularam do prédio no meio da noite. Desceram velozmente e bateram seus pés ao chão. Assim que deram seus primeiros passos, as luzes dos postes se acenderam em, pelo menos, cem metros. Os lugares estreitos, os becos sem saída, os escombros, até mesmo o interior de alguns prédios foram iluminados.
Dante parou na frente do primeiro carro e esticou a perna.
— Vamos dar uma ótima festa de boas-vindas.
Seu chute libertou um tom seco que mandou o veículo voando para frente, girando contra os outros e subindo até os dois irmãos. Marcus não viu o que houve, mas Dante deu uma risada continuando adiante.
— Adoro quando acontece alguma coisa assim — disse o velhote. — A gente sente que o dia tá calmo demais. Aí aparece alguém para encher o saco. Eu queria, pelo menos, consertar o nosso prédio primeiro, mas os ratos sentem o cheiro do queijo.
Quando os dois Jones viram Dante e Marcus se aproximando, eles pararam. Dante abanava a mão e empurrou o carro para o lado sem esforço algum. Marcus continuou até ficarem cerca de vinte metros deles, assim parou.
— Eu disse que iríamos pegar a bateria — disse Meliah. — Parece que ainda estão surdos. Bom, não fico impressionado, Marcus. Levou um belo tapa da última vez quando viemos. Simone deve ter remendado bem sua orelha.
Degol Jones deu uma risada.
— Foi divertido ver ele correndo depois de não conseguir nos acertar.
Marcus não caiu na provocação, ainda fitando os dois, mas lançava olhares vagos contra Dante, para ver o que ele faria. Mas, ele apenas sorria, sem dizer nada.
— E agora, vocês conseguiram dominar o Reservatório sozinhos e têm uma fonte de energia. Deveriam ter chamado a gente para pegar assim que conseguiram. — Meliah olhou para as luzes dos postes acesas, impressionado. — Nos pouparia bastante tempo se tivessem nos enviado um mensageiro. Não perderiam seu tempo fazendo essas merdas toda aqui. Acham que isso vai ajudar em alguma coisa? Os Felroz não ligam para luzinhas de fadas em postes.
Nada de Dante responder, ele apenas puxou o charuto e deu uma olhada na ponta, voltando a colocar na boca. Degol Jones soltou um arroto alto e depois apontou despreocupado.
— E o velhote, veio de onde, hein? A gente mandou Luma dizer que você vai ter que ir para Sharm com a gente. Não se faz de surdo. Por que não está dizendo nada?
— Ah, é pra eu falar? — Dante deu uma risada seca. — Achei que pegariam a bateria à força. Por isso estou aqui, não é? Vocês vão tentar pegar o que nós demoramos um dia inteiro para trazer, achando que nada vai acontecer. Eu fico impressionado com a prepotência dos dois. E não se preocupem, a luz não foi acesa para que os Felroz fiquem longe.
— E então por que acenderam essa porra? — Degol não gostou do tom de voz de Dante. — Acha que só porque ganhou de alguns Felroz, você tem chance numa luta direta? Sabe o quanto nós fizemos na parte industrial? Quantos desses demônios manchados nós tiramos a pele e usamos de roupa?
— Primeiro — Dante o interrompeu. — Que nojo. Sério. Usar a pele de um Felroz? Vocês são malucos. Segundo, saber quem vocês são não me agrega em nada. Seus nomes, títulos, lugares que foram ou quem derrotaram, não me importo com nada disso. Eu quero saber o que vão fazer quando as pessoas que estão lá atrás, em cima do prédio, assistirem Marcus e eu chutarmos a bunda de vocês. Ah, foi pra isso que a luz foi acesa. Eles precisam de um pouco de diversão de vez em quando, ver dois boçais vindo para cá foi ótimo para animar os humores.
Meliah segurou Degol antes dele partir pra cima do velhote. Marcus já estava pronto, era só um movimento, apenas um.
— Seu nome é Dante. Chegou recentemente, não foi? — Meliah era mais calmo, sempre foi. Dessa vez, ele não queria entrar em um combate sério logo cedo. — Estou ciente de que é forte, mas tendo Marcus para proteger, você vai acabar falhando. Estou pedindo apenas para nos entregar, e nós vamos embora. Apenas isso.
— Proteger o Marcus?
O atirador sentiu o olhar de Dante, e ele deu outra risada.
— Vocês só podem estar de brincadeira. Tá bom, se é assim. Eu vou fazer uma aposta com vocês dois. É o seguinte, acabem comigo e Marcus, e a cidade inteira é de vocês.
— E se perdermos? — Meliah fechou a cara. — O que ganham?
— Clara disse ontem que precisa de vigas para as novas colunas. Vocês vão nos dar o que precisarmos. Mas, se não cumprirem a parte do acordo de vocês, não se preocupem, eu mesmo vou até a parte industrial. Kappz é uma cidade bem grande, não é?
Degol se soltou do irmão, e foi andando na direção dele.
— Acha que está em posição de fazer pedidos, velhote?
Marcus suspirou.
— Perto demais.
A arma se ergueu na direção da cabeça dele, e Degol recuou um passo. Não só os dois, mas Dante também ficou chocado. Marcus respirava pesadamente, pressionando o gatilho levemente.
— A situação é a seguinte. — O dedo foi afundando mais fundo na placa de ferro. Marcus não ia hesitar. — Vocês dois vão ser surrados agora!
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