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    — Já chega! — Degol ergueu a mão e socou o peito de Marcus. O primeiro golpe que conseguiu acertar naquela noite. — Não irei perder para alguns pequenos insetos que se acham no direito de terem algo que nem mesmo sabem usar de verdade. Eu sou o responsável pelo aumento de novos setores em Kappz. Meu irmão e eu expandimos o setor industrial. Nós somos os merecedores.

    Marcus ergueu a arma na direção dele novamente.

    — Cala a boca.

    O disparo causado por Marcus levou Degol a tombar e se levantar. Sua carabina ISE já estava chegando no limite da Energia Cósmica. A intenção era derrubar um deles antes que se esgotasse, mas previa que não seria desse jeito.

    Quando viu Dante socar Meliah de cima abaixo sem ser acertado, Marcus não deixou de pensar que mesmo que ele não tivesse ali, o velho teria controle da situação. Lutar contra duas pessoas era fácil demais para quem destruiu uma zona inteira de Felroz.

    Assim que Degol levantou, sua expressão havia mudado. O que antes era raiva, agora ele parecia se divertir. O sorriso porco e podre predominavam, deixando bem claro seus dentes amarelos.

    — Pensei que tinha deixado claro que essa merda toda vai ser nossa. Eu vim até aqui no meio da madrugada. Kappz vai ser nossa. Iremos reconstruir do zero. Vamos montar uma cidade inteira. Então, vocês vão dar a porra da bateria nem que seja do pior jeito.

    Marcus ainda mantinha os braços erguidos com a ISE mirada nele.

    — Do que está falando?

    — Sua pontaria melhorou, atiradorzinho. — Degol Jones mostrou uma risada quebrada. — Mas, será que consegue atirar em todos os nossos homens que estão escondidos? Homens — gritou olhando ao redor —, avancem e peguem Clara Silver. Vamos pegar a bateria e ela, e assim, os problemas futuros se encerram.

    O maxilar de Marcus endureceu e ele puxou o gatilho da Carabina. Prestes a atirar, viu Meliah indo na direção do irmão e acertar um soco na nuca dele.

    As sombras que se moviam na escuridão viram o ocorrido e pararam na mesma hora. Degol foi pro chão, segurando a própria nuca, xingando.

    — Merda, Meliah. Mas, que porra está fazendo?

    — Quem te deu autorização para mandar eles irem em frente? — Meliah o chutou na costela, o mandando de novo pro concreto trincado da rua. — Desde quando você acha que manda nas minhas escolhas também?

    Dogel o encarou, sem entender nada.

    — É a nossa chance, irmão. Se levarmos Clara com a gente, ninguém vai poder fazer nada. Teremos um refém e a bateria. É perfeito…

    Meliah o chutou na cara, deixando uma marca.

    — Vou te perguntar de novo. Quem te deu autorização para fazer isso? Sou mais velho, seu idiota. E mesmo que eu não fosse, você não tem que dar ordens de captura sendo que nem mesmo é necessário. Fizemos uma aposta.

    — Aposta?

    Dante sentou-se no carro novamente, observando. Marcus não esperava esse tipo de reação de nenhum deles. Abaixou a arma ao ver Meliah Jones dando mais um soco na cara do seu irmão.

    — Acha que eu tenho cara de otário por acaso? — Meliah gritou com ele. — Viemos por uma missão, está correto nisso, mas nunca ouse mais falar que apostas não são válidas. Se ganharmos, nós não iríamos pegar a bateria? Então, você não deveria cogitar ir além disso. Somos honrados, acima de tudo, porque somos seres humanos.

    — Que se foda a honra — Degol gritou de volta, ficando de pé e apontando o dedo na cara do irmão. — Desde que o papai morreu, você continua com essa palhaçada de acordos e propostas. Nada nesse mundo é justo, nem mesmo a porra de uma aposta idiota. Se quer a bateria, temos que pegar de todos os jeitos possíveis.

    — Está errado.

    Degol Jones se afastou dois passos, mirando as mãos para si.

    — Eu estou? Só pode estar de palhaçada comigo. — Apontou para o prédio, na direção de Clara. — O que acha que eles vão fazer com energia? Iluminar a cidade, clarear uma rua? Nós precisamos disso para Sharm, precisamos disso para os seus… — e bateu a mão no peito de Meliah — moradores ficarem tranquilos. E diz que precisamos ser honrados? Que tipo de honra o papai deixou pra gente? Apenas medo e traumas de noites escuras. Quer ser honrado, irmão? Então me tire desse inferno de mundo e me coloque em um onde eu possa dormir a noite sem precisar levantar a cada barulho que escuto do lado de fora. Quer a minha honra? Enfia ela no meio da bunda.

    Meliah não respondeu. Marcus e Dante se colocaram lado a lado, esperando um desfecho, mas os dois ficaram em silêncio se encarando. Os olhos deles conversavam entre as faíscas. Dante apenas dava risada da situação.

    — Por que não acabou com Meliah? Já vi você lutando, não iria precisar nem mesmo de cinco segundos para derrubar ele.

    Dante deu de ombros.

    — Só matei um homem na minha vida. A sensação não é prazerosa. Eu fui feito para lutar contra os monstros, não contra as pessoas que têm problemas mentais. — Dante coçou o rosto, continuando: — Eles não iriam pegar a bateria de qualquer jeito. Se mandassem gente lá pra cima, Jix daria uma surra neles.

    Marcus ainda achava inapropriado a escolha de Dante de não apagar Meliah, mas não o corrigiu. Durante seus disparos, houve três a quatro tiros que poderiam ter derrubado Degol Jones e o deixado dormindo para sempre.

    Uma arma foi feita para tirar vidas, independente se ela era uma espada, lança ou uma carabina ISE. Sua criação sempre teve esse destino. Escolher entre tirar uma vida ou poupá-la, era o propósito de quem a manuseia.

    — Se eles quisessem causar problemas de verdade, não viriam andando pela cidade abertamente. — Dante esperou que Meliah acertasse novamente o irmão. — Eles queriam fazer um acordo, mesmo que pequeno, para ter acesso à bateria. Duvido que matariam alguém daqui, nem mesmo fariam mal a eles.

    — Mas, eles trouxeram problemas, deveriam ser punidos. Causaram problemas demais.

    Dante ficou de pé.

    — Se você vai até Luma e pede uma árvore frutífera, ela nega seu pedido, mas você diz que quer mesmo assim e faria de tudo. Ela teria direito a te matar?

    — A diferença é grotesca nesse caso, velho.

    — Sim, sua hipocrisia é do mesmo tamanho.

    Marcus se sentiu ofendido por Dante ter dito aquelas palavras a ele. Comparado ao que Meliah e Dogel fariam, Marcus não levantaria uma arma para Luma.

    — A bateria é essencial para o funcionamento da cidade — disse Marcus a ele. — Uma… árvore não. São recursos de valores diferentes, com pesos diferentes.

    — Eu protejo as pessoas que acolheram a mim por um motivo. Se esse motivo é a bateria ou alguém em específico, então a faço erguendo meus punhos. Se fossemos até a área industrial e pegássemos qualquer material, eles poderiam dizer que é um ataque pessoal. Ditar o que é essencial ou não condiz por quem a tem. No caso, algo sem valor não faria diferença. Esse é o princípio por trás das batalhas. Quer matar um deles, terá que carregar o fardo sozinho. Eu mato qualquer criatura que não tenha consciência, mas não vou tirar a vida de um homem que não está pedindo para ser morto.

    — E se ele ultrapassar essa linha, Dante? — Marcus queria saber até onde ele estaria disposto a ir. — O que faria se alguém ultrapasse essa linha que você traçou para si?

    — Então, tirar uma vida deixou de ser uma questão de valor e passa a ser uma questão de sabedoria.

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