Índice de Capítulo

    — Dante, eu…

    Ele parou, irritado, e virou para Marcus. O atirador ainda tinha a mesma cara de vergonha de antes, mas certa determinação planava entre seus olhos, como se não houvesse medo. E nem deveria ter, pensou.

    — Não quero saber o motivo. Sei que está chateado, irritado ou qualquer que seja o que está passando pela sua cabeça. — Se aproximou, encostando no peito dele com o dedo indicador. — No entanto, pressionou a pessoa que mais confia em você na frente de todo mundo. E quando tudo parecia perdido, você tocou na sua arma.

    Marcus recuou um passo, engolindo em seco.

    — Consegue entender que tirar a arma do coldre significa que está pronto para apontar para alguém? — Dante não o deixou recuar e foi pra cima dele. — Responde, Marcus. Sabe o que isso significa?

    O atirador recrutou berrando:

    — E como não saberia, porra? Estou fazendo de tudo para manter minha sanidade intacta. Você viu quem está lá?

    — Como eu não veria? — Dante claramente detestava ter Meliah presente. Mesmo não tendo nenhum rancor, a história de Kappz era longa e destrutiva. — Por isso eu te tirei de lá. Se pressionar o lado errado, Clara não vai aguentar a pressão.

    Então, Marcus finalmente desistiu da face cheia de raiva e tocou os próprios olhos. Depois agachou, respirando fundo. Dante e Jix nada disseram. Não era como se ele não superasse. Deveria, acima de qualquer coisa, refletir sobre suas decisões.

    A principal forma de crescer era questionar a si. Anos para Dante chegar a conclusão de que estava pronto para crescer, por isso, ali, o dilema de ser um homem velho já não o atormentava tanto. Ser velho e não gordo ou careca já era suficiente.

    Claramente, alguns não teriam a mesma sorte. Marcus era um desses sortudos, ele podia muito bem viver uma boa vida se quisesse, se recusando a entender que naquele mundo, palavras tinham significados diferentes.

    — Não existe honra em levantar uma arma para uma pessoa desarmada. — Dante esperou que Marcus o encarasse ainda agachado. — Honra sempre foi uma palavra que carreguei comigo porque esperava que as pessoas usassem quando entendessem que a consciência é a principal arma no mundo aqui fora. Homens como eu acreditam que o caminho correto é o mais difícil, mas a honra não é pra todo mundo. O mundo nunca foi justo, nem vai ser. Nunca.

    Dante cruzou os braços.

    — Meliah não merece perdão — disse Marcus. — Nem mesmo um pingo disso.

    — Eu não pedi que o perdoasse. Quero que entenda uma coisa. — Dante esticou a mão. Marcus observou por segundos e a segurou, ficando de pé. Dante apertou com mais força. — Perdão é dado para aliviarmos a nós mesmos. Não o perdoe, ninguém quis isso, mas se for sacar sua arma para alguém, que seja para atirar. Honra é uma palavra para justificar um fim, então, justifique. Só não coloque medo e saia como um covarde.

    Apertou ainda mais a mão dele.

    — Entendi o que disse. — Marcus tentava puxar, mas Dante não o deixou fugir. — Entendi, Dante. Eu não vou mais fazer isso. Mesmo que eu faça, sei o que deve ser feito.

    Ainda o encarava fixamente, Dante não queria que ele se tornasse confiante demais. Bons guerreiros acabavam por serem destroçados pelo próprio orgulho e arrogância. Onde aprendeu isso? Seu pai.

    Nunca o venceu, mas quando o acertava um golpe diferente, se enchia de orgulho. Eram necessários praticamente seis dias de surras para que a humildade retornasse em suas ações. 

    Dante ficou um pouco triste. Ah, casa. Que saudade.

    — Estamos indo pra onde, afinal? — perguntou Marcus massageando a mão apertada. — Para onde está querendo me levar, velhos?

    — Dante encontrou um lugar diferente — respondeu Jix, calado até aquele instante. — Pensei que seria algo mais robusto, mas procuraremos por um objeto pequeno. Ela tem um nome especial, um que faz tempo que não escuto.

    Eles voltaram a caminhar pelas ruas. O Centro de Pesquisa estava bem longe para simplesmente os dois seguirem a pé, mas com Marcus ao seu lado, Dante precisava seguir dessa maneira. A habilidade de Jix ainda estava ativa, o que dificultava sua locomoção por completo, e segurar Marcus seria uma ideia geniosa que o esmagaria.

    A gravidade atuava como uma forma de treino, e Dante se acostumou aos poucos, aumentando gradativamente aos poucos.

    — E qual seria?

    — É a Pedra Lunar — respondeu Jix, bem empolgado. — Uma pedra que tem um efeito curativo de alto grau. Dizem que foi forjada nos primórdios da Energia Cósmica, cerca de duzentos anos atrás, quando todo mundo ainda podia andar por aí sem preocupações.

    Seria o mundo assim mesmo? Dante não tinha ideia. Pessoas que se preocupavam apenas com trabalho ou distância percorrida por carros, com algum tipo de trabalho que não envolvia tanto o instinto de sobrevivência. Um mundo como… na Capital.

    As palavras de Simone perambulavam em saltos menores em sua mente.

    Ele realmente tinha tudo na Capital. Eles, não.

    — E por que vamos pegar uma pedra dessas?

    — Porque seu amigo Meliah Jones queria realizar uma troca comigo. — Dante não virou para Marcus. — Ele pediu para trazer a pedra que poderia trazer seu irmão de volta. Em troca, ele daria todos os recursos necessários para que pudessem construir um bom lugar para morar.

    Jix foi quem se virou para ver Marcus parar e ficar de boca aberta.

    — Você… negociou com ele?

    — Como eu disse lá atrás — Dante respirou fundo, fechando a mão, esmagando os dedos. — Eu tenho que pagar minhas dívidas.

     Marcus não teve tempo de resposta. Fazer apostas ou negociação mantinha as partes interessadas em um conflito ou interesse, nessa ordem. Se o atirador se importava com o que ele fazia nas suas horas vagas, Dante não tinha noção. O que mais queria era apenas terminar aquele pedido. 

     E parecia mais complicado só de imaginar quanto caminho teriam que percorrer. 

    Mais de quatro horas caminhando entre rodovias, curvas entre prédios, e entrando em alguns, tendo que subir e descer escombros, ficaram mais próximos. A vegetação da cidade havia mudado um pouco, tendo bem menos gramas do que onde moravam. As árvores cresciam entre as janelas, tomando forma ao redor de um trem que havia atravessado suas paredes, e a plataforma elevada por pilastras estava destroçada, com água escorrendo por todas as fissuras.

    Marcus ficou impressionado. Era sua primeira vez ali.

    — Então, é aqui.

    Dante já estava descendo o monte de terra. O atirador o seguiu, mas não caminhou em linha reta.

    — Eu sempre via esse ponto quando estava na Torre. Sempre tinha um maluco correndo para dentro do Centro de Pesquisa.

    Dante parou e o encarou.

    — Já viu alguém aqui por perto?

    — Sempre que fiz vigia. Tem um bueiro perto da entrada. Uns cinquenta metros. — Marcus apontou com a carabina para frente. — Ele sai, corre na direção da porta. Fica dois a três minutos lá dentro, e volta correndo.

    Houve silêncio. Dante não esperava que outras pessoas tivessem chegado primeiro. Jix pareceu sentir a atmosfera pensativa.

    — Pode ter sido alguém do grupo de Antton tentando achar alguma coisa.

    — De noite? — Marcus negou na hora. — Antton nunca veio para esse lado. Ele dizia que era perda de tempo. Babaca arrogante.

    Dante ignorou a ofensa.

    — Ele não estava errado. Das últimas dez vezes que vim, não tive nenhum contato com criaturas ou problemas. Na verdade, é uma área bem limpa.

    Os três observaram os carros enfileirados na lateral das ruas. As pedras e escombros afastados, em pontos onde não atrapalharia o caminho. A vegetação também havia sido aparada no alto. Dante não tinha reparado até aquele momento, mas o lugar era realmente bem arrumado.

    — Tem alguma coisa errada — anunciou Jix para os dois. — Se não foi Antton, nem Meliah, Clara e Luma também não viriam aqui só por causa do Centro de Pesquisa.

    — Marcus. — Dante não queria perguntar na verdade, mas precisava da resposta. —  Quando me encontrou pela primeira vez, apontou sua arma para mim e disse que se eu fosse de um lugar, você me mataria na hora. Então, me explica, o que é GreamHachi?

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