Índice de Capítulo

    Dante gargalhou ao ver que Juno continuou atacando. Deixou que ela fizesse aqueles movimentos bem curtos, e seus raios previsíveis tentassem acertá-lo de ângulos comuns. Ele fechou o punho, desviando de um ataque direto, e foi adiante.

    Seu punho parou abruptamente, bem em frente ao rosto de Juno. Dante retornou o braço e girou num chute circular. Antes de Juno se movimentar, uma imensa pressão de ar chocou contra seu rosto. Ela virou a cabeça para direita, e mal teve tempo de reagir. O golpe veio rápido e direto, atingindo-a no peito com uma força que roubou o ar dos seus pulmões.

    O impacto reverberou pelo corpo inteiro. Por um momento, ela sentiu o calor se espalhar pelo impacto, uma dor latente crescendo a cada segundo na região das suas costelas.

    Seus pés escorregaram para trás, tentando desesperadamente encontrar equilíbrio, mas o chão parecia ter desaparecido. Juno cambaleou, os olhos fixos no velhote à sua frente, mas sua visão parecia turva, como se o mundo ao seu redor estivesse se desfazendo em borrões. Apesar da dor, algo dentro dela começou a crescer — uma raiva silenciosa, quase primitiva, que ameaçava tomar conta de cada pensamento racional.

    — Ah, merda — ouviu Dante dizer um pouco preocupado. — Bati forte demais? — e deu uma risada debochada. — Desculpe, achei que aguentasse mais.

    Um som ecoou ao lado. Sebastian tinha caído de joelhos, um olhar feroz, mordendo o lábio inferior e controlando a própria raiva que parecia escapar pela visão.

    — Está zombando da gente, seu verme. — Suas palavras eram mais pesadas do que Dante esperava, como se aquilo realmente o incomodasse mais do o ferimento em seu ombro. — Somos… da famosa… GreamHachi.

    Aquilo era para dá-lo algum tipo de confiança a si ou medo a Dante?

    Ele apenas ergueu uma sobrancelha, mantendo-se calado até bufar.

    — E o que eu tenho a ver com isso? Estão apanhando e ainda quer falar de onde veio?

    Nunca conseguia entender a obsessão das pessoas em declarar de onde vinham, como se essa informação fosse uma arma secreta capaz de mudar o rumo de qualquer conversa. Era sempre o mesmo tom de superioridade, como se o simples fato de mencionarem suas origens lhes desse algum tipo de vantagem moral ou intelectual.

    Sempre foi ao contrário.

    — GreamHachi é a cidade mais tecnológica, maior do que qualquer uma, e não tem nenhuma dessas criaturas manchadas — Sebastian falava com nojo, tanto de Dante quanto dos Felroz. — Vocês nasceram com eles, vieram e vão morrer como eles. E querem se achar melhores do que nós.

    — Do que está falando, seu idiota? Nem mesmo falei algo assim. Quer saber, acho que um disparo foi pouco. — Dante olhou para a escuridão novamente. — Pode atirar nesse aqui, ele começou a encher meu saco.

    Outro clique seco da carabina ISE ecoou no ar. O medo se espalhou imediatamente. Era instintivo, como se cada clique fosse uma contagem regressiva. Qualquer um ali estava ao alcance do atirador, e Dante gostava dessa vantagem.

    Ver o homem se arrastando pelo chão, as mãos tateando desesperadamente em busca de algum abrigo que não existia, trouxe um sorriso inesperado ao rosto de Dante.

    — Está vendo? — fez Sebastian o encarar. Os olhos cheios de lágrimas. — Sua casa não vai te salvar, então, tente não ser muito convencido. Quem está mirando em você vai amar te dar mais um tiro. Ah, melhor ainda, se eu te dizer que sua cidade fez uma crueldade tão grande que merece punição, e você vai ser quem ganhou a punição.

    Sebastian soltou um gemido de medo. O som escapou de seus lábios sem permissão, um reflexo puro do medo. Dante adorava ver os mais soberbos se cagando de medo.

    — Dante… — a voz de Juno soou de longe, em um eco. Ela estava encostada na parede, os dedos pálidos pressionando a superfície áspera como se precisasse daquele apoio para se manter de pé.

    Seus olhos estavam fixos nele, mas não com a intensidade de quem busca confrontar — era um olhar calculado, quase estudado, como se ela estivesse analisando cada movimento dele, cada expressão, com extrema cautela.

    Como tinha previsto, essa mulher era especial. Diferente dos outros que viu na Capital ou até mesmo ali em Kappz, o espírito dela não quebrava. Tinha potencial, tinha força, mas era apenas uma pessoa caminhando sem rumo.

    O tédio dos seus olhos a denunciavam.

    — Você nunca lutou a sério, não é, Juno?

    Jix rapidamente cutucou Dante, apontando para cima.

    — Precisa se apressar.

    Lá em cima, as fissuras haviam se tornado mais do que meras marcas. Agora eram linhas extensas e irregulares que se espalhavam pela superfície como teias de aranha desenhadas às pressas. Os pequenos estalos ecoavam, uma advertência de que as fissuras cresciam, ameaçando todos ali presentes.

    Atrás de si, as paredes também ganharam as mesmas marcas. Tinha usado muita força, mais do que deveria. Agora, se ele ficasse mais tempo ali, poderia colocar toda a missão em risco.

    — Tá bom, tá bom. — Dante subiu a manga da sua vestimenta vermelha. E forçou um olhar firme para Juno. — Vick, me dê a localização. Marcus, retorne dois pontos.

    O ponto dourado piscava de forma ritmada, indicando o caminho a seguir. Ele pairou no ar por alguns segundos antes de deslizar suavemente para uma direção oposta ao local onde Marcus havia se escondido.

    O brilho cortou o breu, traçando nitidamente em meio à escuridão. A marcação se afastava gradualmente, descendo em um arco até desaparecer em meio às sombras a cem metros de distância. Ele olhou rapidamente para Marcus e Jix, certificando-se de que tinham entendido o sinal, antes de ajustar sua postura.

    Sebastian, então, reuniu toda a coragem do mundo para se levantar. Tinha achado a espada caída e apontou na direção dele.

    — Seu Impuro de merda. Você não vai sair daqui nem que eu morra. Acham que isso é brincadeira?

    Aquela palavra. Impuro. Seu peso era o mesmo que ‘Estrangeiro’, na Capital. Ser chamado dessa forma, da mesma forma como Marcus tinha dito que eles mataram seus pais. Esse homem gritava, esperneava.

    Não queria ter que fazer aquilo. Dante não queria.

    Seu merdinha Estrangeiro, você sabe quem eu sou? — As palavras do Sargento ainda ecoavam em sua mente.

    Ele não escutava mais Sebastian, mas via o rosto do homem que tentou estuprar sua mãe e irmã bem diante dele. Sua face se transformou em uma máscara de fúria. Sua mandíbula se apertou, os dentes rangendo levemente enquanto a onda de emoção reprimida tomava conta de cada parte de seu corpo.

    — Dante — Jix rapidamente gritou.

    Tarde demais. Sua Energia Cósmica se uniu ao braço direito em um ataque direto. Ele nem mesmo encostou em Sebastian, parando bem antes. O homem soltou um sorriso medroso, achando que Dante realmente tinha parado.

    — O que f…

    Então, a explosão veio. A força rasgou a estrutura do Centro de Pesquisa em um único instante, como se o próprio ar tivesse se transformado em uma lâmina colossal. Paredes de aço se dobraram como papel, fios e tubulações estouraram em um caos de faíscas e fumaça.

    O chão tremeu violentamente, enquanto estilhaços de concreto e vidro eram lançados em todas as direções, refletindo a luz em fragmentos cegantes.

    Marcus, Jix e Juno ficaram chocados. O impacto da força destrutiva foi tão grande que as paredes, o teto e o chão se uniram como se nunca tivessem nomes diferentes. A luz do sol entrou pelo rombo enorme que havia se formado, mas… aquele homem tinha simplesmente desaparecido.

    O lugar onde ele estava ficou vazio, como se nunca estivesse ali. Na verdade, era como se o lugar nunca tivesse estado de pé.

    — Não era necessário isso, Dante — disse Jix o contrariando rapidamente. — Tem pessoas aqui. Como pode ser tão imprudente? Está maluco? E se o teto desabasse sobre todos nós? Ele diz uma palavra e…

    Marcus viu Dante erguer o queixo enquanto Jix ainda o repreendia sobre todos as consequências que e não aconteceram. O velhote, sem pressa, olhou ao redor com uma calma surpreendente, seus olhos deslizando suavemente sobre os escombros.

    Quando finalmente encontrou o atirador, seu olhar se suavizou ainda mais, e um sorriso gentil surgiu em seus lábios, um sorriso cheio de compreensão silenciosa, como se ele tivesse acabado de cumprir uma tarefa que já sabia ser inevitável.

    Agora visível para todos, Marcus ficou de pé e abaixou a carabina.

    — Eu te devia isso — disse Dante a ele. — Uma pequena parte da minha dívida.

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