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    — Sebastian…

    Juno assistiu Sebastian ser evaporado bem na sua frente. Não, isso não era o mais assustador. A força do velho, com um soco que sequer acertou, converteu o ar ao seu dispor. Seus olhos se arregalaram, tentando entender o que acabara de acontecer, mas não conseguia.

    Ele nem precisou tocar, como tinha feito quando a acertou. O ar se deslocou depois do movimento, mas sua força contorcia a natureza ao seu dispor.

    Seu coração rugia para ir adiante, agora conseguia observar o velho claramente. As pessoas ao redor não importavam, aquele Centro de Pesquisa não importava, GreamHachi não importava. Sua missão era Dante, ali e agora, precisava desafiá-lo.

    Ele sequer se movia, tudo ao redor era dele, um General desarmado que dava mais medo que mil espadas juntas.

    — Procurei por tanto tempo por você. — Ela empurrou a parede, finalmente ficando ereta. — Procurei pela sua chegada. Eu queria mais do que qualquer coisa poder tocar em… você.

    Dante fez uma careta, claramente indignado e confuso. Seus olhos entortaram para baixo, e soltou um resmungo, balançando a cabeça.

    — Isso soou bem imprudente. Me tocar? Eu sou velho. Nem pense nisso. Tenho idade para ser seu pai, garota.

    Um pequeno riso se libertou dela. Sebastian, GreamHachi ou qualquer que fosse a situação, eram irrelevantes. Quando aquele homem estava de pé, todo o restante parecia… uma piada. Estou admirando uma pessoa? Não.

    — Dante — ela ergueu a voz, fechando o punho. A fagulha de eletricidade culminando ao seu redor, ganhando força novamente. — Eu vou acabar com você, agora.

    — Vai? — soou mais como uma piada, mas a tensão do corpo dele dizia ao contrário. Ele está se preparando pra me matar. — E como vai fazer isso?

    Tudo dizia o mesmo. Caso ataque, seria morta. Caso permaneça, ele vem atrás. Na visão de Juno, ela não passava de uma presa. A sensação era sufocante, uma tensão invisível que percorria sua espinha e fazia os pelos da sua arrepiarem.

    Por que? Dentre todos que enfrentou dentro e fora da GreamHachi, esse homem era tão diferente pela sua postura? Sua Energia Cósmica não era densa, não chegava perto de Sinny ou Bit Boy, seus movimentos não eram mais rápidos do que Gatuna Dril, e sua força nunca seria maior do que a do Capitão Seleri Mirro.

    Nada, ele não havia ultrapassado em nada nenhum deles. Nenhum dos seus antigos colegas, mas… ele era duas vezes mais confiante, duas vezes mais poderoso em aura.

    — Por que você é assim? — A pergunta escapou de seus lábios antes que pudesse contê-la, carregada de uma mistura de frustração e curiosidade. — Por que me faz sentir medo, e ao mesmo tempo essa vontade insana de lutar?

    Essa era a vontade que pairava sobre ela. E Dante não riu ou desprezou sua pergunta. Ele apenas sorria de lado, contrariando todos os demais que um dia a destrataram pela sua falta de força. Não era como se ele estivesse tentando subjugá-la… Não era isso.

    A postura dominante era ele, não forjada, mas feita dele.

    — Quem disse que você não me faz sentir o mesmo?

    Ela travou no mesmo lugar.

    — Eu… te faço sentir medo?

    — Claro que faz, garota. Olhe ao redor. Tudo isso começou porque senti em você um poder latente. — E pelas palavras seguintes, era como se fosse óbvio: — Você controla raios, você dispara relâmpagos. Como não quer que as pessoas fiquem com medo?

    Dante estalou a língua, parecendo ainda mais indignado.

    — Marcus, vem aqui.

    Juno procurou pelo atirador que vinha caminhando, meio resoluto.

    — Tem certeza? — Jix e Marcus fizeram a pergunta juntos. Mas o velhote no ombro de Dante quem continuou, apontando para Juno. — Fique paradinha aí, entendeu? Não quero que se mova, se fizer, eu mesmo te travo no chão e nunca mais vai andar de novo.

    A pressão ao redor dela, não muita, mas o suficiente para ela entender: os três reunidos adiante não eram comuns.

    — Fala pra ela — disse Dante. — Fala o que eu disse lá atrás pra você.

    — O quê? — Marcus não estava entendendo nada. — Lá atrás, antes de chegarmos aqui?

    Juno não compreendia. Acabaram de dizimar uma parte inteira do Centro de Pesquisa, deixando escombros e destroços, mas não demonstravam nenhum sinal de remorso.

    Um homem estava morto, seu corpo reduzido a nada mais que uma lembrança fugaz no meio do caos. E, mesmo assim, os rostos deles permaneciam impassíveis, como se a vida que haviam tirado fosse tão insignificante quanto os escombros espalhados ao redor.

    — Bom, você disse que ela era perigosa, mais perigosa do que quase todo mundo que já enfrentou. Mas, não foram muitas, não é?

    Dante abanou rapidamente.

    — Essa última parte não precisa falar, vai acabar com o sentido. O que estou dizendo, Juno, é que você é muito forte, claro, nunca me venceria. — E gargalhou. Jix, no seu ombro, fez o mesmo. — Claramente, você não ganharia de mim, mas o fato é que tem potencial, e o que está fazendo aqui?

    — Eu… eu… fui mandada para cuidar dos suprimentos.

    Ela ouviu o clique metálico da carabina mais uma vez, mas quando viu o atirador, ele estava de costas, indo até as outras pessoas caídas. Eles não estão mirando em mim?

    — E esse cara que acabou se despedindo mais cedo, trabalhava para ele?

    Juno levou a mão ao rosto, perdida. Sua testa estava suada, os dedos tremendo. A resposta que queria não estava ali, não estava presente em nada. Quanto tempo tinha se passado? Cem ou duzentos dias? Não.

    Eles me deixaram para morrer faz mais de três anos. Talvez quatro. Não me lembro.

    Antes que pudesse perceber, a voz de Dante soou mais próxima, carregando aquele tom despreocupado.

    — Por que parece que está entediada? — ele perguntou, a voz baixa, mas bem nítida.

    Seu corpo todo enrijeceu quando a lembrança apertou sua garganta. Ela rapidamente levou a mão até lá, tentando se libertar de mãos invisíveis, sua unha roçando a pele, mas não pegando nada. Seus dedos se curvaram instintivamente, as unhas roçando a pele com força suficiente para deixar marcas vermelhas.

    A dor era serena. Ela sempre sentia essa dor quando estava sozinha, quando a recordação de ter sido deixada para a morte se unia ao seu presente. Aquele miserável presente…

    Nunca partiria, nunca seria deixada livre. Siny, Bit Boy, a Gatuna Dril e o Capitão não a deixariam ir. Eles tinham partido para sempre, mas não a deixaram ir.

    Ela soltou um berro doloroso tentando cortar as mãos do pescoço.

    Esse é o seu lugar.

    No meio de uma cidade destruída, no meio do tédio, no meio da sujeira. Ali era o seu lugar. Sem ninguém, sem nada… sem comida ou água. Apenas usada para nunca irem até lá…

    Ela fechou os olhos, sua mente colapsando. Algo a segurou, firme e delicado. Juno perdeu a postura, a força. Sabia que estaria jogada ali, no meio do nada, sem ninguém ao redor, quando acordasse.

    A vida com sua equipe tinha sido cheia de risadas.

    Por que foram embora sem mim?

    Ela sentiu os olhos se encherem de água. A lágrima escorria pela sua bochecha, tocando seu ouvido. Não ouvia, não até aquele momento.

    — Não vou a lugar nenhum, garota. Pode apostar nisso.

    Era o Capitão Seleri? A pergunta ecoou em sua mente como um sussurro cheio de incertezas. Por um momento, tudo ao redor pareceu se desfazer em segundo plano, e a imagem dele surgiu em sua memória, trazendo uma mistura de alívio e confusão.

    A ideia parecia tão impossível. Foi ele quem decidiu seguir sem ela.

    Juno abriu os olhos piscando, tentando fazer sua mente entender que estava sozinha, mas o aperto delicado em seu ombro, suas costas sendo seguradas por braços largos.

    — Pretende ficar dormindo por muito tempo, pirralha?

    Quando varreu os olhos cansados para o lado, quase sem forças para se concentrar, ela percebeu duas figuras familiares. O rosto de Dante surgiu primeiro, um misto de preocupação e divertimento. Os olhos dele, sempre intensos.

    Ao lado, Jix também estava presente, numa postura vigilante.

    Mesmo que não falassem nada enquanto a observavam, havia algo naqueles dois que lhe dava a sensação de segurança.

    Ela piscou lentamente, tentando focar neles.

    — Não…

    — Não vou te deixar — Dante foi mais rápido. — Pode ter certeza disso. Não vou te deixar, garota.

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