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    Juno não acreditou quando Dante aumentou a rajada da sola dos pés e a deixou para trás sem ao menos parecer fazer força. Pior ainda, ele chegou até Clara em segundos, a abraçou e usou o outro braço para socar.

    E então, a cena ficou ainda mais intensa. O brilho ofuscante das chamas vermelhas e amarelas cresceu à sua frente, vindo na direção deles como uma onda imensa de destruição. A luz das chamas iluminou a tempestade ao redor.

    O calor vindo na sua direção a tirou do transe do mundo branco ao redor. Não era mais um treino, a brincadeira. Alguém realmente tinha jogado Clara do prédio. Queriam tirar a vida da mulher… que a recebeu, que lhe deu comida, que deu um abrigo.

    As chamas chegaram mais perto, refletindo em seus olhos. Tal poder, tão esmagador… Lento, muito mais lento do que o senhor Dante.

    Involuntariamente, Juno sentiu a eletricidade pulsando em seu corpo, as linhas de energia envolvendo seu pulso com uma força. Sua pele, músculos e nervos, as correntes se infiltraram, libertando um ruído elétrico que cortava o ar.

    As pontas da se agarraram com precisão aos carros estacionados e na rua à direita. E antes que pudesse sequer processar o que estava acontecendo, a força da energia a puxou para lá. As chamas rasgaram a neve, mas Juno saiu de forma perfeita do golpe.

    A eletricidade, estranhamente, estava reagindo de maneira própria, guiando-a sem pedir permissão, acelerando em alta velocidade com uma intensidade que Juno não se importou se era muito ou pouca.

    Carros, postes, a rua ou a neve, tudo se tornou um borrão enquanto avançava para cima.

    Viu Dante subir, ainda segurando Clara em um braço, mas ficou bem à direita do inimigo. Aquela máscara deformada com um frio metal parecia tão calmo, tão sereno. Como ele ousava não ficar amedrontado?

    Como ele ousava ter empurrado Clara? Como…

    A luz azulada também refletiu nos olhos daquele monstro em forma de humano. E antes que Dante e Juno pudessem acertá-lo, ele apertou algo em seu pulso. Maldito fosse o sorriso, Juno endureceu o punho, fazendo as linhas elétricas ao seu redor atacarem de cinco pontos diferentes.

    Mas, um brilho azul ganhou forma ao redor do homem-ferro.

    Dante esticou o braço na direção de Juno, e ergueu as pernas no meio do ar. Dois disparos de ar ao mesmo tempo. Sem ter como atacar, a pressão de ar de Dante a empurrou na mesma hora que uma imensa chama azulada cresceu ao redor do homem-ferro. Ele deu uma risada robótica, vendo-os se afastar.

    — Surpresa é uma emoção que gosto de ver nos rostos dos meus alvos. Indica que estão bem impressionados.

    Dante voltou ao chão com Clara. Juno não tirou os olhos do cara. Ele ainda estava ali, imerso em sua própria diversão, com uma risada que soava cruel e insana, a mão pressionando sua barriga como se o sofrimento alheio fosse uma piada. Cada risada cortava o ar até lá embaixo.

    As chamas azuis ao redor dele eram como uma extensão de si, queimando a parede do prédio com ferocidade, a tornando negra. Estranhamente, o homem permanecia imune. Não o tocavam, não o afetavam. Juno ficou perplexa.

    Ainda que tivesse o ângulo certo, a medida exata, a distância ideal, Juno sabia que o tempo estava se esgotando. Mesmo que suas habilidades fossem poderosas, essa missão…

    Antes que pudesse planejar qualquer movimento, a voz de Dante chegou até ela:

    — Juno — Ele gritou, apontando para cima, com urgência. — Pique-pega, agora.

    O comando foi direto, a voz dele carregada de tensão. Juno sabia que era por Clara, sabia bem que se ela se machucasse, Juno nunca mais teria aqueles momentos de antes. Por Clara, por Dante.

    Sua mente rebobinou as correntes elétricas para o pulso, e elas responderam sem um movimento do braço ou perna. Ela se lançou para frente, usando um dos postes como impulso. No meio do ar, o homem-ferro tinha sua mão erguida.

    — Previsível demais, garotinha — sua voz robótica era sarcástica. Um brilho se formou de algo abaixo do seu pulso. Um pequeno objeto que reuniu Energia Cósmica ao redor. — ‘Céu Escarlate’.

    Tudo se tornou azul. Até mesmo ao redor. Não esperava por isso. As chamas a tocariam e ela seria morta.

    Morte…

    A memória do Capitão Seleri veio à mente de Juno. Muitos anos atrás, apontando para seu rosto. O rosto dele, contorcido pela fúria, ficava gravado em sua mente, como se o tempo não tivesse passado.

    Agora, olhando para a situação diante dela, Juno sentia algo muito semelhante. Estava exposta, vulnerável de uma forma que não sentia há muito tempo. O calor das chamas azuis, a pressão do inimigo à sua frente, e a sensação de ser observada com olhos cruéis e implacáveis a faziam lembrar daquele momento. O medo, a raiva, e a sensação de impotência estavam se misturando dentro dela, assim como naquela época.

    Ela sentia-se novamente como a jovem que não tinha controle, que estava à mercê de alguém muito mais forte, e a lembrança do Capitão Seleri parecia vir como um lembrete doloroso de suas fraquezas. Mas, ao mesmo tempo, algo se acendeu dentro dela.

    De repente, um carro apareceu na sua frente e outro na direita.

    — Quer morrer? — a voz de Dante acertou seus ouvidos mais alto do que a tempestade fazia ao redor. — Mova-se.

    As correntes responderam mais a Dante do que ela, numa imensa velocidade. Suas pontas se prenderam aos dois carros, a puxando para o lado. As chamas passaram por ela, sem ferir ou destruir nada, mas Juno não deixou aquilo barato.

    Expulsou-se à frente, vendo a cara torcida e indignada do homem-ferro. Ela ter escapado estava fora dos seus planos.

    No entanto, o homem não hesitou. Apertou outro botão em seu braço com um movimento rápido, e as chamas que o cercavam se alteraram para uma amarela, instantaneamente. Em um gesto desesperado, ele chocou as mãos, criando uma explosão de energia que parecia condensar o ar ao seu redor.

    Juno sentiu que o golpe seria arrasador, e poderia destruir o prédio inteiro. Todas as pessoas estavam ali. Não pensou duas vezes. Suas correntes ainda estavam presas aos carros, as garras de eletricidade firmemente ancoradas. Sem perder o tempo, ela puxou com toda sua força, lançando os dois veículos na direção do homem em uma velocidade brutal, libertando um grito do fundo da sua alma.

    Os carros cortaram o ar como projéteis. O peso deles se combinaram com a energia elétrica. O som do metal com eletricidade rugiu quando as chamas amareladas carbonizaram o material com facilidade.

    No entanto, o segundo carro bateu contra o primeiro, o forçando a adentrar mais ainda no campo amarelo.

    Mesmo destrutivo, aquelas chamas eram belas. Juno viu os dois carros sendo cremados, e então, o homem-ferro ergueu as duas mãos, num sorriso vitorioso.

    — Suas habilidades são limitadas, garota. — Suas palavras machucaram mais do que qualquer intenção de ataque naquele momento. — Acabou. Eu venci!

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