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    — Pode me chamar de Arsena. — A voz da mulher era melódica, mas carregava uma nota de desprezo sutil. — Sou um pouco cheia de extravagâncias, confesso, mas adoro uma boa luta. Os últimos adversários foram… decepcionantes. Espero que consiga me entreter um pouco mais, senhor Dantezinho.

    O diminutivo foi uma faca mal embainhada, cortante na provocação. Dante apertou os lábios e fez uma careta de nojo que arrancou uma risada rouca de Jix.

    — Engraçado. Quando Clara te chamou assim outro dia, você não ligou.

    Dante virou o rosto, o olhar queimando de indignação.

    — Você tá do meu lado ou não, velhote?

    Jix apenas deu de ombros, a expressão serena de quem não se incomodava com os humores alheios.

    — Apenas averiguando fatos, garoto. — Ele gesticulou para o campo de neve ao redor. — Agora, faça algo útil. Dê uma demonstração para a menina. Ela precisa ver, não só ouvir.

    Jix começou a se afastar, o som de seus passos na neve sendo engolido pela ventania, e se aproximou de Juno, que o observava em silêncio. Dante respirou fundo, o vapor quente de sua boca se dissipando no ar gelado, enquanto girava a espada no punho com uma facilidade desconcertante.

    — Certo, coisa feia. — Ele ergueu a mão para Arsena, sinalizando que ela avançasse. Sua voz era casual, quase desinteressada, mas os olhos não deixavam a figura dela. — Pode atacar quantas vezes quiser. Estou dando uma aula agora, então não vou ser muito exigente.

    Arsena sorriu, um sorriso largo e predatório. Não havia resposta verbal, apenas o som de suas botas esmagando a neve quando ela deu um passo à frente, as mãos tocando os cabos das espadas em sua cintura. Seus movimentos eram calculados, como se ela saboreasse o momento antes do impacto, e Juno sentiu um arrepio na espinha.

    Dante não se moveu, queria que ela visse sua imprudência, sua forma de desprezo. Ali, naquele momento, a presença dela não era nada. A ponta da espada ainda tocava o chão, como se ele estivesse mais interessado em demonstrar sua paciência do que sua força.

    — Vamos, senhora. — A provocação soou preguiçosa, com ele enfiando o dedo no ouvido. — Não tenho o dia todo.

    Arsena avançou, sumindo como uma sombra no meio da neve. Juno piscou, os olhos arregalados, sem entender como a mulher simplesmente desapareceu diante dela. Mas então, Dante, com uma calma assustadora, ergueu a espada. E antes que a garota pudesse compreender, o som de metal contra metal ressoou no ar. O corpo de Arsena apareceu à sua direita, e em um movimento fluido, ela girou sobre si mesma, aproveitando a rotação para um golpe rápido, que Dante bloqueou com facilidade.

    Ela saltou por cima dele, ágil como uma pantera, e desceu com a lâmina em um golpe vertical. Dante, com a precisão de um mestre, bloqueou novamente, empurrando Arsena para trás. Ela escorregou um pouco ao cair, mas se recompos, sorrindo com prazer.

    — Você não é de todo mal. — Sua voz era quase uma provocação.

    — Queria poder dizer o mesmo de você. — Dante respondeu com um bocejo, sua postura descontraída como se nada estivesse em jogo. — Era só isso? Se for, seu amigo Duas Caras deu mais trabalho.

    Arsena negou com a cabeça, o sorriso se desvanecendo à medida que ela ajustava a postura, fechando-se como uma serpente pronta para atacar. Juno podia sentir a pressão no ar, a aura de Arsena se tornando mais densa, mais perigosa. Ela não estava mais jogando, estava se preparando para algo real.

    Dante, no entanto, não parecia sequer se incomodar. Seu olhar era tranquilo, como se estivesse assistindo a uma performance de teatro em vez de uma batalha.

    — A montanha sobe, Dante. — Arsena girou a espada duas vezes no ar, fazendo a lâmina brilhar de forma estranha. O frio ao redor parecia se dissipar, como se o ar se aquecesse apenas com a presença dela. — E a avalanche…

    — Desce. — Dante completou, sem pressa, a voz carregada de indiferença.

    Ela sorriu, e antes que Juno pudesse processar o movimento, Arsena atacou.

    A velocidade dela foi tão impressionante que a jovem mal teve tempo de respirar. Era como se as lâminas surgissem de todos os ângulos ao mesmo tempo, em uma dança mortal de aço, cortando o ar em todas as direções. A rotação perfeita das espadas fez com que a imagem de Arsena se multiplicasse diante dos olhos de Juno.

    Dante permaneceu imóvel, o olhar fixo na adversária, mas o corpo não se moveu.

    — Acabou agora. — A voz de Arsena soou, fria e certa, no momento em que todas as lâminas desceram ao mesmo tempo.

    Dante rebateu a primeira espada, a segunda, a terceira. Ele defletia cada uma sem sair do lugar, empunhando sua arma com apenas uma mão enquanto o som do metal se chocando contra o metal era abafado pela neve, mas, ainda assim, ecoava com a força de um trovão, cada estalo uma promessa de destruição.

    Quando os dez golpes cessaram, Arsena surgiu de onde ninguém esperava, vindo de baixo, com a lâmina descendo em linha reta, mirando o queixo de Dante.

    Ele se inclinou para trás, movendo-se com uma leveza mortal, mas a mulher não se deu por vencida. Tentou saltar, aproveitando o impulso para um soco certeiro, mas Dante, com um movimento quase preguiçoso, usou a mão livre para bloquear o ataque.

    Juno observou, seus olhos arregalados, a distância entre os dois fechando rapidamente. O soco vinha forte, determinado, e ela sabia que era tarde demais para que Dante reagisse com a mesma velocidade. Era um golpe que acertaria.

    Mas então, com a mesma calma que ele sempre manteve, a mão de Dante fez um leve movimento para cima. Sua espada, quase com vida própria, se desligou de sua posse, voando pelo ar e batendo contra o braço esticado de Arsena, interrompendo seu golpe antes que ele a alcançasse. Houve um estalo, como o som de algo se quebrando, e a mulher congelou no ar por um instante, atônita.

    Antes que ela tivesse tempo de gritar, Dante se aproximou, o sorriso cruel iluminando seu rosto, como se tivesse alcançado uma vitória há muito esperada.

    — A avalanche desce. — Ele repetiu, as palavras agora carregadas de um peso impiedoso.

    Num movimento rápido e implacável, ele puxou a segunda espada da cintura de Arsena, arrancando-a de sua posse com precisão. Seu cotovelo foi direto contra o peito dela, a pressão esmagando a mulher com uma força que ela não esperava.

    Ela saiu voando, batendo contra o chão, rolando até ficar deitada. Dante chutou a espada dela, jogando para perto.

    — Ainda não acabamos, levante e pegue. A aula ainda não acabou.

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