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Abraços xD
Capítulo 89: Desacordos
Juno observava Arsena, caída no chão, o semblante derrotado e o olhar vazio perdido em algum ponto que parecia distante dali. A postura altiva da mulher havia desaparecido, substituída por uma vulnerabilidade que parecia impossível de imaginar minutos atrás.
Era familiar.
Juno lembrou-se do dia em que encontrara Dante pela primeira vez. Ele não precisou levantar uma espada contra ela para esmagar sua confiança; foi a maneira como ele se movia, como falava, como parecia estar sempre um passo à frente de qualquer situação. Era sufocante, Juno sabia bem. Ele a fez sentir exatamente como Arsena estava agora: pequena, impotente, presa em um lugar onde suas habilidades não faziam diferença.
Era aquele sentimento de ter as “mãos atadas”.
Juno cruzou os braços, ainda tendo Jix do seu lado. Mesmo com todo o treinamento que vinha recebendo, aquela memória ainda queimava como uma ferida aberta. Talvez fosse essa a lição de Dante: não apenas vencer o adversário, mas fazê-lo entender o abismo entre eles.
Ela suspirou e olhou para Arsena novamente. No fundo, não conseguia evitar sentir um pouco de empatia pela mulher. Afinal, Juno já estivera naquele mesmo lugar, e sabia o quanto era difícil se levantar depois de um golpe como aquele.
— Ela esperava uma luta equilibrada — comentou Jix, a voz fria como o vento que cortava a neve ao redor. — Achou que seria levada a sério, veio com um propósito. Pessoas como ela são complicadas de lidar com palavras. É por isso que Dante aceitou lutar. Se não fosse para mostrar o abismo que existe entre eles, ela nunca enxergaria a verdade.
— Que verdade? — Juno perguntou, hesitante, embora algo em seu peito já começasse a formar a resposta.
Jix virou o rosto para encará-la, seus olhos pareciam carregados de um cansaço antigo, mas sua expressão era dura.
— De que mesmo neste mundo destruído, ainda existem pessoas capazes de muito mais do que apenas falar. — Ele fez uma pausa, como se a frase precisasse de tempo para se acomodar. — Existem pessoas que fazem.
O silêncio caiu entre eles, pesado como a neve que se acumulava ao redor. As palavras de Jix ecoavam na mente de Juno enquanto ela olhava para Dante, que agora estava de costas para ambos, como se o mundo ao redor já não tivesse importância. A espada, que antes era uma arma de ameaça, estava de volta ao seu estado inerte, presa ao cinto.
E no entanto, ela sabia que a diferença não estava na espada, mas em quem a empunhava.
— Dante — Juno deu um passo à frente, a voz carregada de determinação. — Eu… gostaria de entender melhor o caminho da espada.
Dante virou a cabeça ligeiramente, como se tivesse dificuldade em acreditar no que ouvira.
— Hã? Por quê? Você nem sabe dar um soco direito e já quer usar uma arma? — Ele estreitou os olhos, cético. — Não, nada disso. Aquela mulher ali pelo menos tem noção do que está fazendo. Você sequer observou direito o que aconteceu, não foi?
Do chão, Arsena mexeu a cabeça, o interesse despertado pela conversa.
Dante ergueu a espada, a lâmina reluzindo contra a luz fraca do dia.
— Isso aqui — ele começou, apontando para a arma — é uma extensão. Não é como se fosse um acessório que você usa só porque acha bonito. É uma ferramenta, sim, mas o que a faz mortal é o cérebro de quem a segura, não os músculos.
Juno inclinou a cabeça, os olhos fixos no movimento da lâmina.
— E como eu faço isso?
Dante deu um sorriso breve e acenou na direção de Arsena.
— Pessoas que falam muito acabam se expondo. — Ele apontou para as duas espadas dela, ainda caídas na neve. — Ela, por exemplo, carrega duas armas. Era óbvio que havia algo significativo ali, algo que a ligava emocionalmente a esse estilo de luta.
Juno franziu a testa, tentando encaixar as peças do que ouvira e vira.
— Então… você chamou ela para lutar porque queria irritá-la? Desarmou para mostrar a diferença, e usou a espada para deixar claro o quão distante vocês estão em habilidade?
Dante soltou uma risada curta, dando um tapa leve no lado da lâmina antes de abaixá-la.
— Isso mesmo. Você aprende rápido, garota. — Ele cruzou os braços e a encarou. — Use a cabeça. Provoque, manipule, mas nunca, nunca deixe que alguém provoque você.
Arsena, ainda no chão, deixou escapar uma risada seca.
— Ele fala como se fosse tão simples… — murmurou, mas seus olhos fixaram-se em Juno, avaliando-a. — Talvez você tenha uma chance, garota, se aprender com ele. Mas nunca esqueça… a espada não perdoa distrações.
Juno assentiu, sentindo a brutalidade causada pela derrota, como se cada uma fosse uma lição em si.
Dante caminhou até Arsena, pegando sua espada do chão com um movimento fluido e devolvendo-a à bainha. Ele parou diante dela, os olhos fixos, carregados de desdém.
— E você — ele começou, a voz carregada de reprovação. — Trate de usar sua habilidade melhor. Parece uma criança brincando de ilusão contra um velho cansado.
Dante ficou um pouco resoluto. Ele tinha apenas 29 anos ainda. Bom, não importava tanto agora.
Arsena ergueu uma sobrancelha, a provocação atingindo seu orgulho.
— Do que está falando? — ela retrucou, cruzando os braços. — Eu usei minha habilidade para te distrair, essa é a função dela.
Dante suspirou, o cansaço estampado no rosto.
— Idiota. — Sem aviso, ele deu um leve soco na cabeça dela, o suficiente para deixá-la atônita. — Acha que uma habilidade se limita a atrair seu inimigo para uma armadilha?
Arsena levou a mão ao local atingido, surpresa e irritada.
— Então o que você sugere, mestre?
— Primeiro, use sua cabeça antes de qualquer coisa. — Dante apontou para ela, como se estivesse repreendendo uma criança. — Seu colega deu sorte de eu não ter matado ou que Clara não tenha se machucado. Se não aprendeu nada com isso, está apenas desperdiçando sua habilidade.
Ele deu de ombros, afastando-se um pouco.
— Mas hoje estou me sentindo generoso. Considere isso uma lição grátis.
Jix soltou uma risada baixa, claramente achando graça da situação. Juno, por outro lado, permaneceu em silêncio, o rosto sério enquanto observava Arsena.
A mulher permaneceu imóvel por um momento, a frieza voltando ao semblante. Sem dizer mais nada, pegou suas armas do chão, limpou a neve acumulada nelas e as guardou cuidadosamente.
— Você fala como se fosse o único que sabe lutar. — Arsena lançou um último olhar a Dante, os olhos faiscando com um misto de irritação e respeito.
— Não sou o único. — Ele deu um meio sorriso, virando-se para Juno. — Mas sou um dos poucos que sabe ensinar.
Arsena ficou em silêncio por um momento, encarando as costas de Dante. O desafio ainda queimava em suas veias, mas a resposta dele a pegou de surpresa. Ela queria algo mais, uma luta mais equilibrada, uma chance de mostrar o que realmente podia fazer. No entanto, o tom de Dante era implacável, como se já soubesse o resultado antes mesmo de ela desafiar.
— Velhote… — ela murmurou, mais para si mesma, mas o som do seu tom desafiador se misturou com a neve que caía ao redor. — Eu vou voltar. Não importa o que você diga. Não vou esquecer.
Dante parou, mas não virou completamente para encará-la. Ele ficou de costas, como se já tivesse superado a provocação, e sua resposta foi direta e tranquila.
— Se você perder… — ele falou sem pressa, quase como se já tivesse previsto essa situação, virando-se ligeiramente para olhar Juno, com a mão repousada sobre sua cabeça. — Você vai voltar de qualquer jeito. Quando quiser, em qualquer hora ou lugar, eu aceito o seu desafio, coisa feia.
O sorriso que surgiu no rosto de Arsena foi breve, mas carregado de uma determinação silenciosa. Ela sabia que não teria descanso até se provar capaz de derrotá-lo. E quando esse momento chegasse, ela não faria outra coisa a não ser mostrar a Dante que ele estava errado, que ela tinha algo mais a oferecer do que uma simples luta.
Dante se afastou, como se não fosse mais necessário prestar atenção nela, mas Arsena ainda o observava. Ela sabia que, ao aceitar aquele desafio, algo maior poderia se formar. Algo que ela tinha certeza que poderia melhorar sua capacidade.
Para superar Havok.
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