Índice de Capítulo

    — Isso vai ser bem divertido. — James brandia o braço de um lado para o outro, verificando o peso da espada que segurava. Era lisa e mais fina, no entanto, Dante sabia quando uma arma era bem cuidada. A lâmina dele era bem polida, o fio em ótimo estado e sua cor, o cinza era forte demais para dizer que foi feito as pressas, como via bastante no seu vilarejo. — Não é todo dia que eu acordo e tenho a chance de ensinar um Recruta. Todo dia, todo santo dia, eu me pergunto quando um idiota vai aparecer e tentar mostrar ousadia.

    Dante o viu caminhar de um lado para o outro. A sala branco foi se transformando em um gramado, no entanto, abaixo dos seus pés, as placas de pedra foram se unindo, aumentando sua grossura. Pilares quebrados surgiram ao redor, mas sem um teto aparente.

    — Aqui, nós fazemos os testes de Soldados para Cabos, e Cabos para Sargento — explicou James ficando de costas. — É como se fosse minha casa. Eu sempre faço as avaliações físicas e de maestria. É sempre divertido.

    Tecno e Freto viram Crish entrar pela porta e ficar um pouco perdida. Eles explicaram para ela a situação. A Oficial abriu a boca em contemplação.

    — E o que a senhora disse sobre isso?

    Os dois se entreolharam. E Crish rapidamente ficou chocada.

    — Vocês não avisaram a ela? Dante vai lutar contra James e vocês nem se deram o trabalho de chamar ela aqui?

    O Oficial Rodd abanou a mão para eles.

    — Não se preocupem com isso — disse abaixando a espada. — Eu mesmo fiz questão de mandar uma mensagem para ela. Sua ‘senhora’ deve chegar em alguns…

    A porta se abriu e Dalia entrou. A indiferença na sua cara era completamente pior do que das últimas vezes. Ela encarou seus Oficiais e depois James. De braços cruzados, suas sobrancelhas se afundaram mais enquanto via James com a espada em mãos.

    — Devem estar com tempo hábil para apostas ridículas. — Ela se movimentou adiante, mas viu a mão de Dante se abrir de maneira lenta e parou. — Dentro das pessoas que achei serem possível não caírem em provocações, Recruta, você era a última delas. Por que aceitou isso?

    — Aceitar? — James riu dela. — Foi ele quem propôs, Dalia. Seu brilhante e velhote recruta simplesmente quis uma luta contra o Oficial de Armas. E o motivo, ele não sabe sequer ter controle das próprias emoções?

    Dalia esperou Dante se virar, mas ele não o fez.

    — O que tem a dizer sobre isso?

    — Senhora. — Dante virou o rosto de lado. — Ele debochou da farda que Crish e Freto fizeram para mim.

    Tecno balançou a cabeça algumas vezes e afastou um passo. Freto e Crish fizeram o mesmo. A última, com um bico enorme, raivosa por James ter falado mal. Dalia, então, encarou James Rodd com afinco.

    — Falou isso mesmo, Rodd?

    O Oficial deu de ombros.

    — Posso ter falado uma ou duas coisas sobre, mas o que tem? Ele não sabe receber uma crítica sem fazer alarde. — E arrastou a espada de baixo para cima, parando na mira de Dante. — E se não consegue se controlar nem quando tem um aliado na frente dele, imagina quando estiver contra os Felroz. Aposto que vai se cagar de medo. Não faço ideia de como você passou no Campo de Testes, mas deve ter se cagado todo. Escondido enquanto os outros faziam o trabalho duro. Um velhote que nem mesmo pode se defender vindo para a Capital afim de ganhar dinheiro para sobreviver na miséria. É assim que eu enxergo a sua existência.

    Ninguém falou nada. Tecno balançou a cabeça e sentou-se em uma das pedras soltas ao redor.

    — Eu nem queria falar nada não, James. Mas, se quer continuar com isso.

    Dalia negou com a cabeça e voltou a caminhar na direção dos outros três.

    — Dante — ela falou. — Use o bastão. Não quero uso de habilidades contra Oficiais.

    O velhote sorriu.

    Um bastão surgiu pela simulação. Ele o pegou e girou entre os dedos. James simplesmente deixou sua postura relaxada para trás e entrou em uma posição de ofensiva total. Inclinou as pernas, tomou a lateral do braço para trás e ergueu a espada em frente. Um ataque direto.

    — Uma melhor de cinco. — A Energia Cósmica de James começou a surgir ao redor dos seus ombros. — Quem ganhar três vezes, vence.

    O Oficial disparou e encurtou a distância. Sua espada veio adiante, em uma estocada furiosa. A lâmina golpeava o ar enquanto Dante fazia sua cabeça ir de um lado para o outro. Podia ver a maestria, sim, no manejo da espada. Era forte, firme, centrada.

    Um espadachim tinha que treinar muito para ser um com a espada. Deveria dedicar sua vida a lâmina que o protegia dos males. Deveria ser um só.

    E vendo a velocidade que James aplicava seus golpes em linha reta era notável que ele tinha feito isso milhares de vezes.

    Lento, muito lento.

    Dante recuou um passo e soltou um suspiro. James mudou sua postura, mantendo o sorriso no rosto.

    — Parece que não tem nem mesmo chance de se mexer, velhote. O que foi? O gato comeu sua língua, desgraçado?

    A espada veio pela lateral. Depois por cima. O bastão foi adiante e bloqueou ambos. A força dele, concentrada pela sua raiva, ainda era desprovida de algo. Dante não lembrava do que era. A lâmina vinha da direita para a esquerda. Ele bloqueou as duas, abaixou da terceira e recuou um passo.

    James usou esse tempo para golpear ainda mais rápido. Ele soltou um urro ao aplicar o movimento.

    Dante apenas deu um passo para a lateral, desviando. E mais alguns recuando para mais longe.

    Fraco. Ele não coloca intenção no ataque.

    Intenção. Era a palavra que seu pai uma vez lhe deu.

    — Pode não ter inimigo algum, Dante, mas seus golpes precisam de intenção.

    Seus olhos se fecharam e abriram. James já estava em cima dele novamente. Parecia muito lento. Bem mais lento do que antes. Todo aquele ataque… era uma merda comparado a surra que levou do seu pai durante as duas décadas.

    Ele não tinha Intenção nenhuma.

    O bastão veio diante, bloqueou o ataque na direita, defletiu o que veio pela esquerda para o lado. Dante usou sua perna direita para dar um pisão no pé de James. Liberou uma das mãos da arma e deu um soco de cima pra baixo, o mandando para trás.

    James caiu com a boca marcada. Seu maxilar tremia, o braço também. A espada tinha ficado em cima do seu peito.

    — Merda. — Pegou a arma e se levantou. — Então, você gosta de joguinhos. Esperou eu baixar minha guarda.

    — Na verdade, eu estava cansado de você falando essa merda toda.

    Dante foi girando o bastão entre os dedos, rodopiando ao redor do corpo e parou o esticando por trás do braço direito e das costas.

    — Só pra constar, Oficial. Eu te acertei, não foi? — O sorriso macabro apareceu. — Isso é um ponto pra mim.

    O Oficial James bufou e brandiu a espada para o lado.

    — Sua confiança deve ter subido depois desse golpe. Acertar um Oficial desse jeito deve ter te enchido de moral, velhote.

    — Eu nunca perdi minha confiança. Mas, parece que tenho que te ensinar boas maneiras. Sou velho, então detesto ver os mais novos sendo tão desrespeitosos. — Dante forçou um pouco com a velhice. — Uma geração pior do que as outras. Nem mesmo consegue acertar esse velho, não é mesmo?

    James surtou. A Energia Cósmica foi liberada e ele avançou ainda mais rápido do que antes. Guiado pela Energia, seu corpo reagia mais rápido, seus ataques ficavam mais pesados. Dante sentiu ao bloquear mais uma vez o golpe, e depois virar completamente o corpo para um lado, deixando o ataque passar.

    A lâmina subiu ainda mais rápido pela diagonal. Parece que está fadado a essa limitação.

    Dante abaixou. A face de James ficou vermelha. Todos os seus golpes eram inúteis. Ele estava simplesmente sendo forçado a usar o máximo do seu corpo sem usar sua habilidade para atacar, e mesmo assim, o velho nem parecia fazer muita força.

    Ele está bocejando?, Dante não tinha um pingo de seriedade para com ele.

    — Por que você não ataca, seu velhote?

    O bastão bloqueou o movimento do ataque, fez uma curva para o lado, e James sentiu o aço frio colidir contra a maçã do seu rosto. Ele travou no lugar, e tocou a ferida. Estava inchado. Foi um golpe direto.

    — Não coloquei força porque não é necessário. — Dante segurou o bastão com as duas mãos bem a frente do seu corpo. — Pode ter achado que isso foi pouco. Meu ataque não precisa ser forte se o seu for fraco demais. Não está nem mesmo me levando a sério e acha que tem alguma chance de que eu te leve? Moleque, vou te dizer com sinceridade, eu estou um passo de acabar com você completamente.

    — O quê?

    A Energia Cósmica de Dante bombardeou para frente e o chão tremeu por alguns segundos. O sorriso daquele velho era sinistramente violento. E quando caminhou em sua direção, James ergueu sua base defensiva na hora.

    Dalia e os Oficiais observavam. O primeiro comentário foi de Tecno, bem imersivo na luta por completo.

    — Parece que James entendeu a diferença de força agora. Bom, pelo menos não vamos precisar comprar uma arma para Dante. Ele vai ganhar uma de graça, da melhor qualidade ainda.

    Seu tom divertido não agradou Dalia.

    — Estão sendo muito leves. Dante não pode simplesmente desafiar um Oficial de Comando, ainda mais James Rodd, só porque não gostou de um comentário. Nós temos a hierarquia porque funciona, não para ser quebrada.

    — Pelo que entendi, James também ofendeu a senhora.

    Dalia não se importava com os xingamentos. Não se importava com as falácias ou boatos. Nada daquilo importava quando a missão era seguida e cumprida. Nada e nem ninguém estava acima da missão.

    Mesmo que um homem ferisse sua honra, mesmo que um Esquadrão inteiro zombasse, independente se todos dentro da Capital a detestassem, nada disso importaria quando voltassem com a missão concluída.

    Dante não precisava defendê-la, mas ouviu da boca dele, naquele exato momento, o que seu pensamento negava.

    — O que mais me irritou foi o fato de que um Oficial não respeita o outro. — O velho bateu o bastão de baixo para cima. A pressão afundou o braço de James, e ele recuou dois passos. — Como um homem não consegue respeitar uma mulher na mesma posição? Acha que é superior? Está aqui, sendo feito de saco de porrada para um velhinho. Isso te faz menos do que eu?

    Dante brandiu o braço e o bastão sacudiu o equilíbrio do Oficial, o fazendo cambalear mais uma vez.

    — Respeito é uma conduta, não uma arma que se aponta para quem quer. — Dante deixou James sacudir a arma de um lado para o outro, sem precisão nenhuma. E Dalia viu o rosto do Oficial se contorcer em desespero.

    James Rodd… vai perder.

    — Senhora, por algum acaso achou mesmo que Dante perderia? — perguntou Freto.

    — Não.

    Tinha certeza de que o velho homem ganharia sem esforço algum. O que eles assistiram no Campo de Treino indicava mais do que o suficiente de que numa luta individual, Dante era insuperável. Precisava saber apenas disso.

    E eles observaram Dante forçar James a cair sentado apenas manejando o braço de um lado para o outro.

    — Você é um Oficial de Armas — disse Dante o julgando. — E não entende nem mesmo como uma arma deve ser erguida de maneira correta. Se eu perdesse para você, estaria jogando minha história no lixo.

    Crish assobiou, impressionada.

    — Ele é bom com as palavras também.

    — Desmoralizar o inimigo com atos e ações é uma estratégia básica em duelos — explicou Dalia. — Já está na hora de encerrar. Não quero mais problemas para nenhum de nós.

    A porta do Campo de Teste se abriu. Dalia encarou o homem e sua expressão afundou em escuridão na hora. Todos os Oficiais mudaram suas posturas, erguendo a mão ao peito. Dante virou-se e imitou todos eles.

    James era o único no chão, caído e respirando profundamente.

    O homem, usando o negro, carregava as sobrancelhas para baixo e mascava um chiclete. Mesmo a barba rala era poderosa quando seu queixo dobrava de cima a baixo. E os olhos, fundos e com rugas ao redor, nem sequer deram uma encarada nos três ao lado.

    — James.

    Ele continuou caminhando na direção dos dois e ignorou Dante completamente.

    — Que lástima. — E riu debochando. — Procurei por você a manhã toda. Está com tempo livre? Bom saber. Ficará limpando os estábulos por uma semana para aprender a não ser idiota.

    Esse era o Comandante Sergi Viegal. O Comandante dos Corvos. Dante não tinha visto ele em nenhum momento até aquele momento, mas sua fama era indiscutível. Banhado de uma força soberana, comandou o último ataque aos Felroz, ganhando um terreno perto da Bacia de Hidrolo, hoje um reservatório da Capital, de suma importância para o reabastecimento as casas e empresas.

    Ele não entrava em lutas. O boato era de que sua força era tanta que nem mesmo os céus poderiam rivalizar.

    Se ele é tão forte, por que nunca avançamos mais a dentro dos territórios?

    Foi como se Sergi tivesse ouvidos seus pensamentos. Ele virou o rosto, dando uma analisada de cima abaixo em Dante. E soltou uma risada para James, novamente.

    — Idiota arrogante. — Ele o segurou pelo braço e o puxou para cima. — Se tivesse verificado a Energia Cósmica dele, teria entendido que pra você, com essa mentalidade merda de se achar superior, nunca venceria.

    E o empurrou novamente para o chão.

    Dante não achou apropriado comentar nada. James já tinha recebido a consequência das suas ações. No entanto, Sergi se aproximou de Dante e falou baixo, quase sussurrando:

    — Espero que o esforço da Oficial Dalia valha a pena para esconder sua habilidade. Tente não morrer do lado de fora.

    Ele enfiou a mão dentro do bolso e retirou um charuto pela metade. Balançou algumas vezes e esticou para Dante.

    — James Rodd pagou a aposta que fez a você com isso. — E segurou a mão de Dante assim que ele pegou o charuto. — Não faça merda na minha cidade, entendeu?

    — Sim, Comandante.

    Sergi empurrou Dante para trás e saiu caminhando. Passou por Dalia e os outros, indo na direção da porta.

    — Oficial Dalia, amanhã, meio-dia.

    E saiu.

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