Índice de Capítulo

    Dante foi lançado contra as paredes e os escombros, seu corpo destruindo tudo ao redor enquanto o Felroz Rosa também era arremessado junto. O impacto foi brutal, reverberando pelo concreto como um trovão distante. Ele não esperava que seu soco tivesse tanta força, mas o fato de a criatura estar ilesa o deixou inquieto.

    Enquanto lutava para se erguer, percebeu a gosma rosada se expandindo em seu braço, pulsando como um parasita vivo. Sem hesitar, Dante agarrou a substância com a outra mão, puxando-a com força e, no processo, trazendo a criatura para mais perto. Sem perder o momento, desferiu outro soco com toda sua força, lançando o monstro para longe.

    Antes que pudesse recuperar o fôlego, sentiu algo agarrar sua perna. O puxão foi implacável, arrastando-o para a rua. A destruição ao redor parecia ganhar vida própria, com o silêncio sendo substituído por sons abafados de concreto cedendo e metal retorcido.

    Os dois rolaram pela rua em um emaranhado de carne, força e determinação. Dante usou o impulso da queda a seu favor, levantando-se antes do monstro. Ele correu na direção do Felroz enquanto a criatura se erguia lentamente, como se estivesse desafiando o próprio peso. Aproveitando a vantagem, Dante desferiu outro soco direto, buscando tempo para formular um plano.

    Mas desta vez, a resposta do Felroz foi diferente. A mão grotesca da criatura se ergueu, bloqueando o ataque com uma precisão inesperada. O impacto empurrou o ar para trás, criando uma onda de força que ecoou pela rua, mas o monstro não se moveu. Nem um passo. Nem um tremor.

    Dante recuou um passo, perplexo, mas não hesitou. Ele chutou o braço de apoio da criatura e tentou outro golpe, mas, mesmo deitado, o Felroz reagiu com uma velocidade impressionante. Seus dois braços se ergueram para bloquear o ataque, e o impacto foi tão forte que o concreto da rua estalou sob o peso do confronto.

    Dante respirava pesado, o peito subindo e descendo como se tentasse acompanhar o ritmo da batalha. Mas algo nele esfriou ao perceber o olhar do monstro. Aqueles olhos — todos eles — estavam fixados nele, observando cada movimento, cada detalhe. Não era apenas uma criatura atacando. Dante podia sentir que estava sendo analisado, dissecado por uma inteligência que ele não compreendia.

    Com um rápido recuo, Dante viu a criatura se levantar bem mais rápido, agora sabendo como fazia. Mesmo requebrando ao caminhar, ele não estava tão lento ainda.

    Suas dores ardiam nas costas e pernas, mas Dante deu uma risada.

    — Acredito que esse seja o tipo de luta que meu pai uma vez me disse — seus olhos estavam bem abertos, fitando a criatura do mesmo jeito que ele era analisado. — Aquela sensação de que tudo poderia ser destruído. Você me deu uma sensação bem ruim, Rosinha.

    A criatura respondeu a sua voz mesmo que de forma automática, mas Dante deu uma gargalhad.a

    — Pai, parece que chegou a hora. — A Energia Cósmica de Dante foi se fortalecendo ao redor dele, criando um fluxo de aura que escapava pela pele.

    Havia uma imagem atrás da criatura, as costas de Render. Aquela imagem, Dante sentia, sabia na mesma hora o que deveria ser feito.

    Avançar, mesmo que isso custasse tudo…

    I

    Juno utilizava muito mais do que as seis correntes para se movimentar pela cidade em alta velocidade. No ar, as que não seguravam as pessoas se prendiam entre as estruturas dos prédios, puxando-a adiante como uma flecha elétrica. Cada impulso a levava mais longe, mais rápido, precisava chegar e voltar o quanto antes.

    Jix era o único que ela mantinha mais perto, o corpo rígido, mas os olhos atentos. Ele ainda olhava para trás, insistente, como se tentasse enxergar algo além da tempestade de neve que obscurecia o horizonte.

    Então, o estrondo ressoou. Um impacto tão intenso que o vento da tempestade mudou de direção, varrendo os flocos de neve como folhas ao vento. Por um instante, o som reverberou no peito de Juno, fazendo-a estremecer.

    Ela quis olhar para trás. Sentiu cada músculo implorar por isso. Mas a ordem de Dante ainda ecoava: Não olhe para trás. E ela sabia, no fundo, que se desobedecesse, não conseguiria continuar.

    — Dante sabe se cuidar — disse Jix, a voz firme, tentando mascarar a própria incerteza. — Vamos deixar essas pessoas lá e voltar. Ele vai precisar de ajuda quando se levantar.

    As palavras deveriam ser um consolo, mas o peso da situação era insuportável. O frio, a tempestade, a criatura… nada disso era confortável. Juno manteve o foco, cerrando os dentes. Ela não respondeu. Não precisava.

    Com um comando silencioso, as correntes ganharam força, os impulsos elétricos brilhando como relâmpagos em meio à escuridão. O avanço dobrou de intensidade, lançando Juno e o grupo na direção do abrigo.

    Foram vinte minutos exaustivos até que ela finalmente avistou o brilho fraco da Ilha Predial. A visão trouxe um alívio momentâneo, mas não o suficiente para diminuir sua pressa. Com um movimento rápido, uma das correntes se prendeu a uma viga erguida no prédio, fazendo uma curva fechada que arrancou gemidos e murmúrios das pessoas que ela carregava.

    O terraço estava vazio, coberto por uma fina camada de neve que brilhava sob a luz fraca do céu. Juno pousou com precisão, abaixando as pessoas com cuidado, mesmo que suas mãos tremessem de cansaço. Seu peito subia e descia enquanto ela respirava profundamente, tentando acalmar a tempestade dentro de si.

    Seus olhos buscaram instintivamente o ponto vermelho que ainda pulsava no visor de seu equipamento. Dante estava lá, lutando.

    — Preciso voltar — murmurou, a voz quase um sussurro, mas carregada de determinação.

    — Ei, se acalme — ordenou Jix, segurando-a pelo ombro. Ele apontou para a porta, onde o grupo começou a se mover, alguns mancando, outros apoiando os mais feridos.

    A porta se abriu antes que pudessem alcançá-la, e Marcus saiu de lá. Ele usava a manta branca que o fazia parecer uma extensão da paisagem nevada. O rosto sério carregava uma urgência que rivalizava com a de Juno.

    Ele olhou ao redor, e não encontrou quem procurava.

    Cadê o velhote, garota? — A voz de Marcus cortou o ar como um golpe, enquanto ele avançava, o olhar duro. — Ele saiu com vocês. Eu vi.

    Juno deu um passo para trás, mas antes que pudesse responder, Jix ergueu a mão, tentando conter a situação.

    — Marcus, calma. — Ele mantinha o tom controlado, mas firme. — Nós encontramos um Felroz… diferente. Ele era imenso, tinha habilidades que nunca vimos antes, quase dois andares de altura. Dante nos mandou…

    — Voltaram sem o velhote? — A interrupção veio com um tom de indignação crescente. Marcus estreitou os olhos, a voz aumentando a cada palavra. — Cacete, onde ele está? Temos que voltar agora!

    Jix balançou a cabeça lentamente, a expressão séria.

    — Dante disse…

    — Eu já enfrentei um bicho desses! — Marcus o cortou, a raiva transbordando. — Eu sei do que eles são capazes. Se não voltarmos agora, o velhote vai morrer!

    Ele virou o olhar direto para Juno, como uma lâmina.

    — Vai, garota. Fala pra mim, onde ele está? E me leve até lá. Agora.

    O dedo dele estava apontado para ela, como se quisesse arrancar a resposta à força. Juno sentiu um nó na garganta, a respiração acelerada. A cena do ponto vermelho piscando no visor invadiu sua mente, junto com o eco do estrondo que ainda parecia vibrar em seus ouvidos.

    Ela hesitou por um instante, mas o olhar de Marcus, carregado de determinação e desespero, era insuportável. Engoliu em seco e finalmente assentiu.

    Sem dizer uma palavra, suas correntes elétricas se libertaram, serpenteando ao redor dos dois homens. O estalo da energia cortando o ar parecia ecoar sua decisão.

    — Juno! — Jix tentou chamá-la, mas ela já havia se lançado ao ar, puxando ambos com ela.

    O vento gelado voltou a atingir seu rosto, enquanto a cidade se estendia abaixo como um labirinto de ruínas. Ela não olhou para trás, mas por um breve instante, sua visão captou algo no canto do olho: o rosto de Clara na porta do terraço.

    Clara estava ali, as mãos juntas em um gesto de oração, os olhos carregados de preocupação e algo mais — uma fé silenciosa. Juno desviou o olhar antes que a imagem pudesse se gravar demais em sua mente.

    Vou trazer ele de volta, Clara. Eu juro.

    A promessa ecoou em sua mente enquanto ela voava na direção do perigo.

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