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    À medida que Harley deixava seus pensamentos para trás, ele e Aurora embarcaram novamente na cápsula de transporte. Agora, o espaço estava vazio dos invólucros geométricos que haviam sido descarregados na parte anterior da cidade. 

    O silêncio que preenchia o veículo dava a sensação de que eles estavam isolados do mundo exterior, em uma bolha de tranquilidade que contrastava com o caos e a tensão de suas emoções.

    — Imaginei que você escolheria uma das outras duas escolas para visitar primeiro — disse Aurora, enquanto tocava na representação visual da Academia de Combate Tradicional no mapa da tela diante deles. 

    Uma linha iluminada surgiu, conectando na tela, a parte norte da cidade, onde estavam, ao destino final: a parte da cidade pertencente à academia.

    Ela fez uma pausa e completou, com um leve sorriso:

    — Pensando bem, foi uma boa escolha. Lá costuma ser movimentado, com membros de outras escolas sempre testando suas habilidades. Você vai poder ver um pouco de tudo.

    As palavras de Aurora ressoavam na mente de Harley, e ele contemplava as possibilidades que se desenrolavam à sua frente. 

    As outras escolas, como a “Escola de Exploradores Interdimensionais” e a “Escola de Magia”, detinham, sem dúvida, segredos e conhecimentos valiosos sobre os limites desse mundo, mas ele sabia que o acesso a esses segredos exigiria tempo, confiança e permissões. Recursos que não sabia se algum dia teria.

    A Academia de Batalha Tradicional, por outro lado, representava algo imediato. Mesmo que ele não testemunhasse uma luta épica, sabia que só de estar naquele ambiente de prática já poderia observar algo direto, sem as camadas de mistério que envolviam as outras escolas. 

    A batalha revelava a verdade das habilidades, não havia espaço para manipulações. Lá, ele poderia ver a essência dos guerreiros, o que eles eram capazes de fazer quando levados ao limite e algumas formas, técnicas e equipamentos usados para treinamento. 

    Harley refletia sobre isso enquanto a cápsula continuava seu deslocamento. Ele sabia que, embora as outras escolas representassem um vasto potencial de conhecimento, a academia, neste momento, oferecia uma oportunidade mais prática.

    Ver de perto os talentos e as capacidades de outros guerreiros. Seria o caminho mais direto para ele avaliar suas próprias habilidades e compreender de que forma poderia evoluir.

    Assim que a cápsula chegou ao destino, os dois desembarcaram na Academia de Batalha Tradicional. O saguão de recepção que os aguardava era imponente, mas de uma simplicidade desconcertante. Não havia ornamentos, nem símbolos de guerra, nem estátuas de heróis lendários. 

    No centro, uma fonte de água cristalina jorrava suavemente, criando um contraste estranho com o propósito brutal do local. A serenidade da fonte parecia fora de lugar, tal qual se estivesse disfarçando a verdadeira natureza do ambiente.

    Harley olhou ao redor e não conseguiu conter uma leve decepção. Não havia o clamor de guerreiros, o som metálico de espadas se chocando ou o ambiente tenso de batalhas iminentes. 

    O saguão era organizado, um espaço controlado demais, distante da brutalidade da vida real que conhecia. Ele sabia que estava apenas no primeiro ambiente, mas não pôde evitar a sensação de que aquilo estava fora de sintonia com suas expectativas.

    Enquanto observava o local, uma movimentação incomum chamou sua atenção. Uma comitiva majestosa entrou no saguão, instantaneamente capturando o olhar de todos ao redor. 

    A atmosfera mudou. A tranquilidade controlada do ambiente deu lugar a uma tensão palpável. A chegada daquela comitiva não era comum. O grupo que a acompanhava, vestido com trajes que exalavam autoridade, sugeria que a figura central era alguém de grande importância.

    Harley observava com curiosidade enquanto os murmúrios cresciam em torno deles.

    — Milenium! — sussurros começaram a ecoar pelo saguão, chegando aos ouvidos dos dois.

    — É a filha do cônsul — explicou Aurora, com os olhos fixos na comitiva — Seu pai é uma das maiores autoridades da Escola de Exploradores Interdimensionais. Ela é extremamente habilidosa.

    Harley olhou para a garota, curioso se havia detectado um lampejo de inveja em seu olhar. Mas era algo mais profundo. O que ele viu nos olhos de Aurora parecia refletir não apenas inveja, mas um sentimento de inadequação, dando a impressão de que ela se visse pequena diante da grandiosidade daquela jovem.

    Ele não sabia decifrar totalmente o significado daquele olhar, mas algo nele sugeria um vazio interior, quase sugerindo que ela questionasse seu lugar naquele mundo.

    Os olhos de Harley voltaram para a comitiva e imediatamente se fixaram na figura central: uma mulher jovem, de cabelos negros que reluziam sob a luz suave do ambiente. 

    Ela caminhava com uma postura altiva, cercada por serviçais e guardas que pareciam girar ao seu redor, de maneira semelhante a planetas orbitando um sol. 

    Seus olhos amarelos chamaram a atenção do jovem Ginsu de maneira inescapável. Havia algo neles: uma intensidade rara, uma chama que parecia desafiar qualquer um que ousasse encará-la.

    Harley se sentiu inexplicavelmente atraído por aquela figura. Algo nela, fosse a maneira de caminhar, ou a força que exalava sem esforço, despertava sentimentos confusos nele. 

    Dava a impressão de que, por um breve instante, o tempo ao seu redor tivesse parado. Ele mal conseguia respirar, seus pensamentos completamente consumidos por aquela presença. 

    A semelhança com sua mãe o atingiu de forma tão forte quanto um soco no estômago. Os mesmos cabelos negros, a mesma postura imponente e, sobretudo, aqueles olhos amarelos, únicos, que seu pai sempre descrevera nas histórias de sua falecida mãe.

    Ele questionava o que estava acontecendo consigo:

    “Será que estou sob algum tipo de feitiço?” — pensou, sentindo a mente girar enquanto tentava racionalizar o impacto que aquela desconhecida causara.

    “O que está acontecendo comigo? Como pode alguém que mal conheço me afetar desse jeito? Será que estou mesmo livre das emoções que jurei esquecer?” — continuou refletindo, com a incerteza inquietando seu espírito.

    Aurora notou a mudança repentina na expressão de Harley. Agora, seus olhos estavam fixos na mulher à sua frente, quase incapazes de se desviar.

    — Você está bem? — sussurrou a jovem, preocupada.

    O jovem Ginsu mal conseguiu responder. Apenas assentiu com a cabeça, os lábios cerrados, ainda lutando para organizar seus pensamentos. Aquela presença, aquela mulher, havia despertado nele algo que não sabia de que forma controlar ou definir. 

    A impressão era de que uma força invisível o estivesse puxando para um redemoinho de sensações que ele não compreendia. Nunca em sua vida havia experimentado algo assim.

    Enquanto a comitiva avançava pelo saguão, Harley manteve seu olhar fixo na mulher, de maneira que aparentava estar preso àquela visão. Sua mente se debatia com emoções que ele tentava suprimir há anos. 

    Ele se perguntava o que aquela figura significava em sua vida e por que o destino parecia sempre brincar com suas convicções.

    Mais uma vez, a vida lhe apresentava algo inesperado, algo que desafia sua visão do mundo. E, pela primeira vez em muito tempo, Harley se sentia vulnerável.

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