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    Doravan observou Harley mais uma vez em silêncio, os olhos penetrantes do professor buscando compreender o jovem à sua frente. Após alguns momentos de reflexão, ele finalmente disse:

    — Posso fazer algumas medições em sua energia mágica?

    O jovem assentiu, desesperadamente agarrando-se à esperança de encontrar uma explicação para sua perda de sua Energia Branca. Na ausência de habilidades, ele sentia o peso do desamparo. 

    O poder que experimentara no Mundo Sombrio parecia agora uma memória distante, ele havia sentido o poder fluir em suas veias, e agora, o jovem Ginsu sentia um vazio profundo, uma lacuna que antes não existia.

    A sensação de impotência era uma ferida aberta que não cicatrizava, latejando a cada passo que ele dava nesse mundo desconhecido. Ele precisava de respostas, não apenas para entender o que acontecera, mas para evitar ser consumido por essa nova realidade.

    “O que estava acontecendo com ele?” — a pergunta vinha acompanhada por uma tristeza latente, uma sensação de perda que parecia invadir cada pensamento. Sentia-se um estranho no próprio corpo, um viajante sem mapa em um território que deveria conhecer.”

    Doravan começou a preparar um dispositivo estranho, um conjunto de antenas espiraladas em torno de um núcleo central, que emitia um brilho azulado. O objeto vibrava levemente enquanto se ajustava ao campo de energia de Harley. 

    As luzes ao redor de ambos começaram a piscar, enquanto o aparelho realizava medições complexas. O zumbido suave e os cliques rítmicos enchiam o ar, criando uma atmosfera de antecipação.

    De repente, o objeto quadrado nas mãos de Doravan brilhou com intensidade. Imagens começaram a se formar acima dele, uma vasta equação de signos e símbolos, tal qual um código vivo que se rearranjava constantemente. O velho estudava tudo com atenção, ajustando os controles e recalculando as variáveis com precisão.

    — Interessante… — murmurou ele para si mesmo, enquanto Harley observava com curiosidade.

    O professor, com os olhos fixos nos dados, continuou:

    — Sua energia cria uma aura quase indetectável ao redor do seu corpo. Ela te protege de uma forma que eu nunca vi antes. Mas o mais fascinante não é isso…

    Harley franziu o cenho, intrigado pensando: “O que mais poderia haver?”

    Doravan ajustou novamente os controles, visivelmente animado com suas descobertas. O brilho em seus olhos indicava que ele havia encontrado algo único. Seus dedos moviam-se rapidamente sobre o painel, recalculando com urgência.

    — Nunca vi uma prova tão clara de que a energia dimensional pode ser mutável. Sua energia sombria não é estática. Ela está em constante evolução. Isso muda tudo. Vou ter que reescrever muitas das minhas teorias…

    As palavras de Doravan caíam sobre Harley, carregadas de enigmas.

    “Energia mutável? Evolução?” — o jovem estava começando a entender que sua transformação no Mundo Sombrio era apenas o início de algo maior, algo que ele ainda não compreendia por completo.

    — Como assim, mutável? — perguntou, confuso — O que está acontecendo comigo?

    O velho professor suspirou, tentando organizar suas ideias.

    — Dimensões — começou ele, pausando para prender a atenção — Existem múltiplas dimensões, cada uma com suas próprias leis físicas e energias únicas. Algumas delas são acessíveis a nós. Outras estão além da nossa compreensão.

    Doravan deu um passo adiante, encarando Harley com intensidade e completando: 

    — O que você experimentou no Mundo Sombrio foi a interação com uma dessas dimensões. Sua energia branca pertencia a uma dimensão de luz, de criação e reparação. Mas, ao passar pelo processo de transformação, você foi exposto à Energia Sombria, que vem de uma dimensão de destruição e caos.

    Harley permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras do professor. Ele começava a entender que o poder que antes controlava estava ligado a uma dimensão diferente, e sua nova energia sombria, a um lugar muito mais imprevisível.

    — Então minha Energia Branca foi substituída por essa Energia Sombria? E eu não consigo mais controlá-la? — perguntou, tentando seguir o raciocínio.

    Doravan assentiu, ajustando novamente o dispositivo.

    — Exato. E a questão é que, ao contrário da Energia Branca, a Sombria não se molda facilmente à sua vontade. Ela precisa ser dominada, controlada, ou te consumirá. Você não perdeu o poder. Apenas não o compreendeu totalmente ainda.

    As palavras do velho despertaram algo em Harley. Se ele ainda tinha o poder dentro de si, então havia uma chance de controlá-lo, de moldá-lo à sua vontade. 

    “Mas como?” — ele pensou, sentindo o silêncio ao seu redor crescer, tornando-se uma presença palpável. 

    As respostas pareciam enterradas em um nevoeiro invisível, e Ginsu sabia que precisaria lutar para atravessá-lo. Nada fazia sentido sem elas.

    Doravan, notando a inquietação do jovem, sorriu levemente e disse:

    — Mas, antes disso… 

    O professor deteve-se por um instante, enquanto a sombra de preocupações imediatas parecia atravessar sua expressão. O silêncio que se seguiu pesou na sala, parecendo avaliar a urgência de suas próximas palavras.

    Logo retomou a frase interrompida, sua voz mais firme agora, carregada de uma gravidade impossível de ignorar:

     — Precisamos resolver o problema das armas roubadas pela Guardiã Sombria.

    Harley assentiu. Embora suas habilidades estivessem em conflito, ele sabia que não podia ignorar a gravidade da situação. A fuga de sua antiga inimiga com um arsenal completo de armas representava um perigo iminente para todos.

    Doravan prosseguiu:

    — Vou precisar da sua ajuda nessa missão. Com Aurora fora, eu preciso de alguém em campo. Alguém em quem eu possa confiar para enfrentar o que está por vir. E você… pode ser essa pessoa.

    Harley ficou surpreso. Ele sabia que essa missão seria arriscada, que seria colocado em situações extremas, sem o controle total de seus novos poderes. 

    Ao mesmo tempo, compreendia que Doravan talvez quisesse observar em campo, analisando através da experiência real o impacto de seus dons em vez de se limitar a experimentos controlados ou análises de laboratório. 

    Essa era também sua chance de se provar, de recuperar o controle e, quem sabe, entender melhor sua nova realidade.”

    Harley examinou o laboratório ao redor, onde equipamentos avançados pulsavam, parecendo vivos. Era difícil não vê-los, tendo o ar de relíquias mágicas disfarçadas.

    — Eu vou ajudar — começou o jovem, com a voz firme e calculada, enxergando na situação uma oportunidade rara.

    — Mas sem a magia branca, minhas capacidades estão reduzidas demais — continuou o jovem Ginsu — Só com artes marciais, sou quase inútil para algo dessa magnitude. Mas você tem ferramentas aqui que podem mudar isso. Se quer que eu vá, vou precisar de algo à altura do que enfrentaremos.

    Doravan deixou escapar um sorriso satisfeito, à medida que cada palavra do jovem se encaixava perfeitamente em seus próprios planos.

    — Muito bem, então. Venha comigo. Vamos escolher algumas armas para você.

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