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    Harley voltou sua atenção para o segundo grupo à esquerda. Observando com mais cuidado, ele notou que as cinco pessoas ali reunidas vestiam trajes leves e coloridos, contrastando com o ambiente sombrio ao redor. 

    “São magos ou apenas arrogantes mostrando suas energias pelas cores?” — ponderou o jovem, sem esconder seu ceticismo.

    Cada um dos integrantes ostentava uma coleção de objetos presos ao corpo: facas, colares, argolas, estrelas metálicas e pequenos globos brilhantes. Era difícil ignorar a ostentação de adornos daqueles indivíduos, especialmente com os volumosos cestos que levavam nas costas. 

    Eles pareciam carregar uma presença própria, a ponto de vibrar em sintonia com o ambiente. Harley não conseguia desviar os olhos, e Doravan percebeu.

    — Estão chamando sua atenção, não? — comentou o velho professor, baixando a voz — São reservatórios de energia mágica. A ‘Escola de Magia’ criou essa tecnologia. Até hoje, não descobri qual o processo pelo qual conseguem armazenar tanta energia dimensional num só lugar.

    O jovem Ginsu franziu o cenho, a lembrança surgindo: 

    — Vi dispositivos assim no catálogo holográfico, mas eram muito menores.

    — Esses são diferentes — respondeu o velho professor — Foram projetados para suportar situações que consomem energia em níveis que você nem consegue imaginar.

    “Esses cestos devem armazenar um poder imenso, mas a que custo?” — refletiu Harley, enquanto os analisava. Para ele, o tamanho e o peso daquele equipamento pareciam limitar a mobilidade, mas talvez os magos tivessem trocado velocidade por resistência ou capacidade mágica. 

    “Uma escolha interessante” — refletia, antes de desviar sua atenção para o terceiro grupo à direita.

    O contraste neste terceiro grupo era marcante. O jovem Ginsu observava com atenção os cinco guerreiros imponentes, três homens e duas mulheres, todos envoltos em armaduras pesadas que refletiam o brilho escasso do ambiente. 

    As couraças brilhantes cobriam cada centímetro de seus corpos, mas os elmos, embora detalhadamente adornados, pareciam oferecer pouca proteção para suas cabeças. 

    “Poderosos, mas vulneráveis” — continuou ponderando Harley, enquanto avaliava o grupo.

    As espadas que traziam às costas eram gigantescas, e nas mãos seguravam outras armas igualmente pesadas: machados, lanças ou escudos que pareciam poder esmagar qualquer adversário. 

    “Talvez sejam os últimos remanescentes da Academia de Combate Tradicional” —  pensou o jovem Ginsu, ainda refletindo sobre o que havia acontecido na academia e sobre a maneira pela qual esses guerreiros poderiam ter sobrevivido à destruição.

    Enquanto observava os três grupos, um sentimento de incerteza apareceu: 

    “Nada era o que parecia ser” — concluiu Harley, enquanto sentia a tensão que pairava no ar. Sua experiencia lhe dizia que não era apenas o perigo iminente da Guardiã Sombria que unia os presentes. Havia algo mais. 

    Cada olhar, cada postura sugeria que estavam prontos para lutar, não apenas contra ela, mas entre si — por poder, domínio ou vantagem. 

    — Tão frágil, esse equilíbrio… — murmurou Harley, sua voz quase inaudível, provocando a sensação de que o peso da constatação o estava sufocando. Ele sentia que, em um mundo assim, sustentado por forças mágicas instáveis, bastava um erro ou uma ação para tudo desmoronar.

    O silêncio tenso foi interrompido quando um dos membros da Escola de Exploradores Interdimensionais, que estava ao lado de Milenium, falou com Doravan:

    — Ainda falta uma hora para partirmos.

    A afirmação pareceu deslocada naquele cenário, sugerindo que o tempo havia perdido todo o seu significado.

    “Uma hora? Com toda essa demora, a Guardiã Sombria não terá escapado?” — pensou Harley, surpreso. Ele se inclinou na direção ao velho professor, falando baixo para que apenas o professor ouvisse:

    — Professor, com toda essa espera, a Guardiã Sombria não vai ter tempo de escapar?

    Doravan soltou uma risada leve, surpreendendo o jovem, que nunca o vira expressar descontração antes.

    — Ah, o universo é cheio de paradoxos fascinantes! Parece absurdo, mas mesmo atrasados, estamos adiantados.

    Harley franziu a testa, confuso:

    “Como podiam estar atrasados e adiantados ao mesmo tempo?”

    Doravan, animado da maneira habitual quando o assunto era ciência, ativou seu dispositivo luminoso, projetando imagens no ar para ilustrar o que dizia.

    — O Local Proibido é uma zona pouco explorada, com regras próprias. Uma de suas peculiaridades mais notáveis é a instabilidade temporal. Nas últimas horas, todos que entraram lá ficaram presos em um tipo de loop temporal. Eles não avançam, não retrocedem. Estão congelados, mesmo caminhando.

    Agora tudo fazia sentido. O que parecia ser uma perigosa perda de tempo era, na verdade, uma vantagem estratégica. A Guardiã Sombria, apesar de estar à frente, não conseguia avançar. Ela estava presa, da mesma forma que qualquer um que tentasse ultrapassar o ponto crítico do Local Proibido.

    — Então, quando partirmos, todos começaremos do mesmo ponto? — perguntou, já compreendendo a lógica.

    — Exatamente — respondeu Doravan, sorrindo — O tempo aqui está “pausado” para aqueles dentro da zona. Podemos usar isso a nosso favor para preparar uma abordagem estratégica.

    Harley assentiu, percebendo que o tempo extra oferecia a oportunidade perfeita para ajustar planos, revisar equipamentos e sincronizar movimentos. Todos os presentes teriam a chance de se preparar meticulosamente antes do confronto inevitável com a Guardiã Sombria.

    Com um movimento ágil, Doravan pressionou um dos botões em seu bracelete, e o invólucro de transporte que haviam deixado para trás voltou a sua forma original de carroça. O veículo deslizou suavemente em direção a eles, dando a impressão de que estava vivo, movido por uma inteligência própria.

    — Aqui está algo para você — disse, entregando a Harley um pequeno dispositivo quadrado, semelhante ao que o professor carregava — É um comunicador. Você pode usá-lo para sinalizar se encontrar o inimigo. E também serve como controle da sua equipe.

    — Minha equipe? — perguntou, confuso, enquanto aceitava o dispositivo.

    Doravan não respondeu imediatamente. Ao invés disso, projetou uma imagem holográfica, mostrando os quatro membros de sua equipe. Para sua surpresa, eram criaturas artificiais semelhantes aos animais que puxavam a carroça.

    — E os outros dois membros? — perguntou Harley, notando que faltavam dois integrantes na projeção.

    — Eles são a carroça — respondeu o velho professor com um sorriso enigmático. 

    Enquanto o jovem assimilava as informações, uma conclusão começou a se formar em sua mente:Doravan não iria acompanhá-lo ao Local Proibido. Em vez disso, ele equipara Harley com as criaturas sintéticas para auxiliar na missão.

    — Vou entrar sozinho no Local Proibido com um grupo autônomo — disse o professor, confirmando as suspeitas do jovem — Se estiver em perigo, avise pelo comunicador.

    Harley concordou silenciosamente, subindo na carroça e observando o Local Proibido à sua frente. Era um lugar inóspito, cheio de distorções, onde as energias dimensionais se fundiam de maneira imprevisível. 

    De repente, um grito ecoou entre o grupo de Exploradores Interdimensionais:

    — Vamos lá! O momento é agora!

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