Capítulo 142 – Quais são os segredos das Zonas?

Doravan, fiel ao seu costume, adiantou-se e ativou as projeções em seu dispositivo quadrado, esclarecendo suas palavras com precisão:

— Se me permitem — disse ele, enquanto a projeção de um mapa tridimensional se formava no ar, revelando cinco zonas distintas dentro do Local Proibido — Sugiro que considerem a seguinte estratégia…

Fez uma pausa, observando o ambiente tenso. Sabia que cada palavra seria analisada com atenção. Apontou para o jovem Ginsu com um gesto que não deixava dúvidas sobre a seriedade do que viria a seguir:

— Como já havíamos discutido anteriormente, a proposta é que a equipe do meu discípulo, Harley, ocupe a ‘Zona Inicial Central’, enquanto eu fico com a ‘Zona Inicial Esquerda’. Essas zonas, como é de conhecimento geral, são marcadas por distorções e energias dimensionais instáveis, o que dificulta a movimentação e as torna menos propensas a servir de esconderijos para a Guardiã Sombria.

Ele fez uma pausa, seus olhos passando por cada um dos cinco sobreviventes da ‘Academia de Batalha Tradicional’. O silêncio no ar era palpável. A tragédia da explosão ainda pairava sobre todos, e Doravan sabia que, por mais que a missão fosse crucial, a dor da perda continuava a ferir profundamente.

— Sei que isso pode ser novidade para alguns de vocês — continuou, a voz séria — Por isso quero garantir que estamos aqui para discutir e confirmar os detalhes. A ideia inicial foi dividir minha participação dessa forma, mas nada está finalizado ainda. Todos os grupos envolvidos devem concordar com a divisão, e só então poderemos seguir em frente com a missão.

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Foi então que um dos guerreiros, visivelmente indignado, ergueu a voz, interrompendo o discurso do velho professor com firmeza:

— Chega, Doravan! Isso é um absurdo! — gritou, os olhos fulminando, a fúria clara em sua voz — A Guardiã Sombria destruiu tudo! Nossa academia, nossos amigos, nossa gente! E você ainda está pensando em usar isso como uma maldita oportunidade para testar seus brinquedos? Não é hora para pesquisa, é hora de capturá-la! Se não está disposto a isso, então não deveria estar aqui! 

O olhar de Doravan se manteve firme, sem hesitar. Milenium, que estava mais à frente, olhou para o guerreiro e respondeu com calma, mas com autoridade:

— Não estamos aqui para vingança! Precisamos capturar a Guardiã Sombria viva, para obter informações cruciais sobre seus motivos. A vingança, em qualquer forma, pode nos cegar e nos fazer perder o foco.

Os guerreiros pareciam cada vez mais inflamados, a raiva alimentando sua sede de vingança. Vendo a situação se intensificar, ele interveio mais uma vez, com um olhar sério, reforçando a ideia de Milenium de que a missão não era uma questão pessoal.

— Sem mim, as três equipes terão que se dividir ainda mais — disse Doravan, com os olhos fixos no mapa, enquanto apontava duas das zonas críticas — Será necessário enviar menos pessoas para cada zona. Em vez de cinco, teremos apenas três em cada área, o que eleva consideravelmente os riscos e torna a missão muito mais difícil de ser concluída com sucesso. 

Ele olhou para os presentes, buscando um entendimento mútuo. A tensão estava no ar, e cada palavra agora parecia pesar ainda mais. Foi então que o velho professor, com um tom mais suave, mas com a mesma convicção, fez uma última observação:

— Embora eu não seja um guerreiro — disse Doravan, reafirmando sua posição com firmeza — Trago algo que pode ser crucial. Tenho comigo armas eficazes de aprisionamento.

Fez uma pausa, deixando o impacto das palavras se espalharem, antes de continuar:

— E também dois protótipos de armas de aprisionamento que, ao atingirem a Guardiã Sombria, absorvem sua assinatura de energia e transmitem a localização exata em tempo real para todos os comunicadores. Enquanto pesquisador, eu nunca deixo uma oportunidade passar. Sempre vejo mais possibilidades do que a maioria.

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Como já tinha virado um hábito, Doravan fez uma pausa novamente, permitindo que o silêncio tomasse conta por um momento, enquanto observava as reações dos presentes, antes de continuar com suas palavras:

— Repito, não sou guerreiro. E se alguém aqui tem dúvidas sobre minha capacidade ou meu comprometimento com a missão, eu confio totalmente na eficácia de minhas criações para garantir que, caso eu falhe, outra equipe saberá o lugar certo para concluir a missão.

Milenium, com o olhar sério, olhou para os outros presentes e novamente deu sua aprovação:

— Concordo com a divisão proposta. 

O provável líder dos Magos, com um olhar decidido, assentiu e acrescentou:

— A proposta está alinhada com nossas expectativas. Nada contra.

Por fim, o  guerreiro se inclinou levemente para frente e disse:

— Não concordo com essa decisão. Acredito que estamos cometendo um erro grave, mas já que a maioria aprovou, vou acatar.

Harley observava em silêncio, sentindo o peso das palavras, mas também a crescente distância que o separava dos outros. A falta de envolvimento nas decisões fazia-o sentir-se cada vez mais afastado da missão, levando-o a acreditar que não fazia mais parte da equipe.

Ele não era mais que uma ferramenta que cumpriria sua parte sem questionar, sem que fosse dado valor às suas ideias ou preocupações.

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Seu papel era claro: seguir ordens, sem questionar, sem ser ouvido. Parecia que ele estava condenado a seguir um caminho que já estava traçado, uma linha reta que ele não podia mudar.

A sua mente, porém, não conseguia afastar a curiosidade crescente enquanto seus olhos retornavam ao mapa holográfico. Mas, enquanto pensava nisso, seus olhos voltaram para o mapa holográfico diante de si. As cinco zonas interligadas estavam ali, desafiando-o com suas cores vibrantes. 

Harley fixava o olhar no mapa, observando as representações das duas zonas iniciais à frente, onde ele e Doravan iriam ingressar. Também tinha uma terceira zona, ocupando a posição central e conectando as duas primeiras.

A quarta zona, mais afastada, também conectada à terceira, se estendia ao fundo. Uma quinta zona, localizada lateralmente, formava um corredor que parecia ligar as zonas iniciais à intermediária e à final, criando um caminho paralelo que unia as diferentes regiões.

Harley, perdido na análise do mapa holográfico, levantou os olhos, mas de novo, como em tantas outras vezes, seu olhar foi inevitavelmente atraído pelas aberturas reais à sua frente.

Os cinco portais, grandes fissuras na realidade, já eram familiares para ele. Mesmo tentando focar no que acontecia ao seu redor, sua atenção sempre retornava às bandeiras, que se moviam suavemente ao vento invisível, dando a impressão de que as zonas esperavam por ele.

— As outras três zonas ainda precisam ser decididas — disse Milenium, a voz firme e autoritária, interrompendo o silêncio tenso que pairava no ar. Ela fez uma pausa breve, os olhos cruzando com os de cada um dos presentes, indicando que sondava quem tomaria a próxima decisão.

— Eu vou tomar a frente, então — disse Milenium, com um tom de autoridade que não permitia contestação — A Zona Direita é nossa responsabilidade. E, claro, estamos mais do que preparados para dar apoio a qualquer equipe que precise.

Um membro da Escola de Magia dos Ossos de Dragão então se adiantou:

— Ficaremos com a zona intermediária, a menos que alguém tenha uma objeção.

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A sala permaneceu em silêncio. 

— Ficaremos com a zona final — afirmou um dos guerreiros sobreviventes à explosão com um tom firme — É o ponto mais provável para encontrarmos a Guardiã Sombria. E não se preocupem, quando chegarem, a diversão já terá terminado.

Harley percebeu a confiança implícita nas palavras dos guerreiros. Se a Guardiã estivesse na zona final, de acordo com o que todos pensavam, teriam a vantagem inicial, ganhando tempo suficiente para capturá-la antes que os outros grupos chegassem.

Com as estratégias delineadas, o jovem olhou ao redor e sentiu um profundo desconforto. Apesar da aparente colaboração entre as escolas, ele não podia deixar de se perguntar sobre os verdadeiros motivos de cada grupo. 

Em um ambiente onde o equilíbrio de poder entre essas forças era frágil, qualquer erro poderia alterar o status quo do Mundo Mágico.

Ginsu refletiu sobre os conhecimentos que já havia adquirido até aquele momento, parando brevemente para observar os três grupos. A Escola de Ciência e Tecnologia, embora fosse uma fonte essencial de conhecimento e armamentos, tinha suas limitações no armazenamento e gestão. 

A Escola de Exploradores Interdimensionais, encarregada de explorar o Local Proibido, repassava tudo que era obtido para a Escola de Ciência e Tecnologia. A Academia de Batalha Tradicional, por outro lado, formava guerreiros excepcionais, mas não tinha a autorização de manter um exército. 

As três escolas, apesar de suas forças, dependiam uma da outra de maneira quase imperceptível, e a recente destruição de uma delas apenas aprofundava as tensões.

A mudança na dinâmica de poder era clara. O que parecia ser uma missão simples de captura da Guardiã Sombria tornara-se, na realidade, uma oportunidade estratégica para testar a força, a influência e as intenções de cada um dos quatro poderes. Era uma batalha silenciosa pelo controle do Mundo Mágico, onde todos avaliavam os limites uns dos outros

Harley lutava contra os próprios pensamentos, que pareciam crescer mais pesados a cada segundo que passava observando os portais no horizonte. As bandeiras, marcadas com as zonas, balançavam ao vento, e quanto mais ele olhava para elas, mais elas pareciam ameaçar o equilíbrio que ele tentava manter.

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Os cinco magos foram os primeiros a avançar, atravessando sua bandeira com rapidez, desaparecendo tão repentinamente quanto surgiram. 

Em seguida, Milenium e seus aliados se dirigiram à ‘Zona Lateral’, mas o que Harley não esperava foi que a equipe de guerreiros, em um movimento coordenado, escolhesse a mesma zona, ao invés de avançar para a zona final.

A mudança de planos causou uma pontada de incerteza em seu peito, mas ele não disse nada.

Doravan, por sua vez, observava tudo com um olhar de quem já esperava algo assim. Ele sorriu sutilmente e, ativando seu capacete, de design diferente dos demais, seguiu também em direção à ‘Zona lateral’, juntando-se ao grupo de Milenium e aos guerreiros, num movimento que não parecia acidental.