Capítulo 144 – O impacto das formas inconstantes
As formas geométricas menores que compunham a realidade ao redor de Harley estavam constantemente em movimento, deslocando-se e mudando de localização a cada instante, como se buscassem se esconder na ausência de um olhar que as acompanhasse.
O jovem avançava apesar da falta de uma direção clara, esforçando-se para desviar das formas que se moviam em sua direção a passos lentos. No entanto, ocasionalmente, era surpreendido por outras formas que mudavam de velocidade abruptamente, lançando-o para longe sem aviso prévio.
Embora os impactos não lhe causassem dor física, cada colisão desorientava sua percepção, exigindo um rápido reajuste para se orientar novamente. A cada novo choque, o capacete reiniciava para estabilizar a sobrecarga sensorial.
Harley conseguiu dar mais um passo. Outro passo e conforme avançava, suas percepções se tornavam mais intrigantes. Além das formas geométricas que se moviam ao seu redor, ele começou a divisar outras formas mais complexas, cujo deslocamento não parecia seguir uma progressão natural.
Revelavam-se como pequenas rupturas na linearidade do espaço-tempo, onde os objetos pareciam existir simultaneamente em dois lugares distintos, desafiando a coerência da realidade diante do tumulto das formas em constante transformação.
A falta de continuidade dos objetos ao longo de suas trajetórias gerava dúvidas na sua mente:
“É apenas um efeito da velocidade alucinante ou da diminuição da visibilidade do local?”
Nada fazia muito sentido e agia conforme a sua previsão conhecida de estabilidade da realidade. E a situação se agravou ainda mais quando ele baixou o olhar para o chão e fez uma descoberta ainda mais desconcertante.
As formas geométricas sob seus pés também não eram estáveis. Quadrados, triângulos, cilindros… Todas mudavam constantemente, desafiando a noção de estabilidade.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Harley estava totalmente desorientado e se viu imerso em reflexões:
“Estou preso em um mundo em constante mutação, ou sou eu o agente de mudança, deslocando-me incessantemente por entre as infinitas possibilidades do universo?”
Ele olhava para toda aquela mudança e viu-se mergulhado em um medo profundo, algo que pensou ter superado há muito tempo. Era um temor que remetia aos seus dias de infância, quando enfrentava treinamentos de vida ou morte.
Naquela época, acreditava tê-lo vencido, trancado em algum lugar distante de sua mente. No entanto, ali estava ele novamente, encarando-o, rindo de sua vulnerabilidade.
Para ele, que nunca temeu a morte ou os desafios mais árduos, havia agora, percebido algo ainda mais assustador: a perspectiva de existir de forma indesejada. Temia tornar-se apenas mais uma peça inerte no cenário, incapaz de seguir seus próprios desejos e planos.
“Como posso enfrentar Sergio Romanov? Ou reencontrar meu pai e meu irmão? Como acertar as contas com minha família e meu clã? Será que todas essas oportunidades estão perdidas? Estou destinado a ser apenas mais uma alma errante, sem rumo, propósito ou relevância?” — eram os receios não cumpridos que mais despontavam na mente de Harley.
A sensação de estar preso em um mundo onde nada permanecia constante era avassaladora, e a incerteza de não conseguir avançar, de não realizar suas ambições e metas ou encontrar uma saída daquela experiência, aterrorizava sua mente.
Cada passo era uma luta contra o caos que o envolvia, e a sensação de impotência aumentava a cada passo na realidade que não mudava.
O desejo de encontrar uma solução para aquela situação angustiante crescia dentro dele, alimentado pelo temor de se perder na eterna metamorfose do mundo ao seu redor ou virar uma outra dessas peças geométricas movimentando-se sem vontade aparente apenas seguindo alguma lei ou regra pré-estabelecida.
Era previsível. E, da mesma forma que se repetia, Harley foi atingido por uma forma geométrica e lançado a outro ponto que se assemelhava a todos os outros. Ao abrir os olhos, encontrou-se mais uma vez imerso em um emaranhado de linhas indistintas.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
“Será?” — indagou-se mentalmente o jovem.
“Poderia ser?” — continuou a reflexão enquanto as linhas desvaneciam e sumiram mais uma vez.
Decidido a testar e entender melhor aquele estranho fenômeno das linhas, Harley tomou uma decisão arriscada. Em vez de se esquivar das figuras geométricas em movimento, ele se precipitou em direção a elas.
O próximo choque foi inevitável, mas desta vez, em vez de tentar escapar, ele concentrou sua atenção nas linhas que o rodeavam. Focou-se nelas, tentando discernir algo que até então lhe escapava. Foi então que percebeu algo surpreendente: as linhas emanavam dele mesmo.
No instante seguinte, as linhas se desvaneceram, e o jovem voltou à sua realidade habitual. Passado algum tempo, outro choque o atingiu, e desta vez ele notou algo novo: as linhas não eram todas iguais. Haviam espessuras diferentes e tonalidades distintas no negro de cada uma delas. Intrigado, ele estendeu a mão e tocou uma das linhas mais espessas.
Para sua surpresa, a imagem de Doravan surgiu diante de seus olhos. A invasão mental e a lembrança do professor causaram-lhe estranheza.
“Por que estou pensando nele agora, no momento em que toco nessa linha? É porque ele acharia isso algo pouco científico e sem parâmetros apropriados?” — refletia intensamente Harley
Decidido a explorar mais, ele tocou outra linha, mais fina desta vez. E então, a imagem de Aurora, com seus traços singulares e familiares, se manifestou em sua mente. Uma saudade repentina e uma vontade de encontrá-la surgiram, trazendo consigo algumas ideias:
“Essas linhas são… ligações entre pessoas? Representam o destino ou caminhos a seguir?”
Profundamente imerso continuou:
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
“Essas linhas me conectam a outros destinos? Será possível que, ao puxar uma dessas linhas, eu antecipe a presença de Aurora, semelhante ao que acontece quando penso intensamente em algo e isso ocorre antes do esperado?”
“Essas linhas oferecem escolhas?” — continua Harley, enquanto reflete sobre a natureza desses estranhos vínculos.
Agora, diante de uma teia de possibilidades, ele se via confrontado com uma decisão crucial. Entre deslocar-se sem sentido ou seguir uma das linhas, ele sentiu que seguir a linha que o fazia pensar em Aurora era a coisa certa a fazer. Agora, ele tinha uma referência, algo para se agarrar enquanto seguia seu caminho.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.