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    — Você está encurralado, Harley. Deixe-me poupá-lo da humilhação e venha por vontade própria.

    Imediatamente, a aranha e os oito cadáveres autômatos se moveram, suas articulações metálicas rangendo de forma sincronizada enquanto avançavam em direção ao trio.

    Com as adagas firmemente em suas mãos, o jovem Ginsu sabia, desde o instante em que a Guardiã Sombria surgiu, nenhuma outra escolha restava além da batalha. A luta era inevitável.

    Marcus, ainda tentando manter a calma em meio ao caos crescente, puxou Milenium pela mão dizendo:

    — Não há escolha. Não temos força nem meios para ajudá-lo neste momento.

    A jovem não cedeu ao puxão de Marcus, mantendo os olhos fixos no seu antigo mestre, imóvel. 

    A frieza dominava sua expressão, resultado direto de sua decepção com ele, deixava claro que ela já pressentia o inevitável. Algo profundo dentro dela sussurrava que esse confronto não poderia mais ser evitado.

    O velho professor, observando a firmeza crescente da sua aprendiz, deu um passo à frente avisando-os:

    — Minha paciência tem limites. E, para ser honesto, não preciso de mensageiros.

    Essas palavras caíram semelhante a uma maldição, atingindo Marcus com uma decepção que parecia pesar em seu peito. Ele não conseguia acreditar que o jovem ao lado de Milenium tinha algum valor, muito menos que justificasse colocar suas vidas em perigo.

    E, ainda assim, todos sabiam que neste momento era impossível evitar: lutar era a única escolha, por mais terrível que fosse a perspectiva.

    Sob o comando da Guardiã Sombria, as Abominações híbridas e o exército de sombras rearranjaram suas forças, cercando o grupo com precisão implacável.

    O jovem Ginsu reavaliava a situação, os olhos atentos a cada movimento dos inimigos, sua mente trabalhando freneticamente para encontrar uma saída.

    Mas a pressão crescente o fez perceber a verdade amarga: não havia fuga e a escolha era simples: correr para os braços da morte ou enfrentá-la de cabeça erguida.

    Harley riu brevemente, à maneira de quem aceita a piada cruel do destino. Constatou o quão iludido estava ao imaginar que teria tempo. Tempo para a vingança, tempo para restaurar o clã que havia perdido.

    A realidade estava se revelando agora, e ele entendeu que não havia roteiro heroico. A morte era inevitável, e a ironia dessa percepção o fez sorrir.

    — Ordenei que te tragam vivo, mas não penses por um instante que isso tornará tua sobrevivência menos dolorosa — disse Doravan, sua voz carregada de tensão, enquanto via no riso do jovem a insígnia de uma rebeldia perigosa — Eles podem ser criativos caso você resistir. E eu não me importo quantos ossos quebrem no processo.

    — É melhor vocês partirem — disse Harley, sua voz grave ecoando em direção aos dois companheiros, enquanto seus olhos sombrios permaneciam fixos na multidão de inimigos que os cercava, prontos para atacar — Não faz sentido todos nós morrermos aqui.

    — Não podemos salvá-lo agora — repetiu Marcus, insistindo em puxar Milenium, que continuava firme em sua posição, seus olhos ainda no inimigo.

    O jovem Ginsu olhou para seus companheiros momentâneos, sua expressão endurecendo. Ele sabia que, no fundo, tinha que deixá-los ir.

    — Aurora, vá! — ordenou ele, a voz agora firme e autoritária — Vocês precisam avisar aos outros, precisam sobreviver.

    Harley mantinha os olhos cravados na multidão de inimigos, pronto para a corrida suicida, sem desvios, sem retorno, onde a luta seria apenas uma última formalidade. Apesar da inevitabilidade do momento, ele permanecia imóvel, enquanto as memórias o consumiam por dentro.

    O riso de Thalassa veio primeiro, seus cabelos negros brilhando tal qual seda ao vento. A liberdade de abandonar o clã Dragões de Sangue pela primeira vez parecia agora um eco distante, um momento que ele não valorizara.

    “Eu devia ter escolhido viver” — pensou, com os punhos cerrados.

    Ele vira Isabella em sua mente, a promessa não cumprida e a ideia de que poderia tê-la reivindicado. Os laços entre as pessoas, tão inevitáveis quanto incontroláveis, eram algo de que ele havia fugido por anos, temendo ser preso por eles como as gaiolas em sua infância.

    “Anastasia, Lysandra, Ivana, Aurora, Milenium… tantos nomes, tantos rostos, tantas possibilidades que eu nunca vivi!” — pensou Harley, em silêncio, carregando a dor dessas vidas perdidas.

    Ele fugira dos relacionamentos, acreditando que poderia controlar o futuro. Agora, o presente o encarava, e ele percebeu o quanto desperdiçara.

    “O agora não é uma escada, é tudo o que temos!” — pensou.

    Um sorriso amargo surgiu em seus lábios enquanto ele aceitava o que sempre evitara: o momento.

    — A vida é assim — murmurou ele para si, com a voz tingida de uma nova clareza — Nada e ninguém permanece esperando. O tempo avança, e as ilusões são sempre destroçadas.

    O velho professor, que observava atentamente as reações dos jovens à sua frente, deu mais um passo adiante. O sorriso sutil que surgia em seus lábios indicava que ele estava gostando de observar a luta interna de Harley.

    — Doravan, isso não precisa terminar assim — tentou argumentar a jovem, mas ela mesma sabia que suas palavras eram inúteis.

    — Oh, mas é claro que sim — disse ele, com uma calma cortante, igual a quem já estivesse saboreando a vitória — Você passou todo esse tempo me espionando, mas não aprendeu nada sobre a realidade que te cerca.

    Um movimento quase imperceptível do velho professor fez com que as criaturas sintéticas avançassem um pouco mais, estreitando o círculo ao redor do trio.

    Marcus, desistindo de tentar convencer Milenium, começou a se preparar:

    — Eu estou saindo — disse ele, a voz cheia de frustração.

    — Agora é tarde demais — murmurou Harley, com a amarga certeza de que Marcus fugiria na primeira oportunidade, deixando-os à própria sorte — Todos vamos morrer aqui.

    — Preparem-se! — voltou a gritar.

    Finalmente, Milenium se moveu, sua expressão endurecida. Marcus também adotou uma postura de combate, resignado com o que aconteceria a seguir.

    Harley apertou suas adagas com força, seus olhos fixos em seus inimigos. A batalha estava prestes a começar. Mas havia algo que o incomodava profundamente:

    “Doravan não precisa dessa luta. Qual é o propósito de tudo isso?”

    Com a mesma calma de um espectador distante, o velho professor continuava observando os três, mas algo em sua postura indicava que a qualquer momento ele poderia se mover.

    No entanto, havia um contraste desconcertante: enquanto os jovens se preparavam para o que estava por vir, todo o exército sob o comando do velho professor permanecia em uma calma inquietante, como se o trio não representasse a menor ameaça, nem o risco de mudar o curso dos acontecimentos.

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