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    Antes que tudo acontecesse, a perspectiva de Aurora… 

    “Há dias em que a luta é o único caminho, e há dias em que fugir é a estratégia mais inteligente.” — essas palavras estavam gravadas na mente de Aurora de tal forma que se tornaram uma verdade inegável, algo que havia escutado repetidamente ao longo de sua vida.

    Desde a infância, fora moldada para servir a um propósito maior, uma ferramenta nas mãos de algo maior do que ela própria. Uma peça, sem desejos ou vontades próprias, apenas parte de uma engrenagem que nunca parava de girar.

    Desde pequena, cada escolha já havia sido feita em seu lugar. Não havia margem para desejos, nem espaço para falhas. Aprendera a trancar suas emoções, a suprimir suas vontades. Sua única missão era cumprir ordens, ser eficiente, precisa e letal quando necessário.

    Agora, aqui estava ela, mais uma vez, colocada em uma empreitada arriscada, uma operação de infiltração, mais uma vez substituindo Milenium em uma operação de captura onde a possibilidade de traição era iminente.

    A jovem estava acostumada ao perigo, à incerteza, e ao risco constante que sua existência envolvia. Seu próprio destino nunca lhe pertenceu.

    Sempre fora colocada a serviço de outros, espionando Doravan, substituindo Milenium sem descanso e cumprindo todas as missões que o líder da Escola dos Exploradores Interdimensionais lhe atribuía. Mas naquele dia, algo dentro de si parecia ter mudado.

    Havia uma inquietação latente, algo despertando dentro de Aurora, uma sensação que jamais havia sentido. Enquanto observava Harley, lutando ao seu lado, perguntas desconfortáveis começaram a emergir.

    “De que forma pode alguém influenciar tanto outra pessoa sem esforço, sem técnica, sem intenção?” — pensava, intrigada com o jovem ao seu lado — “Como eu, treinada para descartar qualquer emoção, posso ser pega de surpresa assim, tão vulnerável?”

    Harley não deveria ocupar sua mente, nem por um segundo. Ela havia sido treinada para usar as fraquezas emocionais dos outros de forma ferramentas. Mas, pela primeira vez, sentia algo diferente. Não era a pessoa em si que provocava essa reação. Não. Era o símbolo que ele se tornara.

    O jovem ao seu lado era livre. Não tinha destino traçado, nem carregava as mesmas amarras que a prendiam. Era capaz de seguir o rumo que desejasse, de errar e recomeçar.

    Seu futuro era uma página em branco, uma vida cheia de possibilidades que ele próprio poderia escrever. O jovem ao seu lado não era forçado a viver na condição de uma ferramenta, a desempenhar um papel que nunca escolhera.

    Aurora, em contraste, tinha sua realidade delineada desde o nascimento. Cada passo dado, cada tarefa cumprida, era traçada por outros. Um instrumento, afiado e preciso, mas ainda assim, apenas uma ferramenta. Nunca houve preferências pessoais, apenas obrigações.

    “O que seria de mim se pudesse escolher?” — ela se perguntava em silêncio, uma reflexão que jamais havia deixado espaço para germinar em sua mente.

    Harley, para ela, representava o oposto absoluto. Ele era a liberdade que nunca conheceu, a possibilidade de uma vida guiada por autonomia, e não por ordens.

    Por mais que tentasse suprimir esses pensamentos, Aurora sabia que era apenas uma garota, como qualquer outra. Ela não gostava de admitir isso, mas sabia que, no fundo, sua razão podia ser eclipsada por algo tão simples quanto um sorriso ou um olhar misterioso. Isso a irritava. 

    “Como, depois de tudo o que eu enfrentei, ainda posso estar tão vulnerável a algo tão trivial? Será que todas as garotas têm esse potencial de estragar tudo por tão pouco?” —  Ela se perguntava, sentindo um desgosto interno por permitir que esses questionamentos a invadissem — “Será que meus pais estavam certos ao dizer para não confiar nos sentimentos?”

    Mas essa luta interna não podia durar para sempre. Aurora sacudiu a cabeça levemente, tentando afastar as ideias que não contribuíam para sua missão.

    O importante era cumprir o objetivo, voltar com as confirmações, e manter a segurança da Escola de Exploradores Interdimensionais, mesmo que isso significasse sacrificar tudo: até mesmo Harley.

    Respirou fundo e, ao girar a cabeça, seu olhar encontrou Doravan. Ele se erguia, observando cada movimento com um sorriso implacável. Sua presença era muito mais ameaçadora do que qualquer versão monstruosa que formara no passado.

    Ela o conhecia de perto, havia observado seus movimentos, tentado entender seus planos, mas não conseguia identificar o momento exato em que ele havia cruzado a linha e se tornado uma verdadeira ameaça.

    “Quando foi que ele se tornou isso?” — Aurora se perguntava, sentindo-se impotente por não ter percebido antes. Doravan, o homem que fora um mestre enigmático, agora assumia o papel de maior perigo que o Mundo Mágico já enfrentara.

    A jovem havia falhado em sua missão de identificar e neutralizar a ameaça antes que fosse tarde demais. Agora, observava os cadáveres ao redor se transformarem em máquinas de guerra, marionetes controladas por um poder desconhecido. E não sabia qual ação tomar para impedir isso.

    Doravan havia estabelecido contato com entidades de outro mundo, presenças que Aurora jamais poderia ter antecipado. Ela se sentia pequena diante da magnitude do que estava acontecendo. 

    Era uma arma entre tantas outras, uma ferramenta que, por mais que fosse letal, não podia subjugar tudo. O velho cientista estava além do alcance de qualquer tentativa de contenção.

    Enquanto os cadáveres reanimados se moviam, a jovem percebeu o quão longe Doravan estava disposto a ir. Ele não hesitava em manipular vidas, em desfazer alianças, e em aniquilar qualquer oposição com a frieza de quem não se importava com as consequências. 

    Ele tinha o poder, e sabia empregar isso. Aurora, por outro lado, sentia-se impotente pela primeira vez em muito tempo.

    A encruzilhada diante de si agora era clara:

    “Devo continuar lutando até o fim, enfrentando a morte certa, ou devo fugir desesperadamente e levar comigo o que descobri?”

    As dúvidas mantidas enterradas começavam a emergir com vigor absoluto.

    No fundo, Aurora sabia que estava à beira de uma transformação pessoal. Esse momento não era apenas sobre a missão, mas também sobre sua própria essência.

    “Será que tenho a força para mudar? Conseguirei seguir um novo caminho, mesmo sabendo que isso me afastará de tudo o que conheço e de tudo o que sempre considerei seguro?” — essas questões pesavam em sua mente quando Doravan fez um movimento súbito. 

    Sem hesitar, ele levantou o braço, dando o sinal que iniciaria o fim. 

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