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    Harley encarava o caos ao seu redor. Cada movimento na zona de luta parecia parte de um plano meticuloso. Doravan, Sergio Romanov e a Guardiã Sombria dominavam o centro desse cenário devastador, onde nada era obra do acaso. 

    O jovem Ginsu sentiu algo que ia além da simples inquietação: a terrível clareza de que estava cercado por mentes que haviam planejado meticulosamente cada detalhe até aquele momento. 

    Ele não era um combatente azarado, arrastado por engano para uma disputa entre poderes colossais do Mundo Mágico. Pelo contrário, era parte do espólio, o prêmio derradeiro de uma caçada implacável.

    “Eles planejaram tudo.” — pensou, enquanto seus olhos percorriam a figura imponente de Sergio, cuja armadura dourada reluzia sinistramente, refletindo as luzes distorcidas do campo de batalha —  “Caminhei até aqui achando que escolhia meu destino, mas tudo foi apenas um eco da sua vontade.”

    À medida que observava o avanço incessante das tropas inimigas, a sensação de estar cercado se intensificava. A aranha gigante avançava à frente, liderando o ataque com patas afiadas que perfuravam o solo a cada passo. 

    Atrás dela, os cadáveres autômatos avançavam em uma sincronia perturbadora, com o ranger das articulações metálicas ressoando pela arena em que o campo de batalha havia se convertido.

    As inúmeras sombras da Guardiã Sombria deslizaram de forma análoga a um líquido viscoso, envolvendo o terreno e bloqueando cada rota de fuga, do mesmo jeito que uma rede implacável se fechando.

    O cerco se fechava ao redor de Harley como uma corda apertando seu pescoço, mas ceder não era uma opção enquanto ainda respirasse. Apertou as adagas com força, os dedos quase sangrando sob a pressão.

    “Se este é o fim, não irei sozinho. Sergio também cairá!” — prometeu a si mesmo, enquanto ajustava sua postura, preparando-se para o impacto iminente.

    Do lado oposto, com as costas voltadas para os outros dois jovens, Marcus encarava a solidão de suas escolhas, sentindo o peso de cada decisão que o trouxe até ali.

    Ele havia enfrentado inimigos formidáveis antes, mas nada de tal magnitude. Cada sombra, cada criatura sintética parecia fazer parte de um cerco destinado a esmagá-los lentamente. 

    Mais do que isso, a visão de Milenium, ainda em perigo, corroía sua mente. Era como se todas as suas falhas passadas se reunissem para zombar dele naquele momento.

    A jovem, no entanto, parecia movida por algo diferente. Enquanto Harley e Marcus se preparavam para enfrentar a destruição, ela se concentrava em algo além da batalha. Seus olhos brilhavam com uma determinação feroz, estando a um passo de tomar uma decisão que mudaria tudo.

    E então, Aurora agiu. Com um movimento rápido, ativou um dispositivo escondido em seu traje. Uma luz intensa explodiu do artefato, rasgando o ar ao seu redor. O jovem Ginsu sentiu o mundo ao seu redor girar, a pressão crescente sugando-o para longe. 

    — O que está tentando fazer? — exclamou, enquanto a energia o arrancava de sua posição, atirando-o violentamente para o vazio.

    Aurora havia programado tudo com precisão, sem deixar nenhuma margem para que Harley ou Marcus pudessem decidir por si mesmos. O artefato de teletransporte foi ativado ao se sacrificar para enviar seus dois companheiros à salvação, pela força irresistível do quadrado tecnológico.

    Eles não tiveram escolhas. A sensação foi brutal. Não havia escapatória. A força de sucção os arrancava de qualquer controle ou vontade.

    A passagem dimensional que Aurora criou os engoliu com uma violência inesperada. O jovem Ginsu tentou resistir, mas era inútil. Marcus, ao seu lado, parecia igualmente impotente, seus olhos arregalados em um misto de choque e frustração. 

    “Não posso deixar Milenium!” — a sua mente gritava, mas seu corpo não tinha escolha senão ser arrastado pela força do portal.

    Harley mal teve tempo de compreender o que estava acontecendo. Em segundos, tudo ao redor desapareceu, substituído por uma sensação vertiginosa de estar sendo arrastado por um turbilhão, uma força imparável que parecia esmagá-los. 

    O mundo virou um vórtice de sombras e luzes, um túnel deformado que os engoliu por completo.

    O jovem Ginsu ainda teve um vislumbre de Aurora: de pé no campo de batalha. Ela não o encarou, mas algo em sua postura dizia adeus, em um silêncio profundo.

    “Ela está nos salvando… mas a que custo?” — pensou Harley, o olhar preso no brilho que a consumia. 

    Ele tentou lutar contra aquilo, mas era inútil. A brutalidade da experiência o fez perceber, de maneira dolorosa, que não havia volta. Mesmo ao tentar desesperadamente saltar de volta para o portal enquanto este se fechava, suas tentativas foram em vão. 

    O som seco do portal se selando atrás deles ecoou como um golpe final.

    Eles estavam em um novo ambiente. O jovem Ginsu caiu de joelhos, o corpo latejando, enquanto tentava processar o que acabara de acontecer. 

    Marcus estava ainda mais devastado. Bateu contra o chão com força, o rosto marcado por uma expressão de pura desolação. Milenium permanecia em sua mente, uma constante que não conseguia afastar. 

    “Eu falhei mais uma vez.” — a frase ecoava em sua mente à semelhança de um grito sufocado, impossível de ignorar.

    O novo ambiente ao redor parecia engolir tudo, com paredes de energia tremeluzente formavam uma prisão que desafiava qualquer conceito conhecido. Harley levantou-se devagar, atento a cada detalhe, perguntando-se: 

    “Onde estamos? E por que Aurora nos enviou para cá?”

    Enquanto isso, a jovem enfrentava as consequências de sua escolha. Cercada por inimigos, sabia que o tempo estava se esgotando. No entanto, seu rosto permanecia sereno, como se já tivesse abraçado seu destino.

    “Eles me salvaram tantas vezes. Agora é a minha vez.” — ponderou, antes de erguer sua lâmina com determinação renovada.

    No terreno que se desenrolava a luta, Sergio observava a ação de Aurora com irritação.

    “Ela o salvou.” — pensou, enquanto seu exército continuava a cercar a garota — “Mas isso não mudará nada. Harley não vai fugir para sempre.”

    Doravan, por outro lado, estava mais fascinado pela travessia dimensional que ela havia criado. Seus olhos cintilavam com uma curiosidade insaciável.

    “Interessante… Essa tecnologia de transporte não está no meu arsenal.” — pensou o velho cientista, o olhar avaliando o vazio deixado pelo portal — “Admirável. Mesmo no sacrifício, ela encontrou uma forma de transmitir informações. Terei que ajustar meus cálculos para considerar isso.”

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