Capítulo 164 - O último desejo de Aurora
Os dois omitiram deliberadamente vários detalhes, tentando se proteger. Enquanto explicavam a situação, de repente, o quadrado tecnológico foi arrancado deles sem aviso prévio por uma força de sucção.
O jovem Ginsu e Marcus se surpreenderam com a rispidez do ato. Um dos guardas, examinando o artefato, informou ao dono da voz inicial:
— O quadrado tecnológico contém uma mensagem privada, senhor!
A voz, fria e autoritária, ecoou com gravidade:
— Traga-o até mim.
Harley sentiu uma onda de tensão percorrer seu corpo. Ele trocou um olhar com Marcus, ambos cientes de que algo grave estava prestes a ser revelado. A presença do Cônsul, ainda distante, era opressiva. Após o que pareceu uma eternidade de silêncio tenso, a voz ecoou novamente:
— Coloquem o jovem mago na cela. E tragam o outro para minha sala.
A rispidez nas ordens deixou claro que ele estava prestes a enfrentar algo muito além do que esperava. Eles foram separados rapidamente, e Harley, agora sozinho, foi conduzido por guardas fortemente armados até uma sala diferente.
A nova sala era austera, sombria. As paredes cinzentas, sem adornos, refletiam o tom opressor que se instalava no ar. Uma mesa de metal dominava o centro da sala, acompanhada por cadeiras simples. Ao fundo, um painel de controle emitia um brilho pálido. E, no meio de tudo, ele estava lá: o Cônsul.
O líder da Escola de Exploradores Interdimensionais sentava-se à mesa, esperando. Sua figura, de certa forma calma, exalava um controle absoluto. Sua presença era uma força que pesava no ambiente.
Um homem careca e magro, mas com uma postura imponente, cuja autoridade parecia se espalhar como uma sombra por toda a sala. Ele não precisou se levantar para intimidar. Bastava estar ali.
Sem perder tempo, o Cônsul ergueu o quadrado tecnológico que os guardas haviam trazido e o ativou. Um holograma de Aurora apareceu no ar. A imagem era clara, revelando o semblante da jovem com uma expressão firme, mas vulnerável.
— Pai… — começou ela, sua voz trêmula.
Antes que pudesse se aprofundar, um som abafado de angústia escapou de alguém na sala. Harley virou o olhar e percebeu, quase oculta na penumbra, uma senhora, elegantemente vestida, muito parecida com Milenium, apenas mais velha. Era claro que aquela mulher era a esposa do Cônsul, a mãe de Aurora.
— Me desculpem, pai e mãe — continuou Aurora, sua voz sincera — Eles me salvaram tantas vezes que não seria justo abandoná-los. Por favor, ajudem Harley. Ele pode ser uma peça crucial nesta guerra. Doravan provavelmente o usaria como cobaia, mas ele é mais forte do que aparenta. Este é meu primeiro e único pedido.
O silêncio que se seguiu foi sepulcral. Então, Aurora concluiu com uma voz que mal escondia a emoção:
— Harley… não vamos poder mais nos ver. Seja feliz! Nem sempre continuar fugindo é a solução.
A imagem desapareceu. A sala ficou mergulhada em um silêncio mortal. O jovem Ginsu mal conseguia acreditar no que acabara de ver e pensou:
“Como Aurora gravou essa mensagem? Será que havia muito mais sobre o artefato tecnológico que ele ainda desconhecia?”
O Cônsul respirou fundo, lutando para manter a compostura. Harley podia ver a luta interna do homem. Sua autoridade implacável começava a se desintegrar por trás da dor de um pai que acabara de perder a filha.
A mãe de Aurora, incapaz de conter as lágrimas, levantou-se e deixou a sala em silêncio. A dor em seu semblante era devastadora.
Apesar da força emocional do momento, recusava-se a acreditar que Aurora estava realmente morta. Ele se agarrou à esperança, se forçando a acreditar que ela ainda estava viva, em algum lugar. Ele sussurrou para si mesmo:
— Eu vou te salvar, Aurora. Prometo que vou te salvar.
O Cônsul, observando-o de longe, endureceu o rosto e interrompeu o momento:
— Impossível. Ela está morta.
A frieza das palavras fez Harley estremecer. Ele olhou nos olhos do Cônsul, incapaz de acreditar.
“Por que ele estava tão certo disso? Como ele podia saber?”
O Cônsul, voltando-se para o jovem Ginsu, sua voz carregada de pesar e frustração, murmurou:
— Porque ela fez isso… porque eu sei. No momento em que o artefato de transporte foi ativado, o dispositivo vinculado à vida dela foi destruído. Ela se sacrificou.
O tom grave do Cônsul parecia encerrar qualquer dúvida. Para ele, não havia mais nada a ser feito. Harley, no entanto, não podia aceitar aquilo. Aurora sempre fora uma lutadora, uma sobrevivente. Como ela poderia simplesmente… desaparecer?
O Cônsul permaneceu por um momento em silêncio, como se tentasse processar o turbilhão de emoções dentro de si. A responsabilidade de um líder e a dor de um pai estavam em conflito.
O fardo de perder a filha, tratada como uma ferramenta por tanto tempo, agora o atingia com força total. Ele olhou para Harley, agora com um semblante mais resignado.
— Não podemos mudar o passado, garoto. Nem as decisões das pessoas que amamos. O que resta para nós é colher as consequências.
O líder então se aproximou lentamente da mesa, apertando novamente o artefato tecnológico, que ainda exibia a mensagem gravada de Aurora.
— Para honrar o último pedido da minha filha — disse ele, sua voz mais firme agora — Estou oferecendo a você um lugar na Escola de Exploradores Interdimensionais. Será uma forma de cumprir o desejo dela.
Harley sabia que estava sendo manipulado, o Cônsul jogava com seu senso de dívida, mas ele também sabia que Aurora queria aquilo para ele. A mensagem final de Aurora ecoava em sua mente:
“Seja feliz! Nem sempre continuar fugindo é a solução.”
Ela não falava de simples felicidade. Ela falava de aceitação, de encontrar um caminho que o levasse para algo maior do que a dor e o desejo de vingança. Mas, mesmo assim, sabia que havia uma promessa não cumprida.
Ele precisaria voltar ao Local Proibido. Ele precisaria confrontar Doravan. Ele precisava confirmar toda essa verdade.
Antes de pensar em qualquer felicidade ou paz, ele teria de lidar com as sombras do passado.
— Doravan ainda deve ser enfrentado — murmurou, mais para si do que para o Cônsul.
O Cônsul ouviu e, por um momento, não respondeu. Ele sabia o que viria.
Harley olhou para ele, finalmente tomando sua decisão.
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