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    Ele não sabia ao certo o que esperar. Milenium permaneceu em silêncio por alguns segundos, como se estivesse escolhendo suas palavras cuidadosamente.

    A presença de Milenium, que antes irradiava uma sensação de fascínio para Harley, agora parecia diferente, quase frágil. Aquela imagem que ele construíra de uma jovem predestinada, cheia de propósito, se desvanecera. 

    O vazio deixado pela morte de Aurora parecia ter transformado tanto Milenium quanto os sentimentos que ele nutria por ela. O fascínio que antes preenchia sua mente com cores vibrantes agora se esvaziava, como um belo vaso oco, desprovido de significado.

    Harley ainda se lembrava do primeiro encontro, das sensações intensas e das dúvidas que surgiram quando seus olhares se cruzaram. Milenium havia representado algo além da escuridão, algo novo, vibrante, uma promessa de que a vida poderia ser mais do que lutas e sofrimento. 

    Mas agora, enquanto ele a observava, aquelas cores sumiam lentamente, e tudo o que restava era a pergunta em sua mente: 

    “Cadê todas aquelas cores do primeiro olhar?”

    Ele se levantou lentamente, ainda sentindo o peso das comparações e dos sonhos perturbadores que o assombraram enquanto dormia. Milenium fez um gesto breve, dispensando os dois guardas que a acompanhavam. Sem uma palavra, os soldados se afastaram, deixando-os sozinhos. O quarto pareceu encolher, e a tensão no ar se intensificou.

    O jovem Ginsu sentiu uma ligeira inquietação, como se soubesse que o que ela estava prestes a dizer mudaria tudo.

    Finalmente, Milenium falou, sua voz firme, mas com um toque de algo que Harley não conseguia identificar completamente.

    — Há coisas que você não entende… — disse ela, sua voz calma, mas carregada de significado — Coisas que vão além do que você conhece.

    O jovem Ginsu franziu a testa, confuso e um pouco cético. Ele tinha enfrentado tantos desafios, tantas batalhas, que não conseguia imaginar o que ela poderia estar insinuando. Mesmo assim, algo no tom dela o fez hesitar. Havia profundidade nas palavras, uma verdade que ele ainda não compreendia.

    — O que você quer dizer com isso? — ele perguntou, tentando disfarçar a incerteza em sua voz.

    — Sente-se! — disse Milenium, apontando seu retorno para a cama.

    Harley obedeceu, mas manteve os olhos fixos nela. Havia algo diferente em seu olhar, um cansaço profundo e uma sombra de tristeza que ele nunca tinha visto antes. Milenium se sentou em uma cadeira próxima, cruzando os braços como se tentasse se proteger da vulnerabilidade que se revelava em sua expressão.

    — Aurora e eu lhe devemos uma explicação. — começou ela, sua voz baixa, mas firme — minha irmã sempre quis te contar, mas… nunca houve o momento certo.

    Harley ficou em silêncio, esperando que ela continuasse. Ele sentia que algo importante estava por vir, algo que poderia finalmente desvendar a complexidade entre Aurora, Milenium e ele.

    — Você foi um encontro inimaginável que a fez repensar sua vida — continuou Milenium, seus olhos cravados nele — Nosso pai estava sempre ocupado, e Doravan… Bem, ele só a via como uma ferramenta. Ela neste tempo sempre esteve sozinha. Mas você apareceu e mudou tudo. Aurora te admirava desde o primeiro momento em que te viu. Algo que eu nunca havia visto antes.

    Harley sentiu um nó se formar na garganta. Ele se perguntava como ele, alguém que sempre se via como um jovem perdido, à deriva entre mundos e lutas, poderia ter causado tal impacto na vida de Aurora. 

    A ideia de que ele se tornará alguém importante para alguém, em um curto período de tempo, era algo que o tocava profundamente, mas também o deixava confuso.

    — Aurora e eu… — Milenium fez uma pausa, como se ponderasse a melhor maneira de revelar o segredo que carregava — Tínhamos uma ligação mental. Quando dormíamos, podíamos compartilhar experiências e pensamentos. Isso nos mantinha conectadas, mesmo quando estávamos longe uma da outra.

    A revelação surpreendeu Harley. Isso explicava algumas coisas, mas também gerava novas perguntas. Antes que ele pudesse formular qualquer resposta, Milenium continuou.

    — Você deve estar se perguntando como sobrevivi à explosão da Academia de Batalha Tradicional. — disse ela, antecipando uma das maiores dúvidas dele — Eu nunca estive lá. A pessoa que você viu era uma outra impostora, treinada para se passar por mim. Como futura sucessora do cônsul, nunca saí da Escola.

    Harley assentiu, entendendo finalmente o que havia acontecido. Assim como ele, Milenium também era uma peça em um jogo maior, controlada por forças que ela não podia desafiar. Ambos estavam presos em suas próprias prisões, forjados pelas expectativas e pelo poder de outros.

    — Quando Aurora morreu… — a voz de Milenium falhou momentaneamente, um vislumbre de dor cruzando seu rosto — Foi como se uma parte de mim também tivesse morrido. Desde então, tenho carregado esse vazio, tentando entender como seguir em frente.

    Harley olhou para Milenium e viu, pela primeira vez, sua humanidade. Aquela jovem que ele idealizara como uma líder predestinada também sofria, também era vítima das circunstâncias. 

    Sua imagem de perfeição e destino se dissolveu em empatia e compreensão. Ela, como ele, era apenas uma pessoa tentando sobreviver em um mundo cruel.

    — Aurora… ela me falava sobre você. — Milenium olhou diretamente nos olhos dele, e pela primeira vez ele viu um brilho de sinceridade — Naquele laboratório vazio, você foi uma pessoa próxima que ela teve. Não consigo entender completamente por que, mas isso mexeu com ela. E… de certo modo, mexeu comigo também.

    Harley, por mais acostumado que estivesse a enfrentar inimigos e resolver problemas com rapidez, se via agora sem respostas. Ele não sabia como reagir às palavras de Milenium. Ela estava lhe oferecendo algo mais profundo que uma aliança de guerra. Ela estava lhe dando sua confiança e sua dor.

    — Qual é o próximo passo? — ele perguntou, tentando mudar o foco da conversa, mas incapaz de mascarar a perplexidade em sua voz.

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