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    A areia vermelha rodopiava em torno dos dois. As lâminas se encontravam com o clangor do aço rompendo o silvo incessante do vento. Cada movimento parecia desferir uma mensagem visceral, onde técnica e ódio eram indistinguíveis.

    Harley atacou primeiro. Ele se abaixou, deslizando pela areia, as duas adagas traçando linhas cruzadas em direção ao abdômen de Sergio. Este, no entanto, girou o corpo para o lado, evitando o golpe. Sua espada desceu em um arco rápido, mirando o ombro exposto de seu rival.

    O jovem Ginsu ergueu a adaga prateada, bloqueando a lâmina que descia com força. O impacto reverberou pelo seu braço, quase fazendo com que ele perdesse o equilíbrio. 

    Mas antes que Sergio pudesse aproveitar a vantagem, Harley usou sua adaga preta para desferir um corte lateral em direção à perna do oponente que recuou, e o golpe passou a poucos milímetros de sua carne.

    — Está começando a aprender, irmão — provocou o filho do líder do Clã Dragões de Sangue — Mas você ainda não entende o que está em jogo.

    Harley ignorou as palavras, avançando com fúria renovada. Ele saltou para o lado, criando um movimento imprevisível, e girou as duas adagas em um ataque coordenado. A adaga preta cortou o ar com um som que parecia ecoar nas camadas da realidade, enquanto a adaga prateada buscava uma brecha.

    Sergio usou a espada para desviar de uma das armas, mas o giro rápido do jovem Ginsu trouxe a lâmina prateada em direção ao seu flanco. Ele conseguiu bloquear, mas não sem esforço, e foi forçado a recuar, deixando marcas profundas na areia do deserto.

    — Você não vai fugir desta vez! — gritou Harley, seus olhos ardendo com uma intensidade quase sobrenatural.

    — Será que sou eu quem sempre foge? — retrucou Sérgio, lançando palavras que desestabilizaram ainda mais seu oponente.

    O jovem avançou novamente, a areia sob seus pés explodindo com a força de seu impulso e a resposta veio com um giro da espada em um movimento circular que criou uma onda de ar cortante, afastando momentaneamente Harley. 

    O vento soprou com ainda mais força, espalhando grãos de areia que cravaram na pele exposta de ambos, mas nenhum dos dois recuou.

    Sergio sorriu, mas havia algo cruel naquele gesto. Ele deu um passo à frente, sua espada baixa, quase descuidada.

    — Você acha que sabe o que é lutar por sobrevivência? — perguntou, o tom carregado de desprezo — Você ainda não viu nada.

    Harley não respondeu, embora sua respiração ofegante traísse o esforço que tentava manter. Ele sabia que o seu oponente estava tentando desestabilizá-lo. Mas antes que pudesse reagir, o filho do líder dos Dragões de Sangue levantou a mão esquerda, e o ar ao redor pareceu congelar. 

    De repente, uma adaga negra materializou-se em sua palma, pulsando com um brilho ameaçador.

    — Você não é o único com um artefato arcano, irmãozinho — disse Sergio, a voz carregada de um triunfalismo gélido.

    A revelação o atingiu feito um golpe, fazendo Harley hesitar por um breve instante, tempo suficiente para que o adversário avançasse com a espada e a adaga recém-revelada. O jovem Ginsu ergueu suas próprias armas para bloquear, mas o ataque foi feroz, empurrando sua defesa para cima com força.

    E mesmo com seu saltou para trás, não foi rápido o suficiente. A adaga cortou sua coxa, rasgando a carne e enviando uma dor aguda que o fez tropeçar. Ele caiu de joelhos, mas manteve firme suas lâminas, bloqueando um golpe descendente da espada que teria encerrado a luta.

    O sorriso do filho do líder do Clã Dragões de Sangue alargou-se. Ele girou a adaga preta em sua mão, provocando Harley com movimentos leves, quase brincalhões.

    — Está curioso para descobrir o poder dela, não está? Minha adaga tem sede de sangue — Sergio lambeu o sangue que escorria da lâmina, um brilho ameaçador em seus olhos — Acho que ela não é a única que gosta disso.

    O jovem Ginsu, rangendo os dentes contra a dor, empurrou-se para ficar de pé.

    — Você vai perder de novo — murmurou Harley, sua voz baixa, carregada de uma ameaça silenciosa que pairava no ar, evocando uma sentença inevitável.

    Ele avançou, ignorando a dor em sua perna, e atacou. As duas adagas se moviam de forma similar a uma extensão de seu corpo, a lâmina preta cortando o ar em ângulos imprevisíveis enquanto a arma prateada buscava aberturas na defesa. 

    Cada golpe era uma explosão de energia, faíscas dançavam no ar toda vez que as lâminas se chocavam.

    Sergio lutava para manter a vantagem. Ele girou, bloqueou, contra-atacou, mas seu adversário também não recuava. 

    — Você nunca percebeu, não é? Cada gota de suor que derramou, cada ferida que carregou… fui eu que ordenei. Eu sempre soube como usar minha posição para fazer você sofrer mais que todos.

    A dor do passado invadiu a mente de Harley. Ele sempre se perguntou por que o filho do líder parecia ter uma obsessão em vê-lo sofrer. Agora, a resposta era clara: Sergio era seu irmão, escondido por trás de uma máscara. 

    Como espólio de guerra, o jovem Ginsu já havia sofrido demais, mas seu irmão se certificou de que seu tormento fosse além dos limites. A ira crescia dentro dele, tal qual uma chama impossível de apagar.

    A raiva de Harley incendiou por dentro, e a adaga negra em sua mão vibrou em uníssono, refletindo o ódio que dominava sua alma. Uma energia sombria começou a permear o ambiente, espalhando-se pelo ar, igual a um reflexo de uma presença opressora.

    Um brilho sinistro correu pela lâmina, iluminando-a com uma intensidade macabra. Antes que pudesse reagir, o espaço à sua frente foi rasgado por um portal, acompanhado por um som ensurdecedor que parecia reverberar em sua própria alma. 

    Ambos foram sugados pela abertura, engolidos por uma vastidão ancestral. Encontraram-se em uma floresta primitiva, onde árvores colossais erguiam-se cujos contornos lembravam pilares tocando o céu, enquanto raízes grossas as quais se assemelhavam a serpentes entrelaçavam-se no solo, formando um intrincado labirinto natural repleto de padrões enigmáticos.

    Sergio mal teve tempo de reagir antes que Harley voltasse a atacar, saltando pelas raízes, cuja flexibilidade lembrava trampolins. Seus movimentos imprevisíveis culminavam em golpes desferidos de ângulos inesperados, forçando seu adversário a recuar a cada novo impacto.

    Ele aproveitava o terreno a seu favor, movendo-se com agilidade entre as árvores, enquanto Sergio lutava para manter o equilíbrio no solo irregular. 

    Determinado a não recuar mais, o filho do líder do Clã dos Dragões de Sangue desferiu um golpe rápido com sua espada, cortando o tronco de uma árvore próxima. A árvore caiu na direção de Harley, obrigando-o, desta vez, a recuar.

    Aproveitando a abertura criada pela manobra, Sergio avançou com uma série de estocadas precisas, obrigando seu rival a ceder terreno.

    Não havia dúvidas: aquela era a última batalha, o confronto que decidiria tudo. E ambos sabiam que só um teria o direito de continuar.

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