Capítulo 197 - Lâminas dançam entre sombras
O artefato brilhou intensamente na mão de Sergio. O ar ao redor parecia se contorcer enquanto a réplica etérea se reconstruía, seus traços nebulosos retornando com uma essência ainda mais ameaçadora.
O jovem Romanov observava com frieza, à semelhança de um escultor avaliando sua obra, antes de lançar a criação restaurada de volta à batalha.
Os dentes de Harley rangeram sob a pressão de sua raiva crescente. A verdade o atingiu com a força de um golpe:
“Preciso destruir o artefato! É a única forma de acabar com essas malditas cópias demoníacas!” — pensou, enquanto sentia a necessidade de uma mudança de estratégia.
O frio da adaga prateada em sua mão parecia penetrar sua pele, trazendo consigo a memória de um poder latente, algo que poderia ser explorado naquele momento.
Harley trocou as adagas em um movimento fluido, trazendo a lâmina prateada para se defender. A adaga negra, relegada à outra mão, ficou pronta para atacar Sergio de um ângulo inesperado.
O impacto do encontro entre a lâmina prateada e a espada produziu uma chuva de faíscas. O jovem Romanov piscou, como se a resistência da adaga tivesse arrancado algo de sua mente, um fragmento de controle que ele nem percebera estar perdendo.
— O que…? — murmurou Sergio, vacilando por um instante.
Harley viu a abertura e não hesitou. A adaga prateada em sua mão brilhava intensamente, carregando sua capacidade única de sintonizar-se com a energia residual da dimensão de origem de seu portador.
O segundo golpe na carne do jovem Romanov provocou mais do que dor. A arma canalizou sua energia externa, apagando um fragmento da sua memória recente e desencadeando uma paralisia que prometia se intensificar a cada novo ferimento.
— Maldito… — rosnou, recuperando o equilíbrio.
As três aberrações etéreas foram enviadas rapidamente buscando tempo para se recuperar dos efeitos paralisantes da adaga prateada.
Elas avançaram com ferocidade, obrigando Harley a girar defensivamente, suas adagas brilhando enquanto cortavam o ar e dispersavam uma das criaturas. Recuperado, aproveitou o tumulto para lançar mais um golpe traiçoeiro.
A lâmina do jovem Romanov passou rente ao ombro de seu inimigo, tão próxima que ele sentiu o ar se partir ao seu lado. Com um sorriso frio, Sergio provocou:
— Ainda bem que ela já está morta. Nossa mãe nem teve tempo de perceber que você nunca teria a força para protegê-la… nem a coragem para tentar.
As provocações penetravam cada vez mais fundo, encontrando brechas e transformando sua fúria em chamas vorazes. A adaga negra em sua mão reagiu novamente, tremendo de forma pulsante, do mesmo modo que se alimentada pelo ódio que fervia dentro dele.
Uma energia sombria emergiu lentamente, rastejando pelo ar de forma semelhante a uma neblina viva, tornando o ambiente sufocante.
Cada palavra de Sergio era um golpe invisível, alimentando a fúria de Harley. Quando o ataque veio, ele canalizou sua ira em um movimento devastador. O golpe foi tão poderoso que o ar ao redor deles se rompeu novamente, e um portal surgiu, engolindo os dois antes que qualquer um pudesse reagir.
O campo de batalha revelou-se em uma imensidão de espelhos flutuantes, sem peso ou substância, refletindo cada movimento em milhares de facetas desconexas.
Essas superfícies incorpóreas pairavam suavemente, permitindo que os corpos passassem por elas com apenas uma distorção sutil que ondulava no espaço, de forma semelhante a uma pedra atirada em um lago calmo.
A luz, multiplicada pelos reflexos, dançava em padrões caóticos, projetando movimentos fragmentados, tornando impossível prever de onde viria o próximo golpe.
Sergio riu, girando sua espada enquanto suas sombras demoníacas reapareciam, adaptando-se ao novo ambiente.
— Muito criativo, Harley. Mas acha que esse lugar me desestabiliza? Eu já previ esse cenário!
— Talvez — respondeu, seus olhos fixos em seu inimigo, uma expressão indecifrável estampada em seu rosto. Por dentro, ria da confiança equivocada de seu inimigo. Sergio estava convencido de que tinha controle sobre os portais, mas Harley sabia que era apenas um passageiro de sua própria magia.
— Ninguém pode prever tudo! — disparou o jovem Ginsu, sua voz carregada de desafio, um contraste direto à confiança exibida por seu inimigo momentos antes enquanto atacava.
Harley avançou com precisão, suas adagas descrevendo arcos curtos que pareciam se multiplicar nos reflexos dos espelhos incorpóreos ao redor. Cada golpe desferido em um dos espectros errantes criava a ilusão de lâminas surgindo de todas as direções.
De repente, uma das sombras de Sergio avançou, seus movimentos bruscos e rápidos preenchendo o espaço e se multiplicando pelos reflexos nos espelhos com a sua aproximação.
Harley girou o corpo, desviando-se de uma das cópias disformes no último momento ao usar a parede de espelhos à sua direita de forma análoga a uma falsa posição.
Ao ver seu reflexo no espelho, a sombra mudou sua trajetória, golpeando o vazio enquanto ele já surgia pelo lado oposto, desferindo uma estocada precisa em seu centro etéreo.
O impacto fez a aberração etérea recuar, tremendo antes de se recompor com um silvo odioso.
Sergio não perdeu tempo. Apareceu de maneira etérea entre os reflexos, aproveitando a distração feita por uma de suas aberrações etéreas, girando a lâmina em sua mão livre, tentando atingir o flanco de Harley, mas esse recuou, deslizando sobre o chão liso e desaparecendo do outro lado de um dos espelhos.
O jovem Romanov atacou o reflexo sem hesitar, apenas para perceber tarde demais que seu adversário estava atrás dele. A adaga prateada do jovem Ginsu desceu em um corte perigoso, mas Sergio ergueu a espada a tempo, bloqueando o ataque com um som estridente.
O choque metálico reverberou e antes que pudesse reagir, a paralisia se espalhou por seus músculos, congelando-o no lugar.
Com um gesto apressado, Sergio convocou suas três cópias, posicionando-as para criar obstáculos que lhe dessem tempo para se recuperar da paralisia. As cópias, obedientes e implacáveis, avançaram sem oferecer qualquer trégua.
Duas avançaram simultaneamente, tentando flanquear Harley enquanto a terceira cortava sua rota de fuga. Ele se abaixou rapidamente, escapando por baixo de um ataque cruzado, e, com um impulso poderoso, usou um dos espelhos flutuantes como apoio.
Saltou, girando no ar, suas adagas descrevendo um arco duplo que cortou duas sombras demoníacas de uma vez. As criaturas tremeram, emitindo um som distorcido antes de se desintegrar por um breve instante, apenas para se recompor logo em seguida.
Desviou por um triz de mais um ataque, um braço disforme que avançava com um soco devastador. Outra aberração etérea recuou com um passo firme, apenas para avançar rapidamente logo em seguida, impulsionando o corpo à frente com um movimento semelhante a um mergulho no ar, e desferindo outro soco.
Harley, atento ao reflexo em um espelho próximo, conseguiu prever o ataque de uma aberração etérea à sua direita e desviou mais uma vez.
Em uma tentativa desesperada de contra-atacar, sua adaga negra cortou o vazio onde deveria estar outra das sombras demoníacas, mas as investidas de seus inimigos eram rápidas demais compensando a falta de técnica.
Harley pousou com um deslizar controlado, mas Sergio já estava em cima dele, desferindo um ataque vertical com sua espada. O jovem Ginsu cruzou as adagas para aparar o golpe, a força do impacto empurrando-o para trás e quase o jogando contra um espelho.
Ele usou o momento para girar o corpo, escapando de uma cópia disforme que avançava com um golpe direto. Com um movimento fluido, jogou uma de suas adagas contra a sombra demoníaca, perfurando seu núcleo, e atravessou um espelho ao lado, reaparecendo ao flanco do jovem Romanov que já tinha se recuperado da paralisia.
Percebendo o movimento, Sergio girou rapidamente, valendo-se das múltiplas imagens projetadas pelos espelhos. O recurso não serviu apenas para desviar, mas também para mascarar a origem de seu ataque.
Contudo, o golpe atingiu um espelho incorpóreo, enquanto o oponente, em um movimento calculado, atacava pela lateral, sua adaga passando rente ao braço do adversário. Os espectros incorpóreos reagiram de imediato, formando uma barreira entre o lutador, agora paralisado novamente, e Harley, que avançava com determinação.
Os ataques vinham de todas as direções. As sombras demoníacas, em perfeita sincronia com os movimentos de Sergio, alternavam golpes precisos e tentativas de cerco, transformando o campo em um verdadeiro labirinto de hostilidade.
Harley, cercado por reflexos e inimigos reais, esquivava-se no último instante, seus próprios ataques quase sempre encontrando o vazio ou a resistência implacável das aberrações etéreas, uma vez que ainda não tinha conseguido destruir o artefato mágico que controlava as criaturas.
— Vamos testar os limites da sua resistência, Harley — disse Sergio, sua risada ecoando com a confiança de sua superioridade inabalável.
Ele tinha plena convicção de que a vantagem numérica e o desgaste contínuo pavimentariam o caminho para a vitória, e cada segundo que passava era mais um passo firme nessa direção.
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