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    A dimensão dos espelhos pulsava ao redor de Harley e Sergio, um emaranhado de reflexos distorcidos onde cada movimento ecoava infinitamente em todas as direções. 

    A luz se torcia e se desintegrava em uma ponte irregular, seus padrões mutantes conspirando para confundir qualquer um que se atrevesse a navegar por aquele reino etéreo. 

    Para Harley, imerso em um ataque incessante de seus inimigos, o silêncio surgiu de maneira inesperada, interrompendo o caos da batalha com uma força que o paralisou por um momento.

    Sergio havia se afastado sem mais olhar para seu adversário, uma escolha estranha em meio à batalha. Suas três sombras demoníacas, no entanto, recuavam de costas, com os olhos fixos em Harley, como guardiãs silenciosas prontas para reagir a qualquer movimento. 

    O jovem Ginsu, por sua vez, manteve-se imóvel, suas adagas ainda firmes nas mãos. Observava a mudança abrupta na atitude do inimigo, os músculos tensos, a respiração irregular. 

    “O que quer agora?” — pensou, seu olhar oscilando entre Sergio e as aberrações etéreas que flanqueavam cada movimento do homem — “Está armando outra armadilha?”

    Harley permaneceu atento, cada fibra de seu corpo pronta para reagir. Mas o jovem Romanov parecia distraído se afastando cada vez mais, o que era tão inesperado quanto estranho.

    Sergio encarava o ambiente ao redor, permitindo-se, pela primeira vez, absorver plenamente a imensidão do lugar. Um interminável universo de reflexos se estendia por todo o espaço ao seu redor. 

    Cada superfície de vidro, prateada e etérea, se apresentava de forma intrigante, oferecendo visões que pareciam se multiplicar a cada passo que dava.

    O membro do clã Dragões de Sangue se viu refletido infinitamente, cada versão de si mesmo representando uma escolha diferente, uma consequência distinta. Diante dele, surgiam caminhos ainda por trilhar, decisões não tomadas, mas que se projetavam em cenários vivos à sua frente. 

    Eram possibilidades futuras se desdobrando, criando mundos inteiros de potenciais que ainda estavam fora de seu alcance. 

    Ele percebeu que não estava mais observando meros reflexos, mas testemunhando as linhas do destino se entrelaçarem, onde cada passo dado era um fio que poderia tecer uma nova realidade.

    Um leve sorriso curvou seus lábios. Sergio sentia-se no controle absoluto, tanto do presente quanto do desenrolar futuro daquela batalha. E, assim, permitiu-se um raro luxo: pensar.

    — Será essa a Dimensão dos Espelhos que Abaddon estava procurando?” — murmurou para si mesmo, sua voz baixa mas audível o suficiente para alcançar Harley, que estreitou os olhos. 

    O tom introspectivo do inimigo e a citação de um novo nome o intrigou o jovem Ginsu, mas também o manteve em alerta.

    Sergio, no entanto, não se importava. Estava imerso na possibilidade sedutora de que, sem intenção, encontrara algo que Abaddon perseguira com tanto fervor semelhante a uma alternativa para escapar de sua prisão. Repetiu sua pergunta, desta vez em voz alta, fazendo com que sua própria voz fosse uma sentença.

    — Sim… é exatamente isso.

    Harley franziu a testa, seus olhos buscando algum significado na declaração desconexa. Por um instante, considerou aproveitar a distração para atacar, mas conteve-se. Algo na postura de Sergio parecia diferente, uma confiança ainda mais arrogante do que antes.

    Então ele se voltou para o jovem Ginsu, o sorriso agora mais amplo, quase transbordando de uma satisfação inquietante:

    — Que grande coincidência! — sua voz exalava satisfação — Realmente o destino recompensa os escolhidos!

    Harley manteve o olhar fixo, mas sua confusão crescia:

    “O que ele quer dizer com isso?” 

    A provocação, no entanto, continuou:

    — Sua covardia em fugir sempre… ah, Harley, acabou por me beneficiar imensamente! — a frase soou perfurando não a carne, mas o orgulho. O calor da raiva, que já crescia, intensificou-se, ardendo com ainda mais força.

    — Você sabe onde estamos? — continuou Sergio, sua voz assumindo um tom quase zombeteiro — Mas que distração minha. Claro que não sabe. Pois, sendo um irmão tapado, você poderia saber de alguma coisa?

    A risada cortou o silêncio, ecoando nos espelhos ao redor. Harley rangeu os dentes, mas manteve-se quieto, observando. O jovem Romanov não estava apenas falando. Estava montando um espetáculo.

    — Claro que, além de ser o lugar de seu túmulo, essa é a Dimensão dos Espelhos. — Sergio gesticulou ao redor, como se apresentasse um prêmio — Com acesso perceptível e até físico a outras dimensões… ao futuro, ao passado, e, por que não, às possibilidades de realidades.

    — Por que estou te dizendo isso? Mas… se não posso compartilhar com meu irmão, com quem mais eu iria? — Sergio tocou sua adaga negra, sentindo sua presença — Não percebe a vibração crescente em nossas lâminas? A conexão delas com este lugar é o que nos liga a ele. Este é o único lugar onde elas pertencem, e onde, finalmente, se fundirão novamente em uma só lâmina!

    As revelações não ditas flutuavam com um impacto envenenado, prontas para ferir. Harley baixou os olhos para sua adaga, enquanto refletia:

    “Será verdade?” — questionou-se, sentindo que as palavras dele faziam sentido enquanto começava a compreender melhor as múltiplas cenas refletidas naquele lugar.

    Os reflexos dançavam ao seu redor, mas agora ele via que cada imagem não era apenas uma distorção de luz ou ângulo. Eram portais diretos para realidades diferentes, sejam elas presentes ou versões alternativas do que poderia ter sido, ou do que já havia acontecido. 

    A confusão inicial das imagens se dissipava, dando lugar a uma compreensão inquietante:

    — Abaddon, meu aliado, quer isso! Ele sempre buscou a Dimensão dos Espelhos como ponto de passagem — perguntou-se Sergio, seu olhar penetrante antes de continuar: 

    — Mas por que entregar isso a ele?” — murmurou, a pergunta mal sussurrada, mas carregada de implicações — Por que não usar eu mesmo?

    O jovem Ramanov olhou para Harley, e o sorriso voltou, mais provocador do que nunca. 

    — É curioso o jeito que o destino gosta de brincar, não acha? — disse, sua voz tranquila contrastando com o peso das palavras — Mais uma vez, antes que qualquer laço entre nós tenha a chance de florescer, vou te arrancar da minha história, exatamente da maneira que fiz com nossos pais.

    O jovem Ginsu apertou as adagas com força, a raiva fervendo em suas veias, ameaçando romper o frágil controle que ele ainda mantinha. À sua frente, Sergio e suas sombras demoníacas avançavam, suas imagens refletidas infinitamente ao redor enquanto um grito ressoava, carregando o impacto de sua presença opressora.

    — Um irmão mais velho deve ensinar, não é? Então aprenda bem, Harley. Esta será sua última lição — provocou, sua voz pingando desdém.

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