Capítulo 199 - A fúria que rachou dimensões
Sergio Romanov avançou. Seu peso deslocou o ar ao redor, e sua espada zuniu ao encontrar as adagas de Harley. O impacto gerou uma onda de faíscas, faiscando contra os espelhos e criando um jogo de reflexos alucinantes.
As três sombras demoníacas que o seguiam se precipitaram também ao ataque.
O jovem Ginsu girou no ar, seu golpe duplo indo direto ao peito de Sergio e ao núcleo de uma sombra.
O choque reverberou pelo campo. O filho do líder do Clã dos Dragões de Sangue bloqueou a tempo, mas a sombra se dissolveu, pois era o segundo impacto que a mesma sofria e sua essência evaporando como névoa prateada.
Harley pousou em um deslizar ágil com um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. Ele não tinha controle sobre os portais, mas naquele momento, ele controlava a luta.
— Não foi rápido o suficiente, irmão — zombou Sergio.
Sentiu o calor subir, como se sua pele queimasse por dentro. ‘Irmão.’ A palavra soou distorcida, um veneno pingando dos lábios do assassino de sua mãe.
Ele não percebeu que cerrava os punhos, que seu coração batia como um tambor de guerra. Então, a raiva o dominou.
“ Como aquela criatura desprezível, que matou sua mãe e destruiu sua família, ousava chamá-lo assim?” — ruminava repetidamente a mente do jovem.
E novamente o ar vibrou. Um novo portal se abriu.
Um rasgo negro se abriu diante deles, crescendo como um abismo sem fundo. A Dimensão dos Espelhos estremeceu, suas superfícies refletindo o caos.
Sergio, já sendo sugado pela fenda, encarou o portal com um olhar de perda. Aquele lugar lhe prometia poder, mobilidade entre mundos, infinitas possibilidades… e agora ele o perdia para o desconhecido.
— Você realmente não tem controle sobre isso, não é? — zombou ele, rindo enquanto era arrastado para longe.
O vórtice rugiu. Harley cravou sua adaga no chão reflexivo, tentando resistir, mas a força era esmagadora. O metal deslizou, e ele foi puxado pelo vórtice. O filho do líder do Clã dos Dragões de Sangue veio logo atrás, mas não sem lutar.
— Não! Maldição! — rugiu, os olhos fixos no mundo dos Espelhos, que se distanciava como um sonho desfeito. Aquele lugar era dele. Ele deveria dominá-lo, moldá-lo à sua vontade!
Com um último gesto desesperado, ele arrancou um amuleto negro do cinto e o atirou contra o chão brilhante. O artefato afundou na superfície espelhada como se o próprio mundo o absorvesse, e então, o portal se fechou com um estrondo.
Eles estavam em outra dimensão. O jovem Ginsu despencou do vórtice e atingiu o chão com um impacto brutal. O que deveria ser o solo cedeu sob seu peso. Um estrondo seco ecoou quando os ossos se partiram sob seu corpo.
Ele ergueu a cabeça. A paisagem diante dele era um cemitério sem fim, mas não como os que conhecia. Os ossos não estavam apenas espalhados: eles se empilhavam em colinas, formando montanhas instáveis que rangiam sob o menor movimento.
Havia crânios, alguns humanos, outros enormes e alongados, com múltiplas cavidades oculares que pareciam olhar de volta. Costelas com mais de cinco metros de altura curvavam-se como arcos arruinados de uma civilização extinta.
Úmeros grossos como troncos de árvores se misturavam a mandíbulas repletas de dentes serrilhados, alguns ainda grudados em fragmentos de pele seca.
O vento soprou, mas não era apenas ar. Ele trazia sussurros, palavras incompreensíveis que pareciam vir dos próprios ossos.
Sergio caiu logo depois, mas com a precisão de um predador. Seus olhos brilharam com a luz espectral da adaga negra enquanto examinava o cenário.
Harley cuspiu poeira óssea, seus olhos ardendo com um ódio feroz.
O filho do líder do Clã dos Dragões de Sangue pisou em um crânio, esmagando-o lentamente sob o peso da bota.
— Este lugar é perfeito. Assim que você morrer, trarei os ossos do nosso pai para completar a decoração. Família reunida, não é?
O jovem Ginsu rosnou. A raiva vazava dele como um veneno invisível. O ar tremeu.
As colinas de ossos estremeceram, como se sentissem a instabilidade. O céu rachou.
Harley sentiu o novo rasgo antes que ele surgisse. Outro vórtice negro se abriu atrás dele, faminto.
Ele tentou resistir, mas foi inútil. O portal os engoliu, puxando Sergio e suas sombras consigo novamente.
Ambos desapareceram em um lampejo ofuscante, que deixou apenas o silêncio no campo de ossos.
Quando reapareceram, o impacto os jogou ao chão. A familiaridade do ambiente os atingiu como uma onda inesperada. Harley ergueu os olhos e reconheceu as paredes rochosas e o brilho espectral da caverna — o “Local Proibido”.
O tempo não havia avançado sequer um segundo. Eles estavam exatamente onde haviam partido, como se sua batalha em outras dimensões jamais tivesse existido.
Harley sentiu o peso da repetição, seus olhos encontrando o mesmo olhar assustado de Milênio, congelado no exato momento em que o primeiro portal se abriu. Cada soldado, cada guerreiro, seus inimigos ainda permaneciam imóvel.
Era como se a realidade tivesse engolido sua luta e cuspido de volta ao ponto de origem.
Sergio quebrou o silêncio com um sorriso torto, ajustando seu bracelete com calma calculada.
— Parece que o jogo quer que terminemos onde começamos.
Seus olhos varreram o cenário, absorvendo cada detalhe. Harley sabia. Seu inimigo sentia o mesmo que ele.
Com um movimento rápido, o bracelete de Sergio lançou uma linha de luz vermelho-alaranjada, que se formou em um raio concentrado. A rajada era tão intensa que iluminava toda a caverna, atravessando o espaço como uma lâmina de pura destruição.
Harley saltou por puro instinto, e o raio de energia passou bem próximo, obliterando o que estava atrás dele.
O feixe destruiu fileiras inteiras de soldados, evaporando carne e aço em uma fração de segundo antes de continuar sua fúria destrutiva.
Nada o detinha. A caverna tremeu quando o raio colidiu com suas paredes, e o mundo explodiu ao seu redor.
Fragmentos de rocha voaram como lâminas afiadas, o ar se enchendo com o brilho febril de faíscas incandescentes.
Sergio estendeu o braço, e uma nova rajada de energia foi liberada, rasgando o ar com um rugido ensurdecedor.
Harley mal teve tempo de reagir. Seus instintos assumiram mais uma vez o controle, e ele cruzou as adagas diante do corpo, formando um ‘X’ reluzente. O impacto foi brutal.
Diferente de tudo o que aquela energia havia consumido antes, as adagas resistiram. A sensação de aniquilação foi substituída pelo choque da sobrevivência.
Mesmo assim, ele foi lançado contra a parede da caverna, o impacto reverberando em seu corpo como se tivesse sido atingido por um titã invisível.
Ele gemeu, os dedos dormentes, a visão oscilando por um segundo.
O teto rugiu como um monstro acordando, e então desmoronou. Fragmentos colossais despencaram matando tanto aliados como inimigos.
Harley não pensou. Não podia pensar. Ele se lançou para frente, seu corpo respondendo antes da mente. Rochas esmagaram o chão onde estivera milésimos de segundo antes.
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