Capítulo 202 – O fim dos Mundos
Aurora ficou paralisada em meio ao caos, os gritos e a destruição ao redor pareciam distantes. Seus olhos tentavam também buscar desesperadamente por Milenium e por seu pai, mas tudo o que via era o vazio.
Seus olhos, incendiados de fúria, voltaram a se prender em Sergio, que também lutava para se manter de pé, o peito subindo e descendo após ser atingido por uma das explosões de energia.
Cada segundo perdido era um passo rumo ao colapso. Harley sabia que não podia mais pensar em Aurora, Milenium ou no Cônsul. Essas preocupações pertenciam a um tempo que não existia mais.
O calor das explosões queimava sua pele, e a fumaça envenenava o ar. Mas nada disso importava. O jovem Ginsu não podia ceder ao cansaço, ao medo ou à dor. Agora, apenas uma coisa importava: vencer seu inimigo e parar aquelas explosões que se continuassem causarão o fim de tudo.
Cada explosão era um relógio de areia se esvaziando. Harley não podia hesitar. O futuro não importava se não houvesse ninguém para vivê-lo. Tudo se resumia a este instante, a este duelo. Sérgio tinha que cair.
Os estrondos dimensionais devoravam o horizonte, mas ele não desviou o olhar. Com um último suspiro, cravou os pés no chão e avançou, as adagas prontas para cortar a linha entre a esperança e a ruína.
O filho do líder do Clã dos Dragões de Sangue ergueu o braço e ativou sua arma. Uma nova rajada de energia explodiu em linha reta, rápida demais.
Harley saltou para o lado, a explosão colidindo com a parede e abrindo mais um rasgo na realidade.
O caos tomou conta. O espaço se contorceu, mais portais dimensionais surgiram sugando partes da caverna, a distorção da realidade se espalhando como uma praga.
O jovem Ginsu aproveitou o momento, lançando-se contra um portal instável. Sergio tentou atingi-lo, mas sua espada atravessou a fenda dimensional.
Do outro lado, tentáculos monstruosos agarraram sua espada, puxando-a para dentro.
Seu inimigo rosnou, explodindo a criatura com uma rajada de energia, mas o esforço o deixou exposto.
Harley viu sua chance. Com um impulso feroz, mirou um golpe fatal com a adaga preta.
E então veio o erro. Sergio pressionou outro botão. Uma onda de energia emergiu de seu corpo, e o jovem Ginsu foi lançado para trás como um tiro, atingindo a parede com força esmagadora.
O impacto lhe arrancou o ar dos pulmões, sua visão escurecendo por um instante.
Do alto, o Mestre Arcano finalmente rompeu o silêncio.
— Eles não entendem o que estão fazendo — murmurou ele, observando os portais ficarem cada vez mais instáveis.
A mulher ao seu lado concordou.
— Mas talvez isso seja necessário. O colapso do “Local Proibido” pode ser a única maneira de encerrar este ciclo.
Ela levantou sua adaga novamente, e um brilho intenso envolveu o espaço. Harley e Sergio sentiram a energia ao redor mudar, os portais crescendo e se expandindo como um último suspiro da caverna.
Os portais se multiplicaram sem controle, rasgando a realidade como feridas abertas no próprio espaço-tempo.
Cada um era uma porta para o desconhecido, sugando soldados, escombros e até o próprio chão, separando aliados e inimigos sem distinção.
Os que haviam sobrevivido à batalha não sobreviveriam à separação: sugados para dimensões desconhecidas, lançados para mundos que jamais deveriam conhecer.
Fissuras espalhavam-se por toda a caverna. Harley e Sergio foram separados pela força de outra explosão, cada um sendo lançado para lados opostos.
O jovem Ginsu sentiu o chão desaparecer sob seus pés enquanto um dos portais o sugava. Ele tentou segurar-se, mas a força era irresistível.
Novos redemoinhos de energia explodiam em ondas caóticas, misturando fragmentos de dimensões distintas em um turbilhão grotesco. Portais emergiam e proliferavam, colidindo entre si e gerando ondas de choque devastadoras que rasgavam o espaço ao redor.
Então, veio o colapso final.
O Local Proibido não resistiu. A caverna implodiu sobre si mesma, as pedras evaporando antes de sequer atingirem o chão. A convergência dimensional devorou tudo, convertendo o que antes era matéria em pulsos de energia pura, dissolvendo os últimos vestígios de existência.
Acima deles, o Mestre Arcano e a mulher testemunharam o colapso completo da caverna, suas formas envoltas em brilhos etéreos. A mulher ergueu sua adaga, desenhando linhas de luz no ar. Fragmentos de futuros surgiram diante dela, confusos e sobrepostos.
— É o fim — disse o Mestre Arcano.
A mulher balançou a cabeça.
— Não. É apenas o começo! — disse ela, sua voz carregada de uma reverência sombria — Olhe o que foi criado.
O Mestre Arcano seguiu seu gesto. Os portais no “Local Proibido” pararam de explodir e se acomodaram, conectando-se uns aos outros em uma teia complexa. Eles não estavam mais estáveis, mas também não colapsavam.
Cada um parecia uma janela para um mundo diferente, e entre eles, passagens começavam a se formar, como corredores de luz que poderiam ser cruzados. Todo o mundo mágico estava aberto para outros mundos.
— É como se o próprio tecido da realidade tivesse sido moldado em algo novo — murmurou o Mestre Arcano.
Ele voltou seus olhos para Harley, que agora estava olhando fixamente para um dos portais.
— Ele não entende o que aconteceu — disse o Mestre Arcano — Mas logo perceberá.
— E quando perceber? — perguntou a mulher.
O Mestre Arcano não respondeu. Em vez disso, voltou sua atenção para os portais. Ele sabia que o ‘Local Proibido’ já não era apenas uma área restrita, mas havia se expandido por todo o Mundo Mágico.
Agora era um nexus, com passagens desobstruídas entre dimensões, um ponto de convergência entre mundos. E Harley estava exatamente no centro dele.
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