Capítulo 12 - Luta na penumbra
“O verdadeiro caminho se revela nas sombras. O espinho que fere também ensina, e o sangue derramado se torna o caminho da sabedoria.”
— Sussurros das Sombras, X.
Mas havia algo mais perturbador. Sérgio Romanov estava sempre à espreita, como um predador silencioso. Mesmo sem vê-lo, Harley sentia sua presença, um peso constante na nuca. Cada sombra que passava entre as árvores parecia carregar uma ameaça iminente. A voz fria de Sérgio ecoou na escuridão da floresta:
— Sabe o que é interessante aqui? Você pode cair, desaparecer, e ninguém jamais saberá o que aconteceu.
O som se espalhou pela floresta como o sibilo de uma serpente. Sérgio suspirou, o desinteresse em seu tom tornando a situação ainda mais perigosa.
— Não entendo por que meu pai não me permitiu acabar logo com isso. Já deveria estar resolvido.
Harley permaneceu em silêncio, os olhos fixos à frente, cada músculo tenso, mas com os sentidos aguçados. Sabia que aquele jogo de palavras era apenas uma cortina de fumaça. Sérgio não estava ali para competir; ele queria eliminar qualquer obstáculo, e Harley era o maior de todos.
O silêncio entre eles era pesado, como se o ar ao redor tivesse se tornado sufocante. A tensão na floresta era palpável, e Harley sabia que um único movimento errado poderia ser sua queda.
Sérgio era uma presença constante, uma ameaça sempre à espreita, aguardando o momento perfeito para atacar. Para ele, Harley não era um competidor, mas um alvo a ser eliminado.
Harley não tinha ilusões. Compreendia bem a natureza do jogo. Sabia que o mesmo terreno traiçoeiro que Sérgio tentaria usar contra ele poderia ser sua salvação. Um movimento calculado, uma decisão rápida, e a floresta se tornaria sua aliada.
O silêncio era mais ameaçador que qualquer palavra. Mantendo-se firme, Harley avançava com cautela, sem desviar o olhar do caminho. Sabia que, a qualquer momento, a tensão poderia se transformar em ação.
E não demorou.
Sérgio avançou sem aviso, a lâmina brilhando na penumbra. Os espinhos da floresta roçavam sua pele, mas ele ignorava a dor, focado apenas em seu alvo. O movimento foi rápido e preciso, a lâmina cortando o ar com um silvo agudo. Harley reagiu instintivamente, girando o corpo para evitar o golpe mortal.
O som da lâmina passou perigosamente perto de seu rosto. Ele sentiu o vento frio do corte, mas desviou a tempo. Rolou para longe, o chão áspero cortando sua pele, mas ele se levantou imediatamente, com os músculos prontos para o próximo ataque.
Sabia que não poderia se demorar naquela luta. Seus reflexos, forjados por anos de treinamento, o salvaram de um golpe fatal, mas ele sabia que Sérgio não desistiria facilmente.
Sérgio atacou novamente, com uma sequência de golpes rápidos e precisos. A lâmina serpenteava em direção ao peito e pescoço de Harley. Cada golpe representava um risco. Harley desviava para o lado, sentindo o frio da lâmina roçar sua roupa, quase o atingindo.
Recuou alguns passos, o olhar fixo no braço de Sérgio, que manejava a arma com uma confiança perigosa. Sabia que precisava desarmá-lo antes que a situação saísse de controle.
Outro ataque veio, um arco largo da lâmina visando sua cabeça. Harley abaixou-se rapidamente, sentindo a lâmina passar sobre ele, quase tocando seu couro cabeludo.
A luta se intensificava. Harley esperou o momento certo, calculando cada movimento. Em vez de se afastar, começou a fechar a distância entre eles, tentando neutralizar o alcance da lâmina.
Sérgio desferiu outro golpe, mirando o abdômen, mas Harley girou para o lado e aproveitou a abertura. Aproximando-se rapidamente, entrou na guarda de Sérgio, com os braços prontos para agir.
Num movimento ágil, Harley agarrou o pulso de Sérgio. Sentiu a tensão dos músculos do adversário enquanto ele tentava se soltar, mas usou o impulso a seu favor. Torcendo o braço de Sérgio, forçou a lâmina para baixo.
Com um giro preciso, Harley empurrou o cotovelo de Sérgio para cima, pressionando a articulação até forçá-lo a soltar a arma. A lâmina caiu no chão com um som abafado pela vegetação ao redor.
Sem perder tempo, Harley empurrou Sérgio para trás, criando uma distância segura, mas a luta não estava acabada. Sérgio, agora desarmado, avançou com fúria, seus punhos fechados, determinado a retomar o controle. Harley sabia que o combate corpo a corpo estava apenas começando.
O primeiro soco veio rápido, mirando o rosto de Harley. Ele se esquivou por pouco, sentindo o vento da pancada passar raspando. Sérgio tentou um chute, mirando a lateral de sua perna, mas Harley levantou o joelho, bloqueando o golpe com precisão.
Eles trocaram golpes ferozes, os punhos de Sérgio movendo-se com violência, enquanto Harley se concentrava em bloquear e contra-atacar.
Um soco direto atingiu o peito de Harley, e desta vez ele não conseguiu desviar totalmente. O impacto fez com que ele perdesse o fôlego por um instante, mas logo se recuperou.
Sérgio tentou aproveitar a abertura, mas Harley girou o corpo, lançando um chute baixo que atingiu a perna de Sérgio com força. O adversário cambaleou, perdendo o equilíbrio por um momento.
Aproveitando a vantagem momentânea, Harley avançou, desferindo uma série de golpes rápidos. Um soco acertou a lateral das costelas de Sérgio, o impacto reverberando pelo corpo do adversário.
Outro golpe veio logo em seguida, mas Sérgio conseguiu bloquear, erguendo o antebraço. Os dois continuaram trocando golpes, o som de seus movimentos ecoando pela floresta silenciosa.
A tensão crescia a cada golpe trocado, nenhum dos dois disposto a recuar. Harley sabia que não podia permitir que Sérgio recuperasse a lâmina. Cada movimento era preciso, cada golpe desferido com toda a força e agilidade que ele podia reunir.
Por um breve instante, seus olhares se cruzaram, faíscas de tensão explodindo entre eles. Ambos sabiam que aquele confronto ainda não havia terminado.
A floresta densa e opressiva parecia se fechar ao redor, pressionando-os a resolver suas diferenças ali, no silêncio mortal. Harley ficou de pé em um salto, todo o corpo em alerta, pronto para a próxima investida.
— Seus ataques são previsíveis, Sérgio. Se continuar assim, quem vai cair primeiro não sou eu.
Sérgio apenas sorriu, aquele sorriso frio e calculado que nunca chegava aos olhos. Ele deu um passo para trás, desaparecendo entre as sombras da floresta como uma serpente recuando antes de dar o bote final.
A tensão, porém, não diminuiu com sua ausência — pelo contrário, aumentou. Harley sabia que a Floresta de Espinhos não era seu único inimigo. Os competidores estavam dispostos a matar uns aos outros por uma chance de sobreviver.
O tempo corria contra ele. O eclipse havia marcado o início de uma contagem regressiva implacável. Se não conseguisse atravessar a floresta e alcançar a Névoa antes da abertura se fechar, todas as suas esperanças de liberdade desmoronariam.
Enquanto Sérgio desaparecia entre as árvores, Harley começou a correr novamente, os olhos varrendo o terreno em busca de armadilhas. Ele sabia que Sérgio o seguia como um predador paciente, aguardando o próximo deslize.
O som das folhas farfalhando sob seus pés rápidos era a única coisa que cortava o silêncio sinistro da floresta. Ele precisava manter o foco.
Foi então que sentiu o chão tremer levemente sob seus pés, um aviso tardio. Saltou para o lado no último segundo, evitando uma armadilha oculta que se ativou com um estalo ensurdecedor.
Espinhos afiados irromperam do chão, prontos para prender qualquer um que corresse cegamente. O suor escorria por seu rosto, mas ele não tinha tempo para parar.
O som de algo cortando o ar o alertou de que Sérgio estava atacando novamente. Uma pedra foi lançada, passando perto de Harley, mas errando o alvo por centímetros. A adrenalina tomou conta de seu corpo. Ele não estava apenas competindo pela sobrevivência; estava em uma verdadeira caçada.
A ideia de Sérgio usando a floresta contra ele não o assustava, mas sabia que o tempo estava contra si. Se não se livrasse de Sérgio, ou pelo menos conseguisse ganhar distância, a próxima emboscada poderia ser fatal. Cada erro podia ser o último.
Foi nesse momento, no meio do caos e da tensão, que uma clareza o atingiu como uma lâmina: mesmo que não conseguisse atravessar a Névoa, ele precisaria fugir.
O Clã Dragões de Sangue não era mais um lugar seguro, e Harley sabia que o fim para ele ali seria a servidão ou a morte. Seu valor como espólio de guerra estava diminuindo, e logo seria descartado ou usado em algum jogo de poder.
A ideia de liberdade era assustadora, com toda a incerteza que a acompanhava, mas também era sua única chance de sobrevivência. Fugir era a única saída. Ele precisava encontrar refúgio em outro lugar — talvez em outro clã, ou até em terras desconhecidas. Permanecer à mercê dos Dragões de Sangue não era mais uma opção viável.
Com essa nova determinação, Harley acelerou o passo. Cada movimento era calculado, desviando dos espinhos que surgiam ao redor. A Floresta de Espinhos era apenas o começo.
Cada desvio, cada obstáculo superado, o levava mais perto de sua meta. Mas a verdadeira batalha ainda estava por vir. A Névoa o aguardava, faminta, e tudo o que ele havia suportado até agora não seria nada comparado ao que o esperava além.
Com sorte, ele encontraria um caminho… e um novo destino.
ANEXO:
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