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    “A verdadeira vitória não é conquistada pela força bruta, mas pela superação de obstáculos. A força de vontade é o guia no caminho da vitória.”
    O Código do Guerreiro Solitário, Verso 27.


    Harley avançava como um raio, rasgando as trilhas sinuosas da Floresta de Espinhos com uma determinação quase animal. Cada passo era uma batalha física e mental, e a vegetação ao redor parecia ganhar vida, tentando frustrar seu progresso. 

    As pontas afiadas não eram apenas obstáculos, eram predadores, dançando no ritmo de sua respiração. O sol, que reaparecia lentamente após o eclipse, filtrava-se pelas copas densas das árvores, projetando sombras que pareciam vivas. 

    Os raios de luz transformavam os espinhos em lâminas douradas, cintilando como uma armadilha mortal à espera do menor deslize.

    De repente, o som dos estampidos no céu arrancou Harley de sua concentração absoluta. Ele sabia o que aquilo significava. Fogos de artifício marcavam a chegada de competidores à linha final. Quatro explosões iluminaram o céu, e um frio percorreu sua espinha. Quatro vagas haviam sido preenchidas. O tempo estava acabando.

    Um quinto estampido ecoou, um clarão brilhou entre as árvores. Mais um competidor havia cruzado a linha, garantindo seu lugar entre os Kamikazes. Harley sentiu o peso do fracasso pairar sobre ele, mas ele o espantou com um movimento rápido de cabeça. 

    Ele precisava de um plano. Cada movimento agora exigia estratégia, não apenas força bruta. A corrida não era apenas contra o tempo, mas contra mentes tão afiadas quanto as lâminas ao redor.

    Ao virar uma curva fechada na trilha, avistou um grupo de cinco competidores à sua frente, movendo-se em formação militar, uma parede impenetrável de força e brutalidade. Eles não estavam competindo, estavam caçando. 

    Com uma coordenação perfeita, jogavam outros competidores contra os espinhos ou os golpeavam sem piedade com armas improvisadas. O caos que criavam era quase artístico em sua crueldade.

    Harley se manteve à distância, observando o grupo agir. Cada desafiante que ousava se aproximar era massacrado sem hesitação, seus corpos jogados para fora da trilha, como presas derrotadas. 

    O som de carne sendo dilacerada pelos espinhos ecoava na floresta, uma sinfonia macabra. Ele sabia que tentar enfrentá-los seria suicídio. Precisava ser mais esperto, encontrar uma maneira de ultrapassá-los sem se expor à brutalidade do grupo.

    De repente, o que parecia uma briga comum escalou. Um dos competidores do grupo empurrou um adversário em direção a um penhasco, sem piedade. Harley observou, seu corpo congelado em um segundo de horror, enquanto o corredor despencava, seu corpo se chocando brutalmente contra as rochas abaixo. 

    O sangue tingiu a paisagem, um lembrete cruel do destino dos fracos. Não havia espaço para hesitação.

    As palavras dos organizadores da corrida ressoaram em sua mente: “A única regra é vencer.” Nenhuma outra restrição importava. Armas perfurantes estavam proibidas, mas bastões, pedras e qualquer coisa que os competidores encontrassem no caminho eram justos. Era uma guerra disfarçada de competição.

    Mais dois estampidos ecoaram ao longe, sinalizando que o número de vagas estava diminuindo. A tensão no ar aumentou. Cada competidor sabia que as chances estavam se esvaindo como areia entre os dedos. 

    O grupo continuava sua marcha implacável, e Harley seguia à distância, calculando suas opções com cautela. Restavam cinco vagas. Ficar atrás daquele grupo significava perder tudo. Ele precisava agir, e rápido.

    Foi então que notou algo — a trilha à frente se alargava, os espinhos rareavam, uma oportunidade inesperada no meio da floresta sufocante. Essa era sua chance. Sem perder tempo, abriu um dos compartimentos de sua mochila e retirou várias penas macias que costumava usar como travesseiro durante os poucos momentos de descanso. 

    Com um movimento rápido, lançou as penas ao ar, criando uma nuvem branca que envolveu a trilha.

    O grupo foi pego de surpresa, tateando cegamente enquanto tentavam limpar as penas de seus rostos e roupas. Harley não hesitou. Aproveitando a confusão, acelerou, passando por eles com uma agilidade quase sobrenatural. Mas nem todos foram lentos.

    Um dos competidores, rápido como um predador, balançou um bastão, atingindo o braço de Harley com uma força brutal. A dor explodiu como fogo em sua pele, mas ele não parou. A dor era seu combustível. Cada golpe, cada machucado o empurrava mais longe, mais rápido. Ele corria como um homem possuído, usando o sofrimento como uma arma.

    Um vergão profundo e inchado começou a se formar onde o bastão o atingira, mas Harley ignorou a dor. Parar agora significaria morte. Cada passo era uma luta contra a exaustão, cada respiração um esforço para se manter vivo. Ele precisava continuar.

    Mas não demorou para que ele percebesse que o grupo estava recuperando terreno. Os gritos de raiva cortavam o ar como lâminas invisíveis. O som de pés esmagando a vegetação atrás dele se tornava cada vez mais próximo. Sua estratégia havia funcionado por um momento, mas o perigo estava longe de acabar. Precisava de um novo plano.

    — Filho da puta! — gritou o mais forte do grupo, sua voz carregada de ódio. — O maldito perdeu o medo da morte!

    — Melhor se render agora, porque vamos te alcançar, e aí as coisas vão piorar! — rosnou outro, os dentes à mostra como um animal faminto.

    — Esse rato não vai escapar! — bradou o líder do grupo, sua fúria crescendo a cada segundo.

    Harley sentia o peso da perseguição. O grupo não estava apenas competindo; eles queriam vingança. Cada passo que ele dava era uma batalha contra o cansaço, cada desvio uma luta para manter a distância que havia conseguido. A floresta ao seu redor parecia se fechar, espinhos surgiam como os dentes de um predador faminto.

    Com sua resistência diminuindo, Harley sabia que não poderia manter aquele ritmo por muito mais tempo. Sua respiração era um esforço pesado, e seus músculos gritavam por alívio. Ele precisava agir rápido. Foi então que avistou uma trilha menor, quase oculta pela vegetação. Sem hesitar, lançou-se pela nova rota.

    O grupo hesitou por um segundo, confuso pela manobra repentina. Esse momento foi tudo o que Harley precisava para aumentar a distância.

    A nova trilha era traiçoeira, repleta de curvas fechadas e subidas íngremes. O terreno irregular ameaçava torcer seus tornozelos a cada passo, mas Harley não reduziu a velocidade. 

    Ele saltava sobre os obstáculos com a precisão de quem havia treinado a vida inteira para aquele momento. Os gritos dos competidores ecoavam atrás dele, mas estavam ficando mais distantes.

    Logo à frente, a trilha descia abruptamente até um riacho que serpenteava pela floresta. O som da água corrente trouxe uma ideia. Ele se lembrou de uma técnica aprendida há muito tempo, para atravessar correntes rápidas. Diminuiu o ritmo, avaliou o fluxo da água e escolheu o ponto certo para cruzar.

    Com um salto calculado, entrou na água e deixou-se ser levado pela corrente por alguns metros antes de agarrar-se a uma rocha escorregadia no meio do riacho. Impulsionando-se para cima, saltou para a margem oposta, aterrissando com um baque suave. Sua estratégia havia funcionado. O grupo ainda estava descendo o declive e lutava para atravessar o riacho.

    Agora com uma vantagem clara, Harley retomou a corrida, sua confiança renovada. Mesmo após tanto tempo longe, o lugar ainda era familiar. Cada trilha, cada obstáculo trazia lembranças dos treinos exaustivos de sua juventude. A vitória estava próxima. Ele só precisava continuar.

    ANEXO:

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