Capítulo 11 - Floresta de Espinhos
“Quando as correntes do destino se apertam, o espírito busca libertação. Fugir das amarras de um passado é o primeiro passo para a verdadeira liberdade.”
— Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.
O eclipse lunar, um presságio misterioso, marcava o final do teste preliminar. O céu escurecia depressa, e a tensão pairava no ar desde o fim da primeira prova — muitos competidores haviam sido eliminados. Agora, o verdadeiro desafio estava prestes a começar.
Entre os sobreviventes, Harley sabia que o tempo não estava a seu favor. De acordo com os registros seculares, os portais de passagem pela névoa se abririam em 12 horas após o eclipse, e era nesse curto intervalo que os competidores deveriam atravessar a Floresta de Espinhos e alcançar os pontos onde surgiriam, antes que a névoa voltasse a se fechar.
A praça central estava em ebulição, e ele sentia cada olhar sobre si enquanto os líderes do Clã Dragões de Sangue observavam de suas plataformas elevadas. O eclipse, que ainda pairava na mente de todos, marcara o fim de uma fase e o início da mais perigosa de todas. Não havia descanso para os candidatos, a prova final começaria imediatamente.
Harley avançou em direção à plataforma onde os outros competidores aguardavam, sentindo o peso de um momento que poderia mudar tudo. Até agora, tudo o que sabia sobre o mundo além dos muros do clã eram sombras, ecos distantes de relatos e escritos.
Nunca lhe foi permitido ver com os próprios olhos o que havia além. Aquilo que conhecia era uma realidade deformada, limitada pela perspectiva dos que governavam.
Como os prisioneiros da caverna, Harley ansiava por se libertar das correntes e enxergar, pela primeira vez, o mundo real — aquele que existia além das fronteiras conhecidas.
Competir na seleção dos Kamikazes era mais do que uma oportunidade; era sua chance de emergir da escuridão e descobrir a grandiosidade que o aguardava do outro lado.
Ele acreditava profundamente que havia algo mais, uma luz brilhante, uma realidade maior que as sombras projetadas pelo clã. Esse era o momento que definiria o rumo de sua vida, a oportunidade de explorar novos horizontes e libertar-se do jugo opressor que o mantinha cativo.
— Bong! — o som do gongo reverberou no ar.
Os competidores dispararam como flechas em direção à Floresta de Espinhos, movidos pela adrenalina que impulsionava suas pernas em uma corrida frenética. Harley, porém, sabia que aquele não era o momento de se deixar levar pela pressa.
Desacelerou, os olhos atentos ao ambiente ao redor. A floresta era traiçoeira, um campo de caça para os imprudentes. Os espinhos afiavam-se como lâminas em cada galho, cada raiz escondida no chão, esperando por um deslize.
Antes mesmo de adentrar completamente a vegetação, o primeiro grito ecoou no ar. Harley viu de relance um competidor sendo arrastado para o lado por uma raiz oculta, seu corpo empalado por espinhos grossos e retorcidos que emergiam das árvores como garras famintas. Sangue respingou no chão, manchando a terra enquanto o jovem tentava, em vão, se soltar.
Outro, mais à frente, tombou bruscamente, seu grito cortando o ar quando uma armadilha oculta o prendeu pelos tornozelos. Foi lançado contra uma parede de espinhos que se fechou ao redor de seu corpo, fincando-se como dentes de aço.
Seu erro havia se tornado uma sentença de dor. A floresta respondia aos movimentos dos imprudentes como se estivesse viva, devorando qualquer um que subestimasse sua crueldade.
O cheiro de sangue misturava-se ao ar pesado e úmido. Seus passos eram calculados, sempre buscando o próximo ponto seguro. A cada movimento, seus olhos varriam o terreno, identificando as sutis mudanças. Notou uma leve ondulação à esquerda — uma armadilha oculta, prestes a abrir um buraco se fosse acionada.
“A pressa é a morte aqui, mas esperar demais é fracassar” — pensou, os músculos tensos de alerta.
Ao lado, um competidor passou veloz, a respiração ofegante. Harley olhou a tempo de vê-lo tropeçar em uma raiz. Espinhos saltaram do chão, retorcidos como serpentes, enlaçando suas pernas. O grito de agonia foi breve, interrompido quando os espinhos apertaram sua garganta. O tempo não parava, e ele sabia que hesitar demais significaria perder sua única chance.
Avançava com o coração disparado, os músculos tensos a cada passo, mas a mente permanecia fria e calculista. A floresta pulsava ao seu redor, como se estivesse viva, as armadilhas esperando para se fechar.
Sentia a presença da floresta, como se o próprio ambiente estivesse observando, estudando seus movimentos, pronto para atacar os imprudentes.
Um estalo seco à frente quebrou seu ritmo. Mal teve tempo de reagir antes de ver um competidor saltar para evitar um galho baixo. O movimento, rápido e quase habilidoso, foi mal calculado. O homem, no auge do salto, foi lançado sobre uma linha de espinhos quase invisível, oculta na penumbra.
O impacto foi brutal. O corpo do competidor foi arremessado com violência. Espinhos, como dentes afiados, rasgaram sua carne. Harley ouviu os gritos de agonia se transformarem em um som oco e gorgolejante, quando os espinhos penetraram fundo, sufocando sua vida. O som de ossos quebrando e carne sendo dilacerada ecoou por um instante no ar.
Sem hesitar, manteve o foco à frente, no caminho traiçoeiro que precisava trilhar. Não havia espaço para distrações. Cada fração de segundo contava, e ele sabia que, mesmo um olhar a mais, poderia custar-lhe a vida.
A floresta parecia se alimentar da pressa dos competidores. Era como se ela conhecesse os corações dos apressados, dos desesperados, e se deliciasse em atraí-los para a morte. A cada passo, se revelava mais mortal, uma predadora que não perdoava hesitações.
Harley, entretanto, não corria contra os outros. Ele sabia que a verdadeira batalha no início da prova não era com os competidores, mas com a própria floresta: o terreno traiçoeiro, as armadilhas ocultas e a força implacável que varria da competição qualquer um despreparado.
O Clã Dragões de Sangue havia projetado a Floresta de Espinhos para ser mais do que uma simples barreira; era uma arma mortal, criada para esmagar os fracos. Ele não se permitiria ser uma de suas vítimas.
Sabia que o tempo era o inimigo mais implacável. Que a cada segundo aumentava a pressão. Seu coração batia forte, um lembrete de que precisava avançar com precisão, sem hesitar, ou seria destruído.
Seguiu com os sentidos em alerta máximo, os olhos atentos, cada fibra do corpo pronta para reagir.
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