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    “No abismo da queda, encontra-se a ascensão do espírito. É na escuridão que a verdadeira luz interior se revela.”

    Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.


    Harley encarou o portal, diferente dos outros, este não se fechava. Sentiu a pressão da dimensão etérea como uma mão invisível, tentando puxá-lo para seu interior sombrio. O espaço ao seu redor parecia ganhar vida, sugando sua energia vital, como se quisesse aprisioná-lo naquele reino de sombras. 

    A ideia de desaparecer lentamente, como uma vela cujo pavio se apaga sem cerimônia, tomou conta de sua mente. Talvez aquele fosse seu verdadeiro fim — um destino de esquecimento, onde sua existência se transformaria em um eco distante, desbotado como as lembranças de uma alma condenada.

    Mas Harley, com os dentes cerrados, não estava disposto a aceitar tal destino. Não podia. Sua alma ainda queimava com a vontade de lutar, de resistir àquele vazio. 

    A adaga em sua mão brilhou intensamente, e ele sentiu um calor percorrer seu corpo, como se a arma tivesse vida própria. Era como se ela compreendesse sua determinação renovada, alimentando-se de sua força interior.

    — Não! — gritou, sua voz ecoando como um trovão pela vastidão do Abismo.

    Foi a primeira vez que sua voz soou poderosa desde o início da queda. Aquelas palavras não eram apenas uma negação ao destino que o aguardava, mas uma afirmação de sua própria existência.

    — Minha jornada não termina aqui! — Aquelas palavras incendiaram sua vontade de sobreviver.

    A luz da adaga explodiu em um brilho cegante, cortando a escuridão e afastando as figuras inertes, sombras vazias que o atormentavam. 

    O portal à sua frente começou a se fechar enquanto a névoa prateada se dissipava, levando com ela as visões distorcidas e melancólicas das almas perdidas. A tentação de sucumbir àquele lugar desapareceu, como se o ambiente reconhecesse que não podia mais controlá-lo.

    Harley suspirou profundamente, sentindo o alívio de um peso invisível, quase pior que a morte. Aquele mundo fantasmagórico, com suas sombras sem vida, o perturbava profundamente. 

    Não era o medo da escuridão que o atormentava, nem da morte, mas a ideia de estar preso a uma existência vazia, sem ação, sem significado. Apenas… observando o vazio.

    Agora, livre das visões perturbadoras que quase o aprisionaram, Harley finalmente pôde focar no que estava adiante. 

    A queda continuava, e a escuridão ao seu redor parecia mais viva a cada segundo. Era como se o próprio Abismo estivesse pulsando com energia, observando seus movimentos, testando sua sanidade. 

    Harley sentia o ar cada vez mais pesado, sugando sua vitalidade, enquanto o vazio à sua volta parecia zombar dele, esperando por um erro. A adaga, flutuando a sua volta, era o único ponto de luz naquele mar de trevas. Seu brilho azul era uma promessa.

    “Mas uma promessa de quê? Salvação? Morte?” — o jovem Ginsu não sabia.

    Será que a adaga pode me salvar?’ — Harley se perguntava enquanto observava os portais surgirem à sua volta, sempre à esquerda ou à direita, longe de sua trajetória de queda. 

    A lâmina flutuava ao redor, brilhando intensamente, e ele sabia que sua única chance era que ela abrisse um portal diretamente abaixo de si. Mas e se falhasse? A dúvida começava a crescer, mas Harley se recusava a desistir. 

    Sentia que, de alguma forma, a lâmina tinha o poder necessário. A queda parecia interminável, mas sua determinação não esmoreceria.

    A adaga continuava a brilhar, abrindo portais ao redor de Harley como faíscas de luz que passavam por ele. Eram tão próximos, tão tangíveis, mas ele não conseguia alcançá-los. A queda o puxava inexoravelmente para baixo, e cada portal que surgia era uma saída que deslizava para longe. 

    “O que posso fazer?” — O desespero o consumia, enquanto a escuridão ao redor parecia se fechar mais e mais. 

    “Será que haveria um fim? Ou o Abismo apagaria sua existência como se nunca tivesse sido?”

    A lâmina, reluzente como nunca, flutuava a sua volta, cada vez mais próxima. Era como se ela estivesse viva, observando-o, testando sua determinação. Harley não a segurava ainda, mas sentia sua presença. 

    Ele sabia que, se a pegasse, poderia mudar o curso de sua jornada. A simples ideia de tê-la em mãos o enchia de uma esperança que não sentia há muito tempo. Se ele tivesse a adaga, poderia forjar sua própria saída, moldar seu destino com suas próprias mãos.

    E então, uma memória antiga veio à tona, quase como um sussurro perdido no tempo. A lembrança de seu pai, uma figura imponente em sua vida, que o levou para um lugar escondido, cheio de mistérios. Harley era apenas uma criança, mas aquele dia nunca deixou sua mente. 

    Eles atravessaram um portal azul, semelhante aos que ele via agora, e chegaram a uma câmara antiga, onde sete altares estavam dispostos em círculo, cada um guardando uma adaga de poder inimaginável.

    Harley lembrava-se vividamente da sensação que teve naquele dia. Entre todas as adagas, foi a adaga negra, à esquerda, que chamou sua atenção. Ele se sentiu imediatamente atraído por ela, como se já houvesse uma conexão entre os dois. Seu pai percebeu sua hesitação e o observou com atenção.

    — Você sente isso, Harley? — perguntou seu pai, sua voz firme, mas cheia de expectativa.

    Harley assentiu. Ele sentia. Havia algo naquela lâmina que o chamava, como se ela estivesse viva, esperando por ele. Mas ele era apenas uma criança, e seu pai o impediu de tocá-la.

    — Essa adaga é sua, filho — disse seu pai, como se já soubesse o que o futuro reservava. 

    Aquelas palavras nunca saíram da mente de Harley. Ele saiu daquela câmara com uma sensação de perda, como se uma parte de si tivesse ficado para trás. “Como algo poderia ser meu, se eu não podia levá-lo comigo?” — ele se perguntava. 

    E agora, caindo pelo Abismo, ele finalmente entendia. A adaga que flutuava ao seu redor era a mesma que ele viu naquela câmara antiga. O destino que seu pai mencionara estava se cumprindo ali, diante de seus olhos.

    A lâmina cortava a escuridão, abrindo novos portais a cada instante, mas Harley sabia que não poderia atravessar qualquer um deles. 

    A escuridão ao redor de Harley parecia sufocar seus pensamentos. A sensação de ser observado, o pressionava. Ele sabia que a adaga era a chave. Mas não estava em suas mãos. Ainda não.

    “Ela é sua.” — as palavras de seu pai ecoaram em sua mente. 

    Harley olhou para a adaga, e, pela primeira vez desde que a viu, ele sentiu uma confiança renovada. A lâmina brilhava intensamente, quase ofuscante, enquanto flutuava diante dele. 

    Ela não era apenas uma arma. Era um elo com o destino. A força que ele sentira quando criança agora fazia sentido. A adaga o havia esperado todo esse tempo, e agora, ela o guiaria para fora daquele pesadelo.

    Harley não tinha como saber o que o aguardava no fim da queda: seria o Abismo que o engoliria ou uma nova realidade o esperava? Mas uma coisa era certa — com a adaga ao seu lado, ele poderia cortar as amarras que o prendiam e esculpir seu próprio destino. 

    Agora, tudo dependia de um único movimento. Ele estava pronto. Precisava pegar a adaga.

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