Capítulo 33 - Encenação
“A vida é uma série de encenações onde o verdadeiro eu muitas vezes se esconde atrás de máscaras. Somente os olhos atentos conseguem ver além das aparências.”
— O livro da VERDADE, de Pavel Vaselinna, página 94.754.338.
E finalmente, após uma jornada que parecia ter sido prolongada pela necessidade de cuidados especiais e pela imponente caminhada de Anastasia, eles chegaram ao cinema.
A construção majestosa se destacava na parte externa da muralha, iluminada por holofotes que lançavam raios de luz no céu noturno. No entanto, o cinema não era apenas uma estrutura grandiosa, mas também um símbolo da divisão entre os cidadãos que viviam dentro da muralha e aqueles que estavam do lado de fora.
O cinema consistia em duas partes distintas: uma área interna luxuosa destinada aos privilegiados que moravam dentro da muralha, e uma pequena tela montada do lado de fora, direcionada para a maioria da população que vivia do lado de fora da muralha. Era uma representação vívida da disparidade de classes na cidade, e o jovem não podia deixar de sentir a ironia de tal divisão enquanto se aproximavam do local.
Ao chegarem à entrada do cinema, Anastasia, que estava vendada, começou a caminhar na direção da parede em vez do portão de entrada. Harley, percebendo o equívoco, segurou suavemente sua mão, indicando a direção correta.
Eles pararam na entrada do cinema, e a princesa, com entusiasmo evidente apesar de sua venda nos olhos, começou a falar empolgadamente sobre o filme que iriam assistir. Harley, por outro lado, estava um tanto perplexo, já que era sua primeira experiência com cinema.
Ele observou a princesa com uma curiosidade palpável, sentindo-se como um novato prestes a explorar um novo mundo.
— Estou ansiosa para ver de novo ‘Explorador Marcial Jones e o Chamado do Destino’ — Anastasia exclamou, seus olhos brilhando com entusiasmo.
— E de que trata essa história? — o jovem perguntou, seu interesse crescendo.
A princesa se inclinou um pouco mais para Harley, como se compartilhasse um segredo cômico.
— É a história de um turista profissional, aquele tipo de aventureiro que adora se meter em encrenca enquanto explora lugares remotos em busca de artefatos antigos. Ele é como aquele tio desajeitado que está sempre criando confusão e insiste em confiar na memória em vez de usar mapas e guias.
Harley não pôde deixar de sorrir com a descrição de Anastasia.
— Um aventureiro desastrado, parece emocionante.
Ela não conseguiu conter uma risada divertida, segurando o braço de Harley com carinho.
— E eu só fico pensando… — a garota começou, apertando mais forte o braço do jovem, enquanto seus olhos permaneciam ocultos atrás do véu, deixando um toque de mistério no ar.
— Será que ele, ao invés de procurar relíquias cheias de pistas e desafios, já tentou conquistar algo verdadeiramente desafiador, como entender a mente de uma mulher? Ficar mais próximo da dama que carrega o peso da liderança de um clã inteiro nas costas? Ou, quem sabe, conquistar o coração da mulher mais bonita do universo? — sua voz transbordava com um senso de humor que fez Harley rir, embora seu rosto tenha corado ligeiramente, revelando um toque de constrangimento.
— Harley!? — continuou a princesa, sua voz ganhando um tom sedutor — A coisa mais divertida é que ele adora se meter em encrencas. Seja beijando damas desprotegidas como eu; raptando garotas estonteantes como eu; pedindo minha mão em casamento a meu pai ou desafiando a multidão de pretendentes que esperam ansiosos por um vislumbre do meu olhar.
Uma tosse súbita de um dos guarda-costas interrompeu a conversa. Anastasia se voltou, expressando desaprovação, enquanto o guarda-costas falava:
— Princesa, acho que Harley está sentindo dor com seus apertos.
A garota não escondeu seu desdém e continuou, com um sorriso travesso:
— Por que os homens têm que ser tão frágeis? Sempre reclamam dos meus apertos e puxões, e frequentemente fogem do que é bom. Harley, eu sei que você não é assim, e você compreende que é digno de algo extraordinário como eu.
De maneira inesperada, uma rajada de vento atingiu o véu de Anastasia, desvelando seu rosto diante do mundo. As expectativas de Harley eram altas, esperando contemplar a beleza que a princesa tanto gostava de ostentar.
Porém, o que se apresentou diante de seus olhos foi uma revelação chocante e desconcertante. Mesmo na breve visão que teve, Harley não pôde evitar uma expressão de surpresa, com os olhos arregalados e a boca escancarada em espanto.
O grito de da princesa, por sua vez, quebrou o silêncio, fazendo com que o jovem retomasse seus sentidos após o susto inicial. Em um piscar de olhos, os guarda-costas se transformaram em uma equipe de resposta imediata, prontos para qualquer ameaça. Foi então que um deles exclamou:
— Princesa, estamos sob ataque! A guerra é iminente!
A urgência da situação era evidente, e um dos guarda-costas se dirigiu ao jovem com determinação:
— Harley, aprecio que a princesa seja de uma beleza deslumbrante, mas agora não é hora de se estar encantado, mas é hora de cumprir suas funções.
Sem dar tempo para qualquer reação, os guarda-costas cercaram Anastasia, formando uma barreira protetora ao seu redor. Outro deles, com determinação nos olhos, dirigiu-se a Harley:
— Rápido, a princesa não está segura aqui. A guerra é iminente!
As palavras foram ditas com tanta urgência que o jovem nem teve tempo de pensar. Os guarda-costas, como uma unidade bem treinada, fizeram uma movimentação coordenada para retirar a garota do local. Foi tudo tão rápido que Harley não teve escolha senão olhar boquiaberto enquanto via a princesa, junto com os guarda-costas, ser levada de volta à segurança da muralha.
O movimento das pessoas que estavam escondidas, agora em pânico, chamou a atenção de todos. O que antes parecia uma área deserta transformou-se em um caos de cidadãos em fuga, desesperados para encontrar refúgio dentro das muralhas. As notícias sobre uma suposta guerra se espalharam rapidamente, e a população estava se dirigindo freneticamente para o interior em busca de segurança.
No entanto, por trás da aparente urgência da situação, os guarda-costas encenavam um teatro elaborado. Sua ação tinha o propósito de proteger Anastasia da ilusão de perfeição que prevalecia no interior das muralhas.
Harley, naquele momento, começou a vislumbrar as complexas contradições desse clã, com suas teias de mentiras, mistérios e segredos entrelaçados. Enquanto seguia o grupo de guarda-costas e a princesa de volta para dentro das muralhas, não pôde evitar a curiosidade sobre quais outras surpresas, encenações e descobertas inusitadas aguardavam por ele naquele mundo tão intrigante.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.